Melissa Charlie
Viro - me para o outro lado, puxando o cobertor mais para cima de mim. Relaxada, tomo consciência que não estava com um cobertor, fazendo todos os meus sentidos ficarem em alerta. Abro meus olhos com dificuldade, dou de cara com uma parede preta, um pouco a cima de onde meu rosto estava, havia um pôster escrito: ”poem is the calm of the soul — poema é a calmaria da alma".
Sento-me na cama, passando a mão em meus cabelos, enquanto meus olhos vagam pelo quarto. Parecia ser um dos quartos da faculdade, as paredes eram cinzas, com exceção da preta perto de mim. O quarto estava iluminado apenas por algumas pequenas luminárias de cor quente, deixando o ambiente bem melancólico. Também havia uma escrivaninha com vários papéis espalhados em cima, no chão perto dela tinham algumas bolas de papel.
Logo ao lado, vejo um teclado com uma melodia estendida ali. No meio do quarto tinha dois pesos de braço médios, algumas roupas jogadas pelo chão com três tênis. O quarto pertencia a um garoto que parecia ser um badboy bem diferente dos outros.
Escuto um barulho atrás de uma porta, meu coração acelera quando a maçaneta vira, me fazendo surpreender com quem estava saindo. Não era nada mais, nada menos que meu vizinho que não fala.
Adam Andrews!
Ele estava com uma toalha na mão, seus cabelos pingavam. Estava com seu peito descoberto, me dando um ‘show’ de seu abdômen definido e seu peitoral forte, usando apenas um moletom meio caído cinza, com os pés descalços. Adam balança sua cabeça de um lado para o outro, fazendo a água de seus cabelos voarem pelo quarto, até que era uma cena fofa de se ver.
Finalmente ele nota que acordei, me observa por um tempo e faz um, brevê aceno com a cabeça.
— Obrigada por... me trazer. — Falo tentando ser gentil.
Ele acena novamente com a cabeça, vai até um frigobar que tinha no canto do quarto, pega duas latas de refrigerante. Caminha até mim e me estende uma, dou um sorriso de agradecimento e pego o refri.
Adam se senta em uma pequena poltrona perto da cama, abre a lata e toma um gole.
Olho para a cama e vejo os lençóis molhados, esqueci completamente que minhas roupas haviam molhado.
— Ai meu Deus! Eu acabei molhando sua cama, eu limpo ok? Não se preocupe! — Falo fazendo menção de levantar.
Ele estende sua mão em forma de pare, o que me faz entender ser para continuar na cama sem problemas de molhá-la. Abro o refri e tomo um gole. O silêncio que reinava era muito constrangedor —Ele não poderia falar um pouco?
— Não sabia que a Universidade tinha toque de recolher? —Ele finalmente pergunta algo.
Sua voz era rouca, mais suave. Ele olhava para o nada quando fez a pergunta.
—Bom, fiquei sabendo agora que me falou. —Falo tentando um tom humorístico.
— A partir das 20h. —Fala ele.
— Estou trabalhando esse horário. Mais que d***a! — reclamo baixo.
Ele me olha brevemente e depois desvia, tomando mais um gole do seu refri. Mordo os lábios, não deixe o clima passar, puxe assunto!
— Pensei que você era mudo. —Me arrependo na mesma hora.
Eu poderia falar qualquer coisa, mais falo justo sobre isso. O bom foi que isso o fez erguer seus olhos em minha direção com uma sobrancelha levantada.
— Por que acha isso? — Perguntou.
— Bom, você nunca falou comigo quando falei com você e você nunca respondeu minhas perguntas. Por exemplo aquele dia na biblioteca.— Falo.
Ele solta um suspiro cansado.
— Estava concentrado em uma coisa. Mais depois eu respondi você. Escrevi-te meu nome —Se justifica.
Aceno com a cabeça e me levanto da cama. Ando até a escrivaninha, olho os papéis jogados ali, mais um me chama atenção.
— Você escreve poemas? — Pergunto pegando um.
Ele se levanta na mesma hora.
— Ok! Sem ser uma curiosa de primeira, me da isso. — Pede estendendo a mão.
— Por que não posso ler? — Pergunto mostrando a folha a ele.
— Nunca compartilhei isso com ninguém! Me dá, Melissa. — Pede.
— Você não fala, mais fico feliz que me escuta. — Falo.
— Melissa, me da Isso! —Fala e se aproxima.
Quando chega mais perto de mim, coloco a mão que segurava o poema atrás das minhas costas e com a outra, coloco no seu peito tentando afastá-lo. Sua pele era quente, queimava minha mão em contato com a mesma, o que faz subir um leve frio na barriga.
Adam me olha do mesmo jeito que me olha nas aulas, seus olhos mostravam o que sentia, mais não conseguia definir o que era. Acabo percebendo uma tatuagem em seu ombro esquerdo "MMXVIII — 2018".
Os números romanos estavam bem destacados em seu braço, mais parecia uma tatuagem nem tão velha, mais nem tão nova.
— Melissa! — Ele me chama quase em um sussurro.
Olho para cima, já que ele era uns nove centímetros, maior que eu. Desde que bati meus olhos nesse mundo verde que ele tem, me instiguei a saber que categoria de emoções eles carregavam. Dor? Esperança? Medo? Inseguranças? Realmente não consigo definir!
—Me dá esse poema. Eu lhe dou outro pra ver. — Pede.
— Por que não posso ler esse? —Pergunto curiosa.
Uma coisa minha que uns falam ser qualidade e outros defeitos. Sou curiosa demais.
— Por favor! —Pede.
Entrego a folha a ele. O mesmo se afasta na mesma hora, fazendo parecer que uma brisa gelada passou pelo meu corpo, me fazendo estremecer de frio.
— Deve ir para seu quarto. Tome um banho e se vista com roupas quentes, tente ficar o mais quente possível. Já ficou em contato com muita chuva. —Fala ele.
— Primeiro o poema! — Insisto.
Ele me olha por uns segundos, em sua derrota, vai até à escrivaninha, pega uma folha. Adam me entrega, depois me leva até sua porta.
— Fique com este para você. Agora vá e tome um banho.
— Boa noite Adam. — Falo me dando por vencida.
Ele apenas acena, dando sua aparência de garoto mudo novamente. Saio do seu quarto, rapidamente destranco o meu e entro. Deixo o poema na escrivaninha, tomo um banho bem quente e relaxante, em seguida, coloco um pijama de manga longa do urso panda.
Pego o poema e vou até a minha cama. Ajeito-me de baixo dos cobertores, pego meus dois ursos de pelúcia e os coloco do meu lado.
Após estar tudo organizada, abro o poema e começo a ler.
Poema: Tocar para você
Hoje tocarei para você
Uma música que faça sua mente vagar
Que faça seu coração sorrir
Que faça seus olhos adormerecem
Nesta noite, tocarei para você
Fazê-la se encantar pelos meus dedos dançando em meu teclado
Fazê-la amar cada melodia a ser soada.
Hoje tocarei para você
Ao brilho da lua e das estrelas
Como se fossemos nós
Eu serei sua lua e você seria minhas estrelas
Então, nesta noite, irei tocar para você
Uma melodia que faça seu coração sorrir
E seus olhos adormecerem
Levando-a levemente ao paraíso dos sonhos
(Feito por: Ana Elisa)
Assim que término de ler, o som do teclado de Adam é soado. Ele era bom nas palavras assim como era bom em tocar seu piano. Coloco o poema no meu criado mudo, me deito e olho para o nada, ao som de seu teclado, meu sono vai tomando conta de mim. Levanto-me ao meu paraíso dos sonhos.