bc

Entre o Desejo e o Dever

book_age18+
91
SEGUIR
1K
LER
Sombrio
diferença etária
os opostos se atraem
casamento arranjado
máfia
inimigos para amantes
like
intro-logo
Sinopse

Beca, filha de um dos chefes mais temidos da máfia, perde o pai e se vê forçada a se casar com Marco — o melhor amigo dele, um homem mais velho, perigoso e completamente proibido. O que começa como uma aliança de proteção se transforma em algo mais sombrio: uma obsessão mútua. Enquanto ela luta por poder, Marco perde o controle da única coisa que nunca deveria desejar… ela.

chap-preview
Pré-visualização gratuita
Capítulo 1
Rebecca Afasto-me da tela, inclinando a cabeça para estudar a interação entre sombra e luz. O sol do fim da tarde atravessa as altas janelas industriais do estúdio de arte da Columbia, refletindo nas manchas de tinta em minhas mãos e transformando-as em constelações contra a pele. Minha tese de exposição finalmente começa a ganhar voz — uma interpretação melancólica do horizonte de Nova York que, segundo o Professor Matias, é promissora, mas ainda carece de algo essencial: Mais emoção. Mais verdade crua sob a superfície. Cavaletes respingados de tinta preenchem o espaço ao meu redor, com suas molduras de madeira desgastadas por gerações de aspirantes a artistas. O aroma de óleo de linhaça e terebintina paira pesado no ar, misturando-se ao cheiro terroso de argila que vem do estúdio de escultura ao lado. Esse é meu santuário. O único lugar onde posso realmente ser eu mesma — ou, pelo menos, quem eu finjo ser. Observo a tela com atenção redobrada. O horizonte emerge de um fundo em azuis e roxos profundos, e os prédios são mais sugestões do que estruturas reais. Mas ainda falta algo. Uma verdade que não tenho coragem de pintar. As sombras precisam ser mais densas, mais ameaçadoras. Como aquelas que sempre estiveram à espreita nas bordas do meu mundo, não importa o quanto eu tente apagá-las com tinta. — Você precisa se esforçar mais — disse o Professor Matias durante nossa última crítica. — Encontre a emoção que você tem medo de demonstrar. Quase ri. Como explicar que meu pai é um dos chefões da máfia mais temidos de Nova York? Que a vida meticulosamente controlada que construí — estudante de arte durante o dia, filha obediente à noite — é só mais uma tela, onde me p***o como alguém normal? Talvez seja por isso que me atraio tanto por paisagens urbanas: elas me permitem organizar o caos. Decidir quais sombras destacar, quais esconder. Meu telefone vibra novamente — a terceira vez em dez minutos. Ignoro, determinada a encontrar o tom perfeito de azul meia-noite. A cor me lembra o escritório do meu pai, altas horas da noite, quando ele fecha os negócios sobre os quais nunca falamos no café da manhã. O telefone começa a tocar. O som ecoa no estúdio vazio, me fazendo pular. Uma gota de tinta azul respinga no meu tênis branco. Olho para a tela. O nome da minha mãe pisca com urgência, e um aperto gélido se instala no meu estômago. Ela nunca liga tanto, a menos que... — Beca? — Sua voz é estridente, despida da sofisticação forçada de sempre. — Onde você estava? Estou tentando falar com você há... — Estou trabalhando na minha tese — interrompo, já irritada. Mamãe sempre soube como me tirar do sério. — Você sabe o quão importante... — É o seu pai. — As palavras cortam minha irritação como uma lâmina. — Houve... houve um acidente. Você precisa vir ao Monte Sinai agora mesmo. O pincel escorrega dos meus dedos e cai ruidosamente no chão. — Que tipo de acidente? — minha voz sai baixa, trêmula. — Venha. Rápido. — Ela desliga antes que eu possa fazer mais perguntas. Minhas mãos tremem enquanto enfio os suprimentos na bolsa sem pensar em limpar nada. A água colorida escorre pela mesa; o azul-turquesa se mistura ao vermelho-carmesim como sangue dissolvido em tinta. Deveria limpar — bons materiais não são baratos no orçamento apertado de um estudante —, mas não consigo me importar. Tudo em que consigo pensar é no meu pai. Alessandro Maranzano. O homem que sempre foi invencível aos meus olhos, mesmo sabendo, no fundo, o que ele realmente é. O que nós somos. A corrida de táxi até o hospital é de vinte minutos de pura tortura. Cada semáforo vermelho parece durar uma eternidade. Minha mente gira em espirais de ansiedade. Passei a vida fingindo que as conversas sussurradas e as reuniões em horários impróprios eram apenas negócios... mas sempre soube que não era bem assim. Talvez tenha sido uma família rival. Talvez alguém, finalmente, tenha decidido acertar as contas. Talvez... Jogo dinheiro no banco do motorista e praticamente disparo pelas portas do pronto-socorro. O cheiro de antisséptico me atinge primeiro; em seguida, a luz branca e fria dos corredores, que faz tudo parecer mais doente, mais distante da realidade. A sala de espera é uma colcha de retalhos de miséria: famílias angustiadas amontoadas em cadeiras duras, enfermeiras apressadas com passos firmes, e o bipe suave das máquinas que sussurra que alguém, em algum lugar, ainda está vivo. Eu os identifico imediatamente — meu tio Dário , falando em voz baixa com Marco Mancini, o melhor amigo do meu pai e um dos homens mais perigosos de Nova York. Dário parece deslocado em seu caro terno italiano, a cabeça calva brilhando sob as luzes fortes do hospital. Mas é Marco quem domina a cena. Aos 38 anos, ele tem uma presença imponente. Seu terno preto perfeitamente cortado molda os ombros largos, que parecem carregar o peso de promessas não ditas. Fios prateados nas têmporas só acentuam sua autoridade silenciosa. Quando ele se vira e me vê, seus olhos azul-aço se cravam nos meus com uma intensidade que me faz prender a respiração. Sempre me senti uma presa quando ele me olha assim — mesmo que ele supostamente esteja do nosso lado. — Rebecca — diz ele, meu nome completo saindo de sua boca como uma prece... ou uma maldição. Nunca sei ao certo. Há algo em seu olhar — algo denso, insondável — que faz meu coração disparar. Antes que ele possa dizer mais alguma coisa, minha mãe aparece no corredor, o rímel escorrendo pelo rosto cuidadosamente maquiado. Aos 45 anos, Katherine Maranzano continua deslumbrante, com os cabelos loiros e lisos e uma estrutura elegante. Mas agora sua fachada está rachando. Seu vestido de grife está amassado, como se ela tivesse se abraçado com força demais. — Ele se foi, minha Beca — diz, me puxando para um abraço que cheira a Chanel Nº 5... e desespero. — Seu pai... ele não sobreviveu. O mundo se inclina. As paredes tremem, e só percebo que quase caí quando mãos fortes me seguram — as de Marco. Mas me afasto do toque, instintivamente. Através do zumbido que toma meus ouvidos, fragmentos de conversa chegam como estilhaços: — ...Disparo... — ...família rival... — ...proteção necessária... Minha mãe chora agora, uma imagem perfeita de luto que parece mais encenada do que genuína. Os olhos de Dário, porém, brilham com algo que se assemelha perturbadoramente a... oportunidade. — Precisamos discutir os preparativos — diz ele, mas Marco o interrompe com um gesto brusco, quase animalesco. — Agora não — rosna, e por um instante entendo por que os homens o temem. Seu olhar volta para mim — mais suave, mas não menos firme. — Vá se despedir do seu pai, Rebecca. Eu cuido do resto. Caminho entorpecida em direção ao quarto onde está o corpo do meu pai. Atrás de mim, ouço a voz grave de Marco: — Fiz uma promessa ao Alessandro... Dário responde com sua voz rouca, arrastada: — Então você sabe o que precisa ser feito. Paro na porta. Minha mão treme sobre a maçaneta. Através da pequena janela, vejo a forma imóvel sob o lençol branco. A realidade me invade com violência. Essa não é uma das minhas pinturas, em que controlo sombras e luz. Não há o que retocar aqui. Meu pai está morto. E com ele, o mundo que eu cuidadosamente construí — feito de exposições, telas e tintas — desmorona em silêncio. Lá dentro, as máquinas estão desligadas. O lençol o cobre completamente, mas ainda consigo ver a linha rígida do seu maxilar, as mãos grandes que um dia me ergueram com facilidade sobre seus ombros. Mãos que, provavelmente, mataram. Que certamente mandaram matar. Mas também mãos que seguraram as minhas com delicadeza, que me ensinaram a misturar cores e me disseram, um dia, que a arte era minha fuga — minha chance de ser algo diferente do que somos. Minhas pernas cedem e me deixo cair na cadeira ao lado da cama. Ontem de manhã, ele estava na mesa do café da manhã, tomando seu expresso e lendo o jornal. Perguntou sobre minha exposição, sorrindo com os olhos apertados nas laterais. — Mostre a eles quem você realmente é, Minha Beca — ele disse, apertando minha mão. — A arte é a verdade mais pura que temos. Ele estava se despedindo? Já sabia? Procuro sua mão debaixo do lençol... mas paro. Não quero sentir o frio. Não quero que essa seja a última lembrança. Em vez disso, me agarro às memórias: ele me ensinando a pintar quando eu tinha cinco anos, me apoiando na bicicleta, enxugando minhas lágrimas depois da minha primeira decepção. Sempre forte. Sempre presente. — Papai — sussurro. — Papai, por favor... A dor me atinge como um golpe. Meu peito aperta, sufoca. As luzes fluorescentes são demais, ofuscando tudo. Tento transformar aquilo em composição — parede cinza, lençol branco, grades cromadas —, mas é inútil. Nada aqui tem sentido. Um soluço irrompe da minha garganta, cru e primitivo. Aperto o punho contra a boca, tentando conter, mas é como tentar segurar o mar com as mãos. As lágrimas vêm quentes, salgadas, incontroláveis. Choro pelo pai que me criou, e por aquele que eu nunca conheci — o homem das sombras, o Don mascarado por sorrisos paternos. As lembranças ganham novas cores: o modo como ele sempre inspecionava os carros, os homens armados à distância quando saíamos, os olhos cansados ao chegar tarde, mas ainda assim beijando minha testa antes de dormir. Ele tentou me dar uma vida à parte da dele. Mas a escuridão encontrou uma fresta. Entrou mesmo assim. — Eu devia ter escutado mais — sussurro, agarrando o lençol. — Deixado você me ensinar sobre o seu mundo. Eu devia ter te dito que te amava hoje de manhã. Em vez de correr para o estúdio... Minhas lágrimas caem sobre o tecido, pequenas manchas que se espalham como tinta molhada. Azul-escuro, penso. Como a que manchou meu tênis hoje cedo, quando ainda existia normalidade. — Sinto muito, papai — sussurro. — Eu devia ter estado aqui. Devia ter... Mas não sei como terminar. Devia ter o quê? Aceitado sua verdade? Largado minha fantasia? A porta se abre, e sei — sem precisar olhar — que é Marco. Sua presença é densa como fumaça, impossível de ignorar. Tento secar as lágrimas, recompor o rosto, mas é inútil. Tudo em mim está desfeito. — Seu pai gostaria que você fosse forte agora — ele diz. Uma risada sem humor me escapa. — Forte? Sou estudante de arte. p***o quadros bonitos. Eu não sou... nunca fui... — Você é filha de Alessandro Maranzano — diz Marco, com a voz baixa, mas inquebrantável. — E isso faz de você mais forte do que imagina. Não sei se acredito. Apenas olho mais uma vez para o corpo do meu pai. Tento memorizar cada curva sob o lençol. O nariz orgulhoso. O contorno do rosto. A última vez que o pintei foi no Dia dos Pais — ele no escritório, com os óculos de leitura e a luz amarela suavizando as rugas. Fiz com que parecesse gentil. Agora me pergunto se realmente o conhecia. Lembre-se de quem você é, minha Beca. Você é uma artista, sim, mas também é minha filha. E isso significa alguma coisa, goste você ou não. — Venha — diz Marco, e dessa vez, quando sua mão toca meu ombro, não me afasto. Beijo a testa do meu pai, através do lençol. — Te amo, Papai... Me perdoa. Ao sair do quarto, sinto os olhares sobre mim — Dário , oportunista; minha mãe, chorando com os olhos secos; os enfermeiros, curiosos. Pensam que somos apenas mais uma família devastada pela morte. Se ao menos soubessem. Se eu soubesse. Mas uma coisa se torna cada vez mais clara: a vida segura que eu construí sempre foi só uma moldura bonita. Uma pintura bem-feita cobrindo uma parede rachada. E agora a moldura caiu. O que resta são sombras... e o peso de tudo o que meu pai nunca me contou. Tudo o que agora, eu não posso mais evitar aprender. Meu coração parece uma tela rasgada. E eu não sei como consertar. Só sei que o mundo dele está vindo atrás de mim — esteja eu pronta ou não.

editor-pick
Dreame-Escolha do editor

bc

Amor Proibido

read
5.4K
bc

O Lobo Quebrado

read
121.6K
bc

Sanguinem

read
4.3K
bc

De natal um vizinho

read
13.9K
bc

Primeira da Classe

read
14.1K
bc

Meu jogador

read
3.3K
bc

Kiera - Em Contraste com o Destino

read
5.8K

Digitalize para baixar o aplicativo

download_iosApp Store
google icon
Google Play
Facebook