Voando para o novo.

1404 Palavras
Ana Por mais que a felicidade estivesse vívida em mim pelo regresso do meu pai, não consigo assimilar suas últimas palavras. _ Nós vamos nos mudar!- paralisei depois de soltar-me do seu abraço de urso. _ Como? Quando? - os olhos da dona Nora brilharam, fazia tempo que ela vinha brigando com meu pai para alugar-mos um apartamento maior. Só que nossas condições não nos permite; meu pai não ganha muito e minha mãe menos ainda. Residimos num bairro do Rio de Janeiro cuja os aluguéis são bem caros e a vida nada barata. Somos de Campo Grande, localizado na Zona Oeste que fica a 55km de distância da cidade do Rio. _ Melhor, querida! Nós vamos nos mudar de país!- somente meu pai sorria exibindo a felicidade extrema; minha mãe e eu trocamos um olhar de pura incredulidade. _ Ãh?- dona Nora exprimiu e eu não conseguia raciocinar nada; minha mente ficou em branco feito as paredes do nosso pequeno apartamento. _ Vamos nos sentar para conversar. Recebi uma proposta que..... Ah, querida, se você soubesse...- meu pai foi andando na direção do estofado e nós duas seguimos atrás, feito dois robôs que se moviam pela força impelida pelo momento. Estavamos amortecidas pela notícia. Nós três sentamos, eu de olhos vidrados no senhor de cabelos grisalhos e olhos verdes. Minha mãe não agiu de forma diferente. Estavamos de olhar vidrado em sua imagem. _ Conta isso direito, homem! Mudar de país?! Que loucura é essa?!- dona Nora indagou com uma ruga bem aparente no meio da testa. _ Surgiu alguém que quer investir na minha pesquisa. Se mostrou bem interessado! Pensa, vou ganhar cinco vezes mais do que ganho aqui e em euro! Nem é na moeda nacional o Leu Romeno! - a minha ficha foi caindo devagar e o desepero dando lugar a felicidade de ver meu pai chegar bem em casa; eu teria que deixar tudo e todos para trás, inclusive o Pedro. Meu coração apertou. _ Mas o senhor não pode aceitar! Pensa, pai, estaremos indo para terras desconhecidas! Viver com pessoas que não temos a menor afinidade! Eu nem sei falar romeno, irei ficar excluída! Não quero ir!- droga, logo agora que eu tinha conseguido conquistar a atenção do garoto que foi o mais popular na época do nosso ensino médio. _ Já aceitei, Ana. Assinei um contrato me comprometendo e tudo. A multa é alta pela quebra. Se vocês não quiseram ir, tudo bem, podem ficar aqui no Brasil, mas eu tenho que cumprir com o combinado.- dona Nora ergueu-se levando as mãos à cabeça. _ Você é doido, Miguel ?! Tomar uma decisão que implica à todos nós! Eu tenho os meus alunos, estamos no início do ano letivo! Ana está perto de iniciar as aulas na faculdade de artes! E você chega com esse novo elemento que mexe com tudo! Somos uma família e pelo que sei, famílias tomam uma decisão depois de conversarem e entrarem num comum acordo!- minha mãe se exautou; meu pai acompanhava o destempero da sua esposa que em questão estava mais do que certa. _ Não estou impondo nada para vocês duas, apenas não posso perder a única oportunidade que me surgiu. Vocês não sabem o quanto sonhei com isso, ter os olhos de alguém dando crédito e valor aos meus esforços. Desculpe-me, mas não posso perder essa oportunidade, pode ser a primeira e última que tenho nessa vida! - respirei aborrecida, porque eu como ser humano e filha, era perfeitamente cabível entender o que ele sentia e sente como profissional. Porém, como uma garota de dezoito anos que tem um círculo de amigos e muitos planos, que de forma alguma inclui sair do Brasil, me sinto sendo boicotada. _ Como faremos agora? - Dona Nora caminhou em direção a janela com o semblante fechado. Meu pai que tinha os olhos baixos e fitava as pontas dos seus sapatos de cor marrom. Soltou um suspiro pesado. _ Fiquem às duas. Eu irei sozinho. Tenho uma semana para arrumar tudo, organizar a minha mudança. Quero sair sem fechar nenhuma porta.- o senhor Miguel ergueu-se convicto. Um nó formou-se em minha garganta, por mais que eu não queira ir para a terra dos vampiros, também não quero que a distância de 16412 km me separe do meu pai. Pensei que se acontecer alguma coisa com ele, sozinho em terras desconhecidas, eu nunca irei me perdoar por não estar ao seu lado. _ Eu vou, pai. - a minha decisão saiu entre muitas lágrimas. Deixei todos sozinhos na sala e me tranquei no quarto. Chorei muito abraçada ao meu travesseiro; de tudo que eu iria abrir mão o que mais me doia era deixar o Pedro. Isso foi há uma semana atrás. Olho para o meu grupo de amigas que vieram se despedir de mim no aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. Nós cinco somos só pranto e lamento; como não seria? Estamos juntas desde o fundamental! _ Vamos pensar positivo, meninas, vai que parece um imortal bonitão igual aos dos filmes e conquista o coração da Ana. - a brincadeira não funcionou porque vi ao longe Pedro surgir no meio dos transeuntes. Disparei ao seu encontro, deixando todas as minhas amigas sem entender o que estava acontecendo. Me joguei no colo do garoto que tinha ganhando o meu primeiro beijo; meu coração e que agora, eu, estou sendo obrigada a abrir mão dele. Como a vida é c***l. _ Não vai, Ana, fica. Podemos nos casar, eu assumo você; cuido de nós dois.- como eu queria dizer um sim enorme, contudo isso seria uma loucura maior do que ir para um país diferente. Somos jovens demais e não temos nem como nos manter sozinhos; como fariamos casados? _ Me desculpa, Pedro!- minha resposta foi curta. Choramos os dois abraçados por ter de abortar um relacionamento que estava nascendo. Solto-me dos braços do menino de cabelos cacheados; ganho um beijo emocionado. Um beijo que encerra o fim do que estava começando. _ Nunca vou te esquecer, Ana!- eu também jamais iria esquecê-lo porque o Pedro é dessas pessoas que passam na nossa vida marcando.E o rapaz marcou, e muito. Ganho outro abraço mais apertado. _ Também, não irei te esquecer!- nos soltamos quando a última chamada para o embarque é feita. Meu vôo me aguarda, assim como meu pai e minha mãe que destinam um olhar de " eu sinto muito" em minha direção . _ Adeus, Pedro. _ Adeus,Ana. Deixo o menino que balançou com todas as minhas estruturas para abraçar cada uma das minhas amigas e depois sigo com meus pais. Olho até o último minuto para os que ficavam. Como a despedida doi; não é facil fazer um reset e dar início a algo novo, mesmo que se trate de uma nova vida. O medo vem junto com tantas outras coisas, incluindo a saudade que você sabe que vai chegar e te abraçar como um polvo. Eu quero soluçar com o tanto de pesar que tenho dentro de mim, mas não o faço porque isso faria os demais passageiros olharem para mim. Dentro da aeronave, sentamos nas potronas que o nosso cartão de embarque indica. A sensação de estar deixando sua terra natal para trás é r**m, em suma, desolador, visto que isso não estava em meus planos para o futuro. _ Não fique triste, filha. Logo você vai fazer amigos novos e quem sabe não cosnquiste algum coração romeno, hein? - minha mãe tenta me acalentar, mas nós duas estamos no mesmo barco : não sabemos o que nos espera. _ Não sei falar Romeno, mãe, vai ser um desastre.- respiro pausadamente montando vários cenários na minha cabeça; em nenhum deles eu me dou bem. _ Nem eu, Ana, vamos usar o nosso Inglês e seja o que Deus quiser. - dona Nora fez o sinal da Cruz. Não demora muito para o avião decolar e definitivamente uma nova jorna se iniciar para a família Arruda. Olho para o meu pai que está sentado na outra fileira, ocupando a poltrona que fica na beira do corredor. O senhor Miguel parece tenso, sua testa está franzida. Ele também tem os seus receios e isso é normal, antes de ser um biomédico cheio de planos, ele é apenas um ser humano que teme estar errando com família; errando em suas escolhas. Mas o que será do nosso futuro isso só Deus sabe.
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