Episódio: Last First Kiss
Pressão sempre fora um termo comum na rotina de Harry. Frequentemente ele era pressionado para tomar remédios, falar com psiquiatras, melhorar sua comunicação...
Mas essa pressão exercida sobre seus lábios era completamente diferente.
Era molhada e quente em uma casa de banho cheia de vapor.
Seus pensamentos estavam condensados demais para chegar em algo coerente, ele não pensava só sentia.
Sentia um êxtase embalar seu estômago e uma espécie de exaltação se disseminar por suas veias, era estranhamente interessante o modo que seus pelos se eriçaram.
Harry já havia beijado na boca anos atrás (só não de língua), obviamente. Aliás teve uma vida parcialmente normal durante seus treze e quatorze anos...
Mas depois de cinco anos preso nesse hospital sem o mínimo de contato físico com alguém ter Louis movimentando levemente os lábios finos e adocicados contra os seus foi um choque.
Um choque bom.
Louis não tinha noção do que estava fazendo, mas na hora pareceu tão certo que ele não quis parar. Tomlinson precisava provar pra Harry que ele merecia sim tudo que havia de bom, porque ele valia a pena.
O problema é que Louis acabou provando pra si mesmo que também quis aquilo, os lábios de Harry estavam tão convidativos.
Harry finalmente fechou os olhos e permitiu deixar-se levar como aquele vapor. Estava se sentindo leve e preenchido.
As mãos de Louis se depositaram suavemente sobre sua cintura.
Louis sabia que isso era uma novidade ainda para o cacheado então não queria forçar nada que o assustasse, sendo sempre muito cuidadoso com os movimentos, nada brusco.
Harry suspirou satisfeito quando decidiu tentar movimentar os próprios lábios juntos, causando uma sensação gostosa entre os corpos. Apoiou suas mãos sobre os ombros de Tomlinson e permitiu que Louis puxasse-o um pouco para si.
O coração do encaracolado pulsava mil vezes por segundo e ele queria se derreter com aquele toque macio. Seu cérebro ainda não processara nada, tudo que fazia era comandado por seus sentimentos reprimidos durante todas essas semanas.
Os dois haviam se perdido da realidade, Louis m*l compreendia o que estava acontecendo.
Ele não usaria língua no beijo a fim de não espantar Harry ou deixá-lo desconfortável.
Ele queria que Harry se sentisse bem. Se sentisse desejado. Porque ele com certeza era muito desejado.
Os lábios carnudos e rachados de Styles proporcionavam um sabor indiscutível de remédios, entretanto adocicados e longe de serem ruins. Já Louis - por culpa da bala Mentos que vivia chupando o dia todo- oferecia a Harry um forte sabor de menta.
No final o doce do medicamento se misturava com a refrescância da menta produzindo uma mistura viciante e incapaz de se enjoar.
Toda a temperatura do ambiente parecia ter aumentado e aquele vapor dava a impressão de ser fumaças de um incêndio. Foi um susto tremendo quando um frio estranho percorreu na espinha do encaracolado, arrepiando-o por toda a epiderme. Como uma ação pela boca poderia causar reações no corpo inteiro?
Entretanto, mais uma vez, nada fora programado por Louis e algo no fundo dizia-o que aquilo era MUITO errado e ele precisava parar. Não poderia ser egoísta e se dar essa possibilidade de ferir Harry - de novo.
- Louis? Está ai? - uma voz masculina familiar escoou do outro lado da porta da casa de banhos, que por muita sorte estava trancada.
Ambos imediatamente deram um pulo e se afastaram de vez.
Harry estava extremamente vermelho e envergonhado ao que eles se encararam, nenhum sabia o que fazer, dizer ou pensar. Tanto um quanto outro na verdade queriam gritar de agonia pela situação.
- Louis Tomlinson?
Merda. Era Matthew.
Louis cortou a conexão de olhares com Harry e pingaterreou alto, engolindo a seco.
A expressão de Styles ainda era irreconhecível.
- O-oi! Estou aqui! - Louis respondeu.
- Zayn me disse que eu o encontraria aqui. Seu turno acabou faz um tempo já, a gente ainda vai sair hoje, né? - Matt gritou do outro lado da porta.
Louis e Harry se olharam novamente, contudo dessa vez a expressão facial de Styles estava mais clara e transparecia frustração, susto, receio ao mesmo tempo que suas íris verdes pareciam súplica-lo algo.
Tomlinson ainda permanecia estático e sem reação pelo o que causara, ele queria se matar ali mesmo.
Harry não superara os últimos acontecimentos. Praticamente permanecia entorpecido e viciado nos lábios do menor. Ele descobrira que beijos eram melhor que chocolate e só queria agarrar Louis ali e beija-lo mais e mais e mais.
Entretanto nunca arriscaria ser rejeitado. Então preferia ficar na sua...
Quando Matthew estava clamando por Tomlinson - pois eles provavelmente sairiam depois do turno - algo começou a florecer no peito de Harry. Um sentimento conhecido: dor.
E essa dor estava prestes a se tornar pânico porque ele sinceramente não conseguiria lidar com aquilo.
Seu coração estava acelerado, não mais pelo beijo mas sim porque um cara estava do outro lado da porta confirmando um encontro com o seu Louis. E ele precisava que Louis ficasse. Ele necessitava disso.
Harry se sentia pequeno e vulnerável. Havia sido exposto a partir do instante que permitiu Louis selar seus beiços.. E agora lá estava ele sem saber como reagir ou digerir as coisas. Suas muralhas de proteção se quebraram e Styles sentia-se exposto a todo tipo de invasão e guerra interna que pudesse existir.
Nada mais o protegia.
Harry olhava cheio de expectativas para Louis, porque honestamente expectativas eram as únicas coisas que lhe restaram além das incertezas e fraquezas.
Louis o devolvia o olhar porém indeciso sobre o que fazer.
Ele não queria simplesmente ser hipócrita e aceitar outro encontro com Matthew justamente na frente de Harry. Isso seria uma ofensa e ele jamais se perdoaria.
Contudo também não estava a fim de dizer não, e nem era porque tinha pena de Matt, mas sim porque se dissesse não saberia que simultaneamente estaria dizendo sim a Harry, sim a continuação dessa história irresponsável e inconsequente.
E no meio dessa fumaça nebulosa de pensamentos Louis escutou um sussurrar fraco:
- Vá.
Styles parecia bem - mesmo que no fundo estivesse mais quebrado que nunca.
E Louis estava prestes a dizer que não iria porque gostava mais do cacheado do que qualquer outro ser vivo nesse lugar, mas escutou a voz persistente de Matt.
- Lou?
E o apelido que Matthew usou para chamar Louis fez o estômago de Harry embrulhar, porque era ele quem o chamava assim.
E não aguentando mais a frustração corroer seu interior, Harry encarou Louis com uma expressão impaciente, utilizando uma voz mais severa:
- Vá, Louis.
De repente Louis acordou do transe e negou com a cabeça.
- Eu sinto muito. Eu não quero ir, mas eu também não posso ficar. - foi o que disse antes de caminhar cambaleante até a porta e destranca-la.
Assim que feito Harry esperou Tomlinson abri-la e correu por ela sem olhar pra trás.
Ambos estavam atordoados com tudo.
- Oi! - Matt sorriu para Louis ao vê-lo. - O que deu no 302? Ele está bem? - perguntou de fato preocupado.
- Não o chame por números. - Louis rangeu os dentes.
- Me desculpe. - o mais alto falou sem graça e arrependido. - É força do hábito por aqui.
- Tudo bem. Eu não estou muito bem pra sair hoje, deixemos pra outro dia, sim?- Louis disse já se distanciando e seguindo caminho para saída.
- Oh. Claro. Então, tchau?
...
Imagina que louco seria se houvesse de um teste de paixão.
Funcionaria da mesma maneira que um teste de gravidez: com uma cor X o resultado seria negativo, e com uma cor Y positivo.
Louis desejava mais do que nunca que seu teste desse negativo, porque ele não poderia retribuir os sentimentos de Harry - se é que eles realmente existissem.
O beijo dos dois o perseguia enquanto andava para a saída...
A imagem de Harry fechando vagarosamente os olhos e deixando sua insegurança se esvair aos poucos até relutantemente movimentar os lábios em sincronia com os seus era a cena mais bonita de qualquer filme vencedor de Oscar.
Styles parecia um filhotinho aprendendo algo novo, experimentando.
E essa inocência toda causava delírios em Louis.
Claro que ele negava a si próprio com todo o seu sangue que isso era algo a mais do que t***o. Lógico que não. Louis só achava Harry atraente e queria prova-lo seu ponto...
Mas no fundo, bem no fundo, ele percebeu que havia um incêndio em seu coração. Uma chama que o aquecia e que ele não havia provado antes. Estava queimando lá dentro e nenhum tipo de extintor senão o corpo de Styles abraçado ao seu poderia apagar.
- No que está pensando, pessoa avoada? - Liam perguntou ao encontrar o amigo escorado em seu carro no estacionamento.
- Nada. Estava só te esperando pra me dar carona. - Mentiu.
- Folgado. Mas, ué, você não vai sair com Matthew hoje? - perguntou genuinamente curioso e surpreendido. - Ultimamente só tenho te visto em casa depois das oito e meia.
- Nah. Digamos que não estou no clima.
- Tudo bem, entre aí então.
- Podemos passar no Mc Donalds antes? Preciso te contar uma coisa e estou morrendo de fome.
- Vamos.
...
- Você O QUÊ?!
- Você ouviu.
Minutos se passaram enquanto Louis mordiscava nervosamente o canudo de seu refrigerante e Liam continuava estático encarando as batatas.
- Diga alguma coisa. - Louis insistiu nervosamente.
- O que você quer que eu diga?
- O que está pensando, o que acha disso tudo...
- Olha, eu até diria, mas meus preceitos contam que é errado xingar seu melhor amigo de i****a, filho da p**a, inconsequente do c*****o, cabeça de merda,...
- Ouch.
- Louis, você tem noção do que fez? Tem noção do que acabou de fazer?!
Louis encolheu os ombros e fechou os dois olhos. Ele sabia que precisava exatamente disso: cair na real. E Liam seria a pessoa perfeita para ajudá-lo.
- Então vamos lá. Primeiro que você é um estudante do último ano de psiquiatria trabalhando num estágio vinculado à própria faculdade. Se eles descobrem que você BURLOU a regra de não se aproximar fisicamente de forma casual de seu paciente sua integridade como futuro doutor está arruinada, isso se eles forem piedosos e não te expulsarem do projeto E DA FACULDADE. Ai seriam mais anos e anos em qualquer outra pra finalmente se profissionalizar, lógico que carregando a reputação de ser um péssimo doutor. Segundo: p***a, LOUIS! Essa é a pior consequência! Você está ferindo Harry! Por que não nos escutou quando dissemos que ele gostava de você?! Oh, não, olhem pra mim eu sou o Louis Tomlinson um i****a que não é capaz de arcar com os próprios sentimentos e não hesita ao ferir os dos outros. Lou! Eu tinha te entendido e te confortado quando você fez todas as bostas com os outros rapazes, incluindo Nick. Mas com Harry, c*****o, com Harry é imperdoável. Eu não vou passar a mão na sua cabeça dessa vez, tá' na hora de você acordar pra vida. Você não pode simplesmente beijar uma pessoa que tem uma paixonite por você, porque isso a alimentará de esperanças e a deixará mais vulnerável ainda! E convenhamos, Harry tem esquizofrenia, epilepsia, depressão e ataques de ansiedade, ele não precisa de mais um obstáculo na vida.
Justo ele! O pior é que eu te conheço! Eu sei que você vai querer fugir disso como sempre e vai negar até a morte que também tem gostado dele, e no final vai arruinar os dois! Você vai deixar Styles pensando que não é o suficiente pra ninguém por causa das condições dele, o que não é verdade. E mesmo assim, se você continuar com isso estará entrando em um território desconhecido porque nem você nem ele saberiam como fazer funcionar o que quer que aconteça. Lembra no colegial quando você causava essas bostas? Todos te conheciam pelo seu nome do meio, William. O que está fazendo? Trazendo William das cinzas de volta?! E Matthew?! Já pensou que se ele descobrir do envolvimento dos dois pode pegar raiva de você e te dedurar por vingança?! E agora, a terceira e última parte do meu discurso: me abrace seu i****a!
Louis, que estava engasgando com as próprias lágrimas tentando não deixá-las escorrerem de seus olhos, imediatamente parou e encarou Liam completamente confuso.
- Eu disse me abrace. Eu sei que estou te dando uma bronca do c*****o, mas seria injusto eu também não te oferecer um conforto. Sei que não fez de propósito, foi algo momentâneo que no calor do momento parecia certo. Agora eu não quero mais soar como um pai repreendendo um filho, eu quero soar como um irmão com quem você deve contar sempre e também ouvir os conselhos, sendo o meu primeiro conselho você não fugir dessa situação. Encare-a, Louis. Fique lá e esteja lá por ele. Se pra você está sendo difícil, para Harry é vinte vezes mais. Vocês dois são muito parecidos, sabe? Ambos não conseguem lidar com vossos próprios temperamentos e acabam se segurando em botes salva-vidas e nadando pra longe do Tsunami. Acabam lidando da maneira errada sempre. A diferença é que Harry tenta enganar os outros e você tenta enganar a si mesmo.
Por mais que seja f**a agora, Lou, e vai ser, não corra. Eu sei que você está confuso porque bloqueia tanto os sentimentos que não tem mais capacidade para destranca-los. Mas se há uma mínima correspondência afetiva ao que Harry sente por você, porque encaremos os fatos: ele sente sim senão não teria permitido seu beijo, então não desista. Vá atrás. Não é como dizem? O amor é a forma mais inusitada de existir. Ele não tem hora pra chegar, não tem aparência ou descrição. Você não escolhe com quem é ou quando é, simplesmente acontece. E se você esperou vinte e três anos para aprender que é possível amar, então seja mestre e ensine ao "William" de antigamente que ele não precisa temer.
Obvio que tudo transcorreria como um desafio no começo, mas se for verdadeiro e eu perceber que você está mesmo mudado e disposto ao novo, então claro que eu te apoiaria eu tudo. Porque não me venha com a história de que foi só um beijo, você também tem essa convicção de que no fundo foi muito mais do que isso.