018

1880 Palavras
• Maria • No saguão do imenso edifício que abriga a Franqueza, eu fui colocada de joelhos de frente para Tris e Uriah. Eric me algemou com braçadeiras muito apertadas e colocou meus braços cruzados na frente do meu corpo, assim como com meus amigos. Eu não conseguia olhar para eles. Apenas mantinha meus olhos baixos. Ouvi Eric murmurar algo e um gritinho infantil. Ergui o olhar e o vi trazendo uma garotinha para perto dele. — Oi, querida. — ele sorri para ela — Você é bonito. — a menininha diz Ele aproxima um aparelho do rosto dela e uma luz parece scanear. Logo uma voz feminina diz "divergente: 12%" e Eric abaixa a mão, a apoiando nos joelhos. — Que pena, querida. Não procuramos por você. — ele diz e se endireita de pé — Aquela moça disse... — a menininha olha para Tris — Disse que eu não devia sair. — Viu só? Não pode desobedecer adultos. — ele dá de ombros e puxa sua pistola do coldre — Eric. — rosno Sua mão está tremendo um pouco e seus ombros estão rígidos. Suas pupilas estão tão dilatadas que quase não consigo mergulhar no azul de seus olhos. Eric está dopado de alguma maneira. Sem pensar, me levanto e jogo meu corpo contra o dele, fazendo com que caíssemos no chão. Enrolo minhas pernas em sua cintura quando fico por baixo e dou repetidos golpes em suas costas com meus cotovelos unidos. A menininha corre e os dois guarda-costas que o acompanham apontam suas armas para Tris e Uriah. Ouço Eric rosnar alto e então ele segura em meus punhos com apenas uma mão, deixando meus braços erguidos acima da cabeça. Sinto o cano frio de sua arma em minha testa e então percebo que ele está mirando em mim com a mão livre. Eric treme e sua frio. — Eric. — tento apelar olhando em seus olhos, mas ele desvia seu olhar do meu — Sorte sua que não posso mais matar você. — ele rosna batendo com a arma em minha testa algumas vezes, sem força — Olha pra mim. Olha! Minha voz soa firme, apesar da minha vontade de chorar e me esconder. Ele me olha e então qualquer dúvida que eu tenha tido antes se vai. Eric está sob efeito de alguma coisa. Alguma droga de Jeanine e sua corja. Está sendo manipulado. Apenas uma marionete no jogo dela. — Me desculpa. — sinto a voz tremer e embargar — Me desculpe, Eric. — Cala a boca. — ele rosna apertando a arma contra minha bochecha — Eric, eu sei que você sente alguma coisa por mim. — digo o olhando nos olhos — Eu sei disso e tá tudo bem. Ele fica em silêncio e parece lutar contra algo dentro de si. Seus olhos buscam algo nos meus e ele se agita. — A culpa é sua! Sua! Toda sua! — ele grita — Tudo bem, me culpe. — tento negociar — Faz o que quiser comigo. Deixe Tris e Uriah irem. — Não. — rosna — Eu prometo obedecer você. Eu vou aonde você for. Não resisto. Você pode me matar. — Você não vai morrer. — ele rosna Ouço barulho de vidros quebrando e então Eric é tirado de cima de mim com rapidez. Ainda no chão, vejo o que sobrou da minha Audácia render os Aliados e libertarem Uriah e Tris. Quatro me levanta em seus braços e eu vejo Drew distribuir socos e pontapés na cabeça de Eric, que está desacordado no chão. Assim que meu irmão arrebenta a braçadeira que me prende, me lanço em cima de Drew, tentando segurá-lo. — Pára! — grito — Isso não é Audácia! Drew me encara e eu vejo ódio em seu olhar. Eric e ele nunca se bicaram. Aliás, Eric nunca se bicou com ninguém. Quatro arrasta o corpo desacordado de Eric por todo o saguão e sobe para o último andar do prédio, onde fica o grande salão em que fomos interrogados quando chegamos. Ele o algema e o senta no meio do desenho da balança, enquanto joga água em seu rosto e dá tapinhas no mesmo. Eric desperta e não vejo mais suas pupilas dilatadas, mas ele ainda sua muito. — O que a Jeanine quer com os divergentes? — Quatro pergunta — Onde estou? — Eric murmura fazendo uma careta — O que a Jeanine quer com os divergentes? — Quatro repete impaciente — O que tá acontecendo? — ele parece confuso Quatro parece impaciente e furioso. Eu observo em silêncio e percebo alguns espasmos no corpo de Eric. Suas mãos algemadas tremem e seus pés também. A cabeça dele parece pesada demais pra se manter erguida por muito tempo. Será que só eu estou percebendo que ele está dopado? — Matou inocentes, Eric. Sabe qual é a pena da Audácia para isso. — Quatro diz e Tori entrega uma pistola para ele, fazendo com que eu arregale os olhos — O que vai fazer, Quatro? — pergunto nervosa, mas Drew me segura pelos braços, para me impedir de me aproximar — Vai me matar, Quatro? — Eric o encara — Tudo bem. Eu nunca tive medo de morrer. Sabe, eu consegui dar um jeito de viver com o sangue nas mãos. Você consegue? Quatro aponta a pistola na direção da cabeça dele e ele sorri. — Achei que poderíamos ser bons cunhados. — murmura — Você sabia? — Quatro rosna — Não, mas se soubesse seria mais divertido. — Vai pro inferno, Eric. Eric permanece encarando Quatro. No milésimo de segundo em que Quatro aperta o gatilho, eu dou uma cotovelada na virilha de Drew e corro, jogando meu corpo por cima de Eric, fazendo-o cair com as costas no chão e eu por cima de seu corpo. Sinto a ardência da bala em meu ombro e reparo que o tiro pegou de raspão em mim, no ombro de Eric e atingiu em cheio a parede. — Maria! — Quatro grita surpreso — Quatro, por favor. — me levanto o olhando — Ele é um criminoso! — grita — Quatro, enxergue com clareza! — grito por cima — Ele tá suando, as pupilas estavam dilatadas. Quando foi que você o viu trêmulo desse jeito? — aponto para Eric, que continua caído no chão, parecendo aleatório à discussão que ocorre por sua causa — Sua paixão doentia está te deixando cega, Hippie. — ouço Tori dizer e a encaro — A minha conversa não é com você. — digo ríspida e volto a olhar para o Quatro — Está claro que ele estava sob o efeito de alguma simulação. — Isso não apaga o fato dele ter se aliado a Jeanine por vontade própria. — Quatro rebate — Ele é um criminoso! — reafirma — E você é o que? — cruzo os braços o encarando — Juiz, júri e executor? Eric é da Audácia e merece um julgamento, um interrogatório igual a todos. — Você está louca! — Tori grita de novo Vejo Quatro hesitar e Joanne sair da multidão para ajudar o amigo caído. Ela se abaixa perto dele e o ajuda a se sentar, apoiando suas costas em uma pilastra. Eric parece estar quase apagando. — Ei, Eric. — ela sacode seu rosto — Minha nuca. — ele murmura e eu o olho — Aquela v***a da Jeanine... — não termina a frase Joanne passa a mão na nuca de Eric e então a olha, se espantando um pouco. Me aproximo dos dois e vejo uma marca igual a que todos têm agora, na pele. É o dispositivo que as armas disparavam. Não matou ninguém, apenas apagou todo mundo. Quatro se aproxima e compara a marca na nuca do Eric com a marca no ombro de Tris, que se abaixa perto de nós. É idêntica. Jeanine o manipulou. A cabeça de Eric tomba pra frente e ele desmaia. Joanne o apóia em seu ombro e olha para o Quatro. — Sabe o que isso significa, Quatro. — Joanne o olha — Você conhece o Eric. — Eu conhecia. — Quatro murmura — Quatro, por favor. — ela insiste Eu não sei exatamente o que está acontecendo, mas sei que há algo no passado deles que eu não sei. Quatro respira fundo e sussurra baixinho, apenas para Tris, Joanne e eu ouvirmos. — Eu não sou o líder. — Não oficialmente, mas todos já te seguem. — Joanne sussurra de volta Quatro olha para Tris, silenciosamente perguntando o que deve fazer. — Estou com você, seja lá qual for a decisão. — ela diz colocando a mão no ombro dele Quatro se levanta, ficando no centro das atenções de todos. Eu o observo aflita. — Se quisermos seguir as leis da Audácia, precisamos de novos líderes já. — ele diz — Alguém quer indicar algum nome? Um silêncio se faz e todos parecem pensar, intercalando o olhar entre Eric desmaiado e Quatro no centro da sala. — Tori. — Jessie diz parada de braços cruzados — Muito bem. — Quatro concorda — Precisamos de três, para que não hajam  empates. Vocês sabem como funciona. — Você. — Drew diz em voz alta — Ok. — Quatro assente — Mais um. — Maria. — Joanne diz Eu a olho surpresa e ela me encara de volta. Eu fico sem saber o que fazer agora. Não vão me aceitar como líder, eu sou nova demais. — Tori, Maria e eu. — Quatro diz — Alguém tem mais algum nome? — Joanne. — ouço alguém dizer Olho para o outro lado da sala e vejo uma ruiva de braços cruzados, no escuro. Ela caminha em direção ao centro da sala e eu percebo ser Alice. Ela observa Eric desmaiado por alguns segundos e percebo compaixão em seu olhar. — Tori, Maria, Joanne e eu. — Quatro diz — Mais alguém? Todo mundo fica em silêncio. — Ok, precisamos abrir uma votação. Os três mais votados serão os novos líderes da Audácia. Não temos tempo pra uma votação e eu não quero ser líder. — Eu abdico da minha indicação. — digo em voz alta e todos me olham — Tem certeza disso? — Quatro me olha — Absoluta. — confirmo — Então os novos líderes da Audácia são Tori, Quatro e Joanne. — Tris se levanta e diz em voz alta — Yeah! — todos gritam e erguem os punhos cerrados — Na decisão de adiar a condenação de Eric Coulter, qual é o seu voto? — Alice pergunta olhando para Tori — Eu voto não para o adiamento. — ela diz irredutível — Um a zero. — Tris diz alto — Na decisão de adiar a condenação de Eric Coulter, qual é o seu voto? — Alice olha para Joanne — Eu voto sim para o adiamento. — Joanne diz alto, ainda amparando a cabeça de Eric — Na decisão de adiar a condenação de Eric Coulter, qual é o seu voto? — Alice olha para Quatro Todos estão nervosos demais para cochichar alguma coisa, então estão amontoados em silêncio, observando cada traço de Quatro. Eu evito contato visual, pois não sei se consigo ficar em silêncio se fizer isso. — Eu voto sim para o adiamento.
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR