Chapter XXI

2665 Palavras
Episódio: Regras - Com licença, Zayn, posso falar com você?  - Oh. Claro, Liam, o que aconteceu? Aliás por que Louis não veio trabalhar hoje? Payne ajeitou seu suéter azul marinho e respirou fundo. Odiava mentir. - Oh justamente isso que vim lhe informar. O i****a acabou ficando um pouco doente. Está com uma virose.  - Ah, entendi. Bom, avise-o para tomar o tempo de afastamento necessário. Não queremos alguém que possa transmitir mais doenças aos nossos pacientes. - Vou avisar, pode deixar. - Liam sorriu simpático já virando os pés para sair daquele andar e voltar aos seus deveres. - Er, Liam? - Sim? - Queria conversar sobre algo com você, pode me encontrar na hora do café? ... "Se você está confuso sobre o que fazer, então não vá pra lá amanhã. Apenas vá se estiver confiante, porque se for pra gaguejar e fazer mais merda, nem cogite aparecer no Hospital. Harry já deve ter muitas incertezas na vida, não precisa que você se torne outra delas.  Não apresse suas decisões também. Tome a folga necessária e use-a pra se entender". As palavras de Liam se enraizaram no cérebro de Louis durante toda a madrugada. E foi quando fizeram sentido que ele percebeu que não estava pronto para encarar tudo. Encarar a sujeira que causou. Ele precisava se restabelecer com sua consciência antes de agir por impulso novamente e arrastar as coisas como uma maré de irresponsabilidade e inconsequência. Portanto pela manhã avisou Payne que não poderia ir. Preferiria ficar até estar cem por cento certo de como lidar e abordar a situação. Liam apenas sorriu compreensível e serviu um chá Yorkshire pro amigo, porque sabia que era seu favorito. E assim que eles se despediram e Liam foi ao hospital cumprir seu turno, Louis se isolou em suas próprias reflexões. Durante a noite Tomlinson sentiu-se quente e ao medir a temperatura constatou febre. Não bastando ele também teve náuseas e a pressão caiu várias vezes. Droga, tinha que ir no medico, mesmo que detestasse médicos por razões do passado... ... - Bom dia, Styles. - Zayn entrava no quarto sorrindo e segurando a bandeja com seu café da manhã. - Sei que faz já uns três meses e meio que eu não cumpro mais essa tarefa, mas nunca é tarde não é? - disse simpático. Harry, que encarava o teto deitado, imediatamente se sentou e engoliu a seco. Ele não estava mais tão acostumado com a presença de Zayn porque obviamente se acostumara com a de Louis. E se Louis não estava hoje aqui, isso significava algo. - Cadê o Louis? - foi a primeira coisa a dizer, ignorando completamente a saudação animada de Zayn. - Ouch, Harry. Agradeço por ter me ignorado. - Zayn riu ao falar. - Louis está doente, não vem por um tempo. Terá de se contentar comigo, como nos velhos anos. O interior de Harry se quebrou. Ele sabia que o "estar doente" era só uma desculpa esfarrapada para não vir ao hospital. Louis estava evitando Harry. Harry sabia disso. E nem era tanto uma surpresa. Digamos que durante o final do dia anterior e a madrugada inteira Harry permaneceu apenas imóvel em sua cama pensando. Uma pequena parte dele conservava esperanças de que Louis entraria pela porta para se despedir e desejar boa noite, como usualmente. Mas desde que ele não o fez, Harry soube que o moreno havia rejeitado a tarefa para sair com aquele outro doutor jovem. Harry odiava sentir isso. Odiava sentir... Ciúmes. Principalmente porque ele achava uma completa idiotice já que os dois não tinham absolutamente nada. Entretanto com o cair do sol e surgir da lua, Harry manteve-se imaginando o que ele poderia realmente esperar disso tudo? E a resposta achada foi que o que ele poderia esperar e o que ele queria esperar eram coisas totalmente diferentes. Porque sim, por mais difícil que fosse admitir, Harry desejava muito que o ato se repetisse, que Louis o beijasse daquele jeito novamente, que Louis o abraçasse como fez - transmitindo toda aquela segurança e conforto que Harry nunca teve. Ele queria Louis. Queria muito. E já era tarde demais para ficar negando isso de novo. Pois sim, este fora o melhor acontecimentos de toda a sua vida. Contudo a probabilidade de Louis correspondê-lo sempre foi mínima e até menor que sua vontade de viver (que convenhamos, era bem pequena). Harry falava pra si mesmo que Louis provavelmente o beijou por pena. E isso fazia com que Harry se odiasse cada vez mais, pois odiava a palavra pena. Ele nunca realmente cogitou um suicídio. Sempre que escutava sobre as tentativas de outros pacientes pra se matarem sobretudo se sufocando com os próprios lençóis se arrepiava. Apesar de não apreciar o ato de existir, ele temia o ato de morrer. Entretanto, desde ontem, essa ideia não soava tão assustadora. Óbvio que Harry não pretendia se enforcar com panos ou algo do tipo, mas ele começou a se aventurar na questão da morte em si. Sempre com uma vida e realidade existencial de merda, quando na fase da puberdade Harry atrevia-se a cortar as partes internas da coxa. Era seu segredo, algo somente dele. Ele não fazia isso porque se sentia bem, mas porque quando seus colegas descobriram que ele possuía esquizofrenia e começaram a pressiona-lo de todos os jeitos, a dor foi demais para ser suportada, ele pedia por algum meio que o auxiliasse a alivia-la. E de modo ou outro, enfiar uma lâmina na pele e assistir o sangue consistente escorrer pelo corte, propiciava-no uma sensação de libertação. Era como se seu coração estivesse sagrando tanto por dentro, que ele precisava achar um caminho de liberá-lo para fora. Talvez muitos não entendam, só quem já passou compreende a analogia, mas às vezes o machucado e ardência são tão grandes pra guardar dentro de si, que você acha um meio de fuga ao causar machucados físicos e ter essa sensação de liberdade.  Era algo i****a? Relativamente. Mas também traumático... E a partir do momento que várias pessoas que convivem com você ficam te falando frequentemente que você é anormal e te tratam como uma aberração circense enjaulada no centro da plateia, seu próprio cérebro irá absorver a ideia de que sim você é tudo aquilo que te julgam ser. Honestamente essa foi a pior fase de Harry. O garoto teve muitos acontecimentos obscuros em seu passado que ele jurou jamais revelar a ninguém. Ele detestava contar de coisas que deveriam pertencer somente a ele, principalmente se proferir em voz alta tais coisas ainda o machucasse. E só de lembrar que ainda haviam cicatrizes enormes em suas coxas da época de que ele era ridicularizado por todas as pessoas, isso já o induzia aos pensamentos suicidas e de automutilação. Há um bom tempo trancafiara seu passado em alguma parte do próprio cérebro. No entanto esse seu envolvimento com Louis o fez se sentir tão pequeno e indefeso a ponto de recorrer a companhia das próprias reflexões, que infelizmente adquiriam um caráter obscuro. Foi quando Sky, sua pequena borboletinha, pousou na ponta de seu nariz pela manhã que Harry acordou de um terrível pesadelo. Um pesadelo o qual ele estava sozinho no escuro com vozes aleatórias gritando xingamentos em seus ouvidos, e ele queria correr mas não tinha forças. Lembrava-se de no pesadelo ter chamado incessantemente pelo único nome que vinha em sua cabeça: Louis. Entretanto não obtinha êxito algum. Ao que uma lágrima verdadeira formava-se no canto do olho do pobre menino que debatia-se contra o colchão, a borboletinha veio pousar na ponta de seu nariz. Ele acordou aos poucos, mas logo que percebeu o feito de Sky Harry sorriu, porque para ele foi aquele inseto azul que o salvou.  Harry estava fraco e submisso demais para ter confiança em algo. Mas ele precisava. Porque quando você está vulnerável necessita se apoiar em alguém para não se sentir completamente largado. E Harry decidiu que sua borboletinha seria sua nova confidente. Conforme recobrou plena consciência e fôlego notou que já era manhã. Uma expectativa de ver Louis novamente começou a dominar seu interior, embora o cérebro de Harry insistisse em dizer que Tomlinson fugiria e nunca mais apareceria, seu coração rezava para que o pequeno moreno de cabelos lisos entrasse pela porta segurando sua bandeja de café da manhã, com M&Ms escondidos embaixo da torrada e um sorriso branco contagiante. Claro que tanto suas expectativas quanto seu coração foram a baixo ao presenciar Zayn Malik no lugar de Louis, oferecendo sua simpatia e a refeição matinal. Harry Styles estava oficialmente frágil. Ele nunca abria brechas pra que pessoas tivessem acesso aos seus sentimentos, entretanto quando raramente o fazia, elas poderia ter acesso a todo o seu emocional.  E o problema é que ninguém entendia que Harry era frágil demais se não o tratassem na maneira correta. - Harry, está tudo bem? Você está pálido.. Quer me contar algo? As palavras soavam como um eco distante em seu ouvido. Ele se sentia preso no fundo de um poço, literalmente. Mas para não demonstrar nada resgatou o mínimo de dignidade que ainda o restava e retomou a lucidez, meneando a cabeça. - Estou bem. - respondeu ao se sentar, encarando a parede monótona. - Está acontecendo alguma coisa? Quer me contar? Harry, você sabe que nós costumávamos ser próximos, não é porque você tem agora a Louis que não tem mais a mim. Sei que nunca foi de se abrir e que coisas nos afastaram no passado, mas eu ainda estou disposto a ser seu amigo se precisar. Harry não o respondeu. Somente puxou a bandeja das mãos do mais velho e iniciou sua refeição silenciosamente. Zayn sabia que estava acontecendo de novo. Ele distinguiria os sentimentos de Harry de longe e compreenderia facilmente a causa deles. Afinal, era perito na consciência humana - e subconsciência também. Embora não houvesse nada que ele pudesse fazer para deixá-lo feliz agora, Malik ainda se sentia chateado consigo mesmo pelas coisas que causara em Harry no passado. Coisas que só os dois sabiam. E por essa razão Zayn optou por não se intrometer. Harry precisava de um tempo. Ele deveria se consertar. Porque esse era o normal de Styles, ele se quebrava e se consertava de alguma maneira sem permitir que outros interferissem ou notassem suas fraquezas. O que Zayn não tinha noção é que Harry não queria se consertar dessa vez, ele estava cansado demais para tentar colar os pedacinhos no lugar. Eram muitas cicatrizes que ameaçavam se abrir e talvez a dor se amplificasse se ele passasse mais uma vez cola em seu coração. ... Uma frente fria invadia Pittsburgh. Desde o começo da semana havia previsão de temporais para todos os dias, o que só dificultava a diversão do internos, já que os jardins se alagavam e eram negados ao uso. Em alguns meses seria verão mas os ventos gélidos da primavera insistiam em baixar a temperatura e tornar imprescindível a companhia de cachecóis e roupas quentes.  Enquanto isso no hospital os alunos continuavam com suas rotinas. Os alunos menos Louis, claro. Ele não havia dado as caras no local desde o tal incidente com Styles e muitos já especulavam sua desistência do curso. Matthew Johnson discretamente mandava mensagens de cinco em cinco minutos para o garoto checando se ele estava se curando da sua "virose". Matt genuinamente gostava de Louis. Gostava do brilho cativante de suas pupilas coloridas com um tom claro de oceano e também de seu sorriso branco e puro. Apesar de estar sempre tentando manter contato, ele percebeu que Tomlinson mudara muito de comportamento com ele e raramente enviava mensagens que contivessem mais do que três caracteres. Não compreendia a razão, embora, mas acreditava que o moreno só estava desgastado de sua suposta virose. Zayn decidira dedicar seu tempo para o cacheado e dividir o andar com mais monitores. Era difícil coordenar o bem-estar de tantos pacientes e ainda se preocupar com Styles sozinho. Aliás, pobre Styles. Fazia duas semanas desde que Louis não retornara. Duas tortuosas e cortantes semanas. Durante os primeiros dias de ausência do pequeno moreno, Harry teve seus momentos depressivos se intensificando. Não foi por falta de esforço, mas Harry já não conseguia permanecer sentado na cama encarando a parede. Era angustiante e isso o estressava ainda mais. Portanto adquirira um novo vício: andar de um lado pro outro do quatro. Ele contornava todo o perímetro do dormitório repetida e repetidamente. O dia inteiro. Apenas parava quando ia ao banheiro ou então comer ou tomar banho. Certamente era desesperador para Zayn observar Harry andando em círculos ou rente às quatro paredes continuamente, mas por mais que insistisse ao garoto que parasse, Harry não o escutava. De alguma maneira andar se tornara reconfortante, porque assim ele podia olhar seus pés trabalhando em conjunto e isso distraia sua mente dos assuntos que realmente importavam e feriam. Entretanto era durante o cair da noite que as coisas pioravam. Ele sempre estava cansado demais devida sua maratona intensiva pelo próprio quarto, portanto deitava-se aguardando o sono invadi-lo abruptamente. Mas não era bem o que acontecia. Mesmo com suas tentativas falhas de se cansar ao máximo para não ter que pensar antes de dormir e simplesmente dormir pesado, Harry era dominado por seus demônios. Ele pensava e lembrava de tudo.  Ficava com o sabor de sangue em sua língua com o tanto que mordia o beiço inferior. Ele queria gritar e mandar as vozes irem embora, as lembranças sumirem e Louis voltar. Porém tudo que estava ao seu alcance era poder se encolher no colchão e cobrir o rosto com o travesseiro, abafando seus berros de angústia. Era isso que ele temia... Que ao abrir seus sentimentos, estes se transbordassem e fossem demais para suportar. Harry não tinha um temperamento controlável graças a esquizofrenia, e somado com a depressão, ele se transformara em uma arma letal para si próprio. Por várias noites seguintes seu único conforto fora acumular esperanças de que Louis retornaria ao hospital no dia seguinte e entraria pela porta servindo-o café da manhã. Infelizmente, não passaram de falsas esperanças. Com o chegar do final de semana Harry piorou mais.  Ele se recusava a se alimentar direito e consequentemente acabou se enfraquecendo. Na semana seguinte tudo que restara era o vazio. Um vazio diferente. Antes Harry mascarava seus sentimentos com um falso vazio, mas agora o vazio era de fato real. Talvez seus pedidos foram atendidos pelo seu cérebro, o qual acabara por amenizar todas as frustrações pessoais do frágil garoto e transforma-las em... Nada. Harry Styles não se comunicava, m*l comia e passava vinte e quatro horas por dia sem sair da cama.  Sua borboletinha era a única que conseguia se aproximar dele sem ser agredida, porque sim, seus ataques retornaram. E com força. A partir da quarta-feira daquela semana o nível de ansiedade de Styles explodiu. Não foi aleatório, e sim porque a pequena borboleta de asas azuis vibrantes amanhecera caída no chão, morta. Harry não derramou uma lágrima sequer ou lastimou uma única vez. Ele havia bloqueado a parte sensível de si para não casualmente abri-la e ter suas ondas de depressão invadindo-o novamente. Ele a pegou delicadamente na mão e a escondeu em um cantinho debaixo da cama que sabia que as faxineiras nunca limpavam, preferiu preservar o corpo do inseto. Entretanto durante aquele mesmo dia Zayn contabilizara cerca de quatro ataques epiléticos de Harry.  Ele nem se exaltava ou falava algo antes de começar a se debater. O garoto ficou na sala de observação até domingo, sempre meio dopado de tantos anti-depressivos e calmantes que o aplicavam na veia. A fraqueza pela falta de comida só agravara o quadro. Contudo, ele ficou bem. No final da tarde de domingo - após litros de soro injetado  e uma bateria de exames de realibitação completa- Harry estava fisicamente bem para retornar ao dormitório. Fisicamente. Ao entrar pela porta de ferro teve um leve - imenso - susto. - Louis?
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