Vicente estava sentado em sua imponente mesa de mogno, no luxuoso escritório do Grupo Falcão, quando Sávio entrou, carregando uma pasta preta em mãos. Ele fechou a porta com cuidado, jogando um olhar rápido ao redor, como se quisesse garantir que ninguém os ouvisse.
— Aqui está tudo o que você precisa. — Sávio colocou a pasta sobre a mesa.
Vicente pegou a pasta com calma, mas havia uma faísca de curiosidade em seus olhos. Ele abriu, revelando um relatório detalhado sobre Olívia Costa.
— Fiz uma pesquisa completa. — Sávio sentou-se na cadeira à frente da mesa. — Olívia tem 25 anos, formada em Administração. Foi criada em uma boa família, mas os negócios dos pais entraram em declínio nos últimos cinco anos. Eles acumulam dívidas consideráveis e, pelo que descobri, a empresa está à beira da falência.
Vicente folheava as páginas enquanto ouvia. Haviam fotos anexadas ao relatório. Uma delas mostrava Olívia em um evento corporativo, usando um vestido preto clássico, o cabelo preso de forma impecável. Mesmo na foto, sua elegância era evidente.
— Ela é bonita. — Vicente comentou, sem tirar os olhos da foto.
Sávio sorriu, inclinando-se para trás na cadeira.
— Bonita e inteligente. Ela tem se esforçado para salvar o negócio da família, mas a situação é crítica. E, como se não bastasse, os pais dela não ajudam. O pai é acomodado, e a mãe gasta mais do que podem pagar.
— Ela está sobrecarregada. — Vicente observou, passando os dedos sobre a foto.
— Exatamente. E isso a torna... receptiva. — Sávio o olhou com atenção. — Ela precisa de ajuda, Vicente. E você pode oferecer isso.
Vicente fechou a pasta, apoiando os cotovelos na mesa. Ele ficou em silêncio por alguns segundos, absorvendo as informações.
— Parece que tudo está a meu favor. — Ele finalmente disse, com um leve sorriso.
— Talvez, mas isso não significa que será fácil. — Sávio cruzou os braços. — Você precisa abordar isso com cuidado. Ela não vai aceitar algo assim de imediato.
— Eu sei. — Vicente levantou-se, caminhando até a janela de vidro que oferecia uma vista panorâmica da cidade. Ele observou os prédios abaixo, o olhar distante. — Mas, no final, ela aceitará. Ela não tem outra escolha.
Sávio ficou em silêncio, sabendo que, quando Vicente Falcão colocava algo na cabeça, ele raramente falhava.
Vicente virou-se, encarando Sávio.
— Quero que agende uma reunião com ela. Não diga quem sou, apenas marque como um possível investidor interessado. Quero conhecê-la pessoalmente antes de fazer minha proposta.
Sávio assentiu.
— Como quiser.
Enquanto o amigo saía, Vicente voltou a olhar pela janela, um leve sorriso se formando em seus lábios. Ele havia encontrado sua futura esposa. Agora, só precisava fazer Olívia acreditar que esse casamento seria sua salvação.
Olívia chegou em casa com os ombros tensos e a mente exausta. O dia fora longo e improdutivo. O gerente do banco recusara seu pedido de empréstimo com a frieza de quem não enxerga um rosto por trás dos números. "Sem garantias, não há crédito", ele dissera, como se fosse uma sentença irrevogável.
Enquanto ela subia a pequena colina que levava à entrada da casa, algo incomum chamou sua atenção: um carro novo, estacionado no jardim. Brilhante, com pintura impecável, destoava da fachada envelhecida da casa.
— O que é isso? — murmurou, franzindo o cenho.
Ao entrar, encontrou seus pais na sala de estar, junto com seu irmão, Leonardo, e sua cunhada, Patrícia. Todos conversavam animadamente, como se não houvesse um mar de dívidas os engolindo lentamente.
— Olívia! — Leonardo levantou-se ao vê-la. — Finalmente chegou.
Ela largou a bolsa sobre uma cadeira e cruzou os braços, tentando ignorar a alegria desconcertante nos rostos deles.
— De quem é aquele carro lá fora?
O silêncio que se seguiu foi suficiente para ela entender. Patrícia sorriu, ajeitando o cabelo.
— É nosso! Lindo, não é?
Olívia piscou, tentando absorver a informação.
— Vocês compraram um carro?
Leonardo deu de ombros, como se fosse algo trivial.
— Sim. Fazia tempo que queríamos um modelo novo, e encontramos uma oferta imperdível.
— Uma oferta imperdível? — repetiu, a voz subindo. — Vocês têm ideia da situação em que estamos?
— Olívia... — começou sua mãe, mas ela a interrompeu.
— Não, mãe! Isso é um absurdo! Eu passo o dia inteiro tentando salvar essa empresa, enquanto vocês continuam gastando como se dinheiro nascesse em árvores!
— Ei, calma aí! — Leonardo rebateu, o tom defensivo. — Você não pode culpar a gente por querer viver um pouco. E, além disso, quem é você para nos julgar?
— Julgar? — Ela riu sem humor. — Você não tem ideia do que estou enfrentando, Leonardo. Não sou eu quem está colocando essa casa em risco, é você, com suas decisões irresponsáveis.
— Não começa, Olívia — retrucou Patrícia, com desdém. — Você só sabe reclamar.
— Reclamar? — Olívia virou-se para a cunhada, os olhos faiscando. — Enquanto vocês desfilam de carro novo, eu estou no banco implorando por um empréstimo! Se continuarem assim, não haverá casa, carro ou empresa para ninguém!
O pai de Olívia, sentado no canto, finalmente resolveu intervir.
— Já chega, Olívia. Não precisamos de mais gritaria.
Ela olhou para ele, incrédula.
— Pai, você percebe o que está acontecendo? Se continuarmos assim, vamos perder tudo! E você me pede calma?
— Olívia... — Sua mãe tentou mais uma vez, mas ela levantou a mão, pedindo silêncio.
— Não dá mais, mãe. Vocês precisam entender que essa situação é séria. Não há mais espaço para luxos, nem para atitudes egoístas.
Ela saiu da sala sem esperar resposta, subindo as escadas com passos firmes. Fechou a porta do quarto com força e deixou-se cair na cama, sentindo o peso das emoções em seu peito.
Olívia fitou o teto, as lágrimas queimando seus olhos. A situação parecia um buraco sem fundo, e ela era a única tentando encontrar uma saída. O som abafado de risadas vindo do andar de baixo só reforçou a sensação de que estava sozinha nessa batalha.
Ela sabia que precisava de ajuda, mas, pela primeira vez, começou a se perguntar: até onde estaria disposta a ir para salvar sua família?