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Débora
Como moradora do alemão, eu daria uma bela patricinha do Leblon pelo simples fato de amar esse lugar e ao mesmo tempo não suportar as coisas que acontecem aqui.
Moro aqui desde que me entendo por gente, sinto que minha vida é toda fragmentada. Ou seja, memórias e acontecimentos que não se encaixam.
Me criei sozinha, juntos das minhas duas melhores amigas, Yasmin e Nivia. Conheço elas desde da pré-escola, e até hoje seguimos com nossa amizades.
Meus pais trabalham de segunda a segunda, é assim desde que eu tinha dez anos de idade. Vivia dormindo na casa das meninas e comendo lanches de rua a semana toda.
Foi assim até eu entender que tinha que ser eu por mim mesma. Eu já tinha quase catorze anos, então comecei a aprender fazer as coisas como: arrumar casa, lavar roupa e cozinhar para mim.
Sem dúvidas a melhor coisa que eu poderia ter feito!!
Agora com quase dezoito anos, continuo lutando, lutas diferentes, lutas para garotas da minha idade como: ensino médio, voltar viva depois de uma festa e paixões platônicas.
Complexo do alemão e considerada uma das favelas mas perigosas do Rio de Janeiro. Aqui é bastante movimentado, tem quase cem mil moradores.
Crianças, adolescentes, idosos e mulheres, ninguém tá salvo das maldades da polícia, que quando sobe o morro não quer saber de nada.
Pra eles todos que moram aqui é bandido.
Meus pais vem para casa, no mínimo uma vez no mês e eu praticamente recebo uma mesada gorda para somente estudar e cuidar da casa.
Eu não reclamo dessa parte da mesada, pois é mas do que eu ganharia trabalhando em meio período. Então vou aproveitar e pagar pela terapia para os traumas que meus próprios pais causaram.
—Débora, ele tá te olhando. — Nívia bateu palmas empolgada me tirando do meu transe. — Não olha agora p*****a. — falou e eu revirei os olhos ao ver que se tratava de homem.
—Para de show Nívia, não estou pra brincadeira hoje. — encarei ela, que encarava a Yasmin.
—Olha agora então para você ver. — Yasmin balbuciou e eu olhei para trás. — Meu Deus, toma água amiga.
Do outro lado da lanchonete, ele me encarava, mas logo decifrei que poderia ser por conta dos amigos dele, que também estava secando as meninas, então dei os ombros e vida que segue.
É sério que se eu tivesse uma oportunidade, eu amaria dar uns beijinhos nele, meu amor platônico todo esse garoto, desde que eu tinha quinze anos de idade. Tenho certeza que se ele gostasse de garotas novas, já tinha perdido minha virgindade.
—Débora. — Yasmin gritou e eu encarei ela. — volta para a terra garota, ele já foi até embora e tu aí.
—Para, só tava pensando em uns negócios aqui, não tem nada haver com ele. — arrastei meu prato já vazio e encarei vendo as duas rindo. — acho que podemos ir embora, em? — pedi e logo Yasmin foi pagar a conta.
Começamos a subir o morro brincando e rindo, chamando a atenção de todos que passava perto, éramos inseparáveis desde sempre.
Elas me deixaram em casa e subiram para sua casa, na sala, minha mãe e meu pai, conversavam sérios no sofá, o que me deixou muito preocupada.
—O quê aconteceu aqui gente? — perguntei chamando a atenção deles para mim, fazendo eles notarem minha presença. — por que estão com essas caras?
—Nada filha. — meu pai guardou os papéis que eles mexiam e olhou para minha mãe, percebi que os olhos dele estavam vermelho, com certeza andaram brigando de novo.
—Mãe? — chamei quase implorando por explicação.
—Tá tudo bem filha, é só seu pai que conseguiu subir de cargo no emprego. — olhei para ela desconfiada mas não quis prolongar o assunto, estão sempre escondendo as coisas de mim mesmo, tanto faz!
—Ok eu vou subir para meu quarto. — disse, em tom de poucos amigos, deixando eles na sala sozinhos.
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Abrir os olhos e sentir meu pescoço estralando, fora a dor insuportável que eu estava sentindo, esse é o sintoma de quem dormiu estudando.
Para piorar, eu estava super atrasada!
Levantei correndo e entrei no banheiro para escovar os dentes e lavar o rosto, e ainda tem gente que diz que o universo conspira ao meu favor, seu cu isso sim!
Vestir uma calça jeans qualquer, minha blusa de uniforme e minha kenner preta, juntei todos meus materiais espalhados pelo quarto e desci para a sala quase correndo.
Procurei meus pais e encontrei somente o silêncio e o vazio que eu já conhecia de tempos.
Seu pai e eu saímos cedo, espero que
não tenha acordado atrasada, seu
café da manhã está no microondas.
Beijos Mamãe e Papai.
Bom, pelo menos eles não foram trabalhar mais cedo e sem despedir, mas que alguma coisa de errado estava acontecendo, eu sei que tava.
Fui correndo até o ponto de moto-táxi e subir na primeira garupa, prontinha para descer para a escola, queria entrar na primeira aula, mas já estava quase na segunda.
Se a diretora me pegasse ela ia comer meu r**o com tudo, tinha chegado atrasada alguns dias atrás. Paguei o homem que ficou me cantando durante todo trajeto e ainda mandei ele se f***r e respeitar uma mulher.
—Está atrasada mocinha. — olhei para trás e vi minha diretora. — já pra minha sala, não vou tolerar mais os seus atrasos.
—p**a que pariu. — disse mais para mim do que para ela. Eu não dou uma dentro.
—O que disse senhorita Nogueira? — me encarou e gritou. E tem como ficar pior do que isso?
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Sim, tinha como ficar muito pior e ficou! Não foi certo te mandado a diretora ir pro inferno, eu só não tava em um bom dia.
Agora se meus pais descobrirem eu tô muito ferrada, ia ficar de castigo por um bom tempo, se bem que eles nem ficam em casa.
Pior ainda é que eu estou de suspensão por três dias, começando a partir de segunda feira. O que me resta e andar pelo morro, eu que não queria voltar pra casa agora.
O morro de manhã é muito calmo e tranquilo, sinceramente não dá vontade nenhuma de voltar pra casa. Mó paz!
Eu subir tanto o morro, que quando menos percebi, já estava quase no topo, e quase morta para variar, misericórdia, ninguém merece andar tanto assim.
Me sentei em uma pedra que tinha embaixo de uma árvore e me encostei na mesma, observando o meu morro com admiração.
Nem sempre eu tinha tempo para observar ele e cada dia que passa tudo muda um pouquinho, as ruas, as vielas, as casas e até mesmo as pessoas que quase sempre são diferente.
Quando voltei para a realidade, percebi que tinha praticamente uma única casa nesse fim de mundo, era a primeira vez que eu vinha aqui, não sabia que havia essa casa.
Tinha uma senhora sentadinha na pequena varanda olhando na mesma direção que eu, para a favela. Ela não aparentava ser muito velha, mas ela parecia tão triste e sozinha.
Fiquei morrendo de medo de me aproximar e ela se assusta, por tanto encarei ela por tanto tempo que ela me notou, balançando a mão sorrindo, então fui até ela.
—Ei, querida, o que você anda fazendo por aqui? — perguntou e eu me sentei na pequena escada encarando a mais velha.
—Eu só queria respirar um pouco longe da bagunça que é lá em baixo. — omitir a verdade e ela soltou um sorriso. — é a senhora mora aqui sozinha?
—Não, minha filha mora comigo e meus neto às vezes vem me visitar. — disse me fazendo ficar um pouquinho aliviada e triste ao mesmo tempo, meus pais também me visitava às vezes.
—Se a senhora quiser posso ficar aqui um pouco, é te ajudar também, o que a senhora precisa?
—Ai minha querida! Só sua companhia basta, eu fiz pão de queijo, tá com fome? — ela perguntou e eu sorrir concordando.
Não preciso dizer que eu fiquei lá até depois do almoço, e até ajudei ela com as coisas básicas de casa, que eu insistir para fazer.
A gente conversou bastante e eu soube que a filha dela trabalhava fora, tinha uma neta e um bisneto e também um neto traficante, ou seja, ele fica por aí agarrando vagabunda o tempo todo.
Cheguei em casa mortinha de cansaço, o caminho da volta foi muito longo. Meus pais estavam de novo com aquela expressão e eu encucada de merda na cabeça.
—Qual foi? vocês agora vão esconder tudo de mim? — disse com cara de poucos amigos. — até cego percebe que algo está acontecendo.
—Filha, você está só cansada da escola. — minha mãe disse pegando minha mochila e eu tomei da mão dela — vai descansar, seu pai e eu estamos só cansados também.
—Isso filha, obedece sua mãe querida. — meu pai tomou a frente e eeu olhei ainda incrédula, tava nítido que eles estavam mentindo.
Mas passei por eles é fui direto para o meu quarto, sinceramente, é tudo tão cansativo, seja lá o que eles estão escondendo, não vai me afetar muito.
Tomei banho e vestir uma roupa curta pra combater o calor, liguei para as meninas, contei tudo que aconteceu para elas e marquei da gente ir para o baile hoje.
Até porque sextou né mores, ainda por cima, estava com um pressentimento bom desse baile, talvez seja só vontade de fazer raiva nos meus pais, porém eu iria.
Dormir durante a tarde inteira, acordei numa fome do cão, fui na cozinha e enfiei guela a baixo tudo que achei de gostoso na geladeira, meus pais não estavam em casa de novo, também pouco me importa.
Subir para meu quarto, coloquei uma música na caixa de som bem alta, só pra aquecer mesmo. Tomei um outro banho bem caprichado, tinha que tá cheirosa.
Meu pressentimento já não estava tão bom quanto antes, mas tarde demais para mudar de idéia!!
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—Vamos no bar pegar mais uma cerveja. — Nivia gritou para Yasmin e saiu me puxando com ela. — ô moço, pega mais duas cervejas aí para mim.
—Eu não vou beber Nivia. — revirei os olhos para ela, pois ela sabia muito bem que eu não gostava de bebida. Não deu nem tempo dela responder, pois uma pessoa interrompeu a gente.
—Pode deixar que eu pago aqui irmão. — disse fazendo a gente encarar o sujeito. Era um homem, pela cara não era do morro e a aparência dele era até que aceitável.
—Muito obrigada, mas nós iremos pagar. — disse sendo repreendida pela minha amiga que sorriu para o homem.
—Nada disso, não fala besteira Dê, a gente aceita sim moço.
Será que alguém avisa para ela que isso é perigoso, nunca vi aceitar bebida de estranhos. Eu é que não vou beber.
Ficamos nois três conversando, ele disse que era do asfalto e tinha vinte e cinco anos. A Nivia sumiu pouco tempo depois e me deixou sozinha com ele.
—Queria muito ficar com você, como que eu faço? — sussurrou no meu ouvido e eu neguei.— bora ir ali?
—Não, acho melhor não. — sentir meu coração apertado e já fiquei desesperada para sair de perto dele.— m*l te conheço pra sair por aí te beijando, eu em.
—Que isso gata, vou fazer nada com você que não queira. — saiu me puxando por entre a multidão enquanto eu tentava tirar meu braço da sua mão.
—Não eu já pedi por favor, me solta, que c*****o, da para me soltar? ou eu vou gritar, eu já disse que não quero. — gritava, batendo nas suas costas e ele nem ligou.
Quanto mais íamos nos afastando da multidão, mais eu sentia que meu fim estava próximo, Nivia sempre me colocava caô, um pior do que o outro.