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2035 Palavras
ALICE JONES NARRANDO Entrei no carro de Mia junto com ela, e ela entrelaçou nossos dedos. Ela deitou a cabeça no meu ombro e suspirou. — Eu adoro sair com você, melhor amiga. Principalmente para fazer compras. — Ela suspirou mais uma vez. — E pra falar do Simon. — Aliás, como estão vocês dois? — Simon é o nerd que ela adotou e agora está apaixonada. Ele é até bonitinho, tem cabelos enrolados, pele bem morena e usa óculos. — A passos de tartaruga. Sabe como ele é lerdo. Mas olha, no fim de semana eu dei mais um beijo nele... E ele não fugiu. Dessa vez ele me retribuiu, finalmente. — Ela riu ao falar. — Amiga, ele é muito tímido! — Eu imagino. Mas devagar ele vai perdendo a timidez. — Ele disse que quer namorar comigo, mas como nunca namorou... Está inseguro. Disse por mensagem, né? Olha só. — Ela tirou o celular da bolsa e abriu a conversa, mostrando para mim. — Ah, eu mandei um nude pra ele. Fiquei bonita? Jesus. Não que eu nunca tenha visto os p****s dela, afinal, é minha melhor amiga, mas é bem constrangedor ver por foto. — Ficou bem gata. — Mia tem os p****s enormes, diferente de mim. — Obrigada, amiga. Chegamos no centro de Nova Iorque. A gente adora esse caos, gente correndo atrasada com cafés na mão, painéis piscando o dia todo, é tão gostoso! Descemos e Mia foi direto na loja da Pandora, como sempre. Escolheu uns 3 berloques, e depois fomos para um café, o meu favorito, que é diferente de todos os outros. Sei que o dono é brasileiro, então o café é o melhor da região, mas o local é pequeno e tem livros para lermos enquanto tomamos café. Eu gosto disso. Entramos, pedimos nosso café e sentamos em uma mesa. Qual foi minha surpresa? É, eu vi Ben e Mary entrando no mesmo café que eu. Em toda a enorme Nova Iorque, eles tinham que vir exatamente aqui. Os dois nem nos viram. Sentaram em uma mesa, conversando, e eu vi Ben tocar a mão dela. Ele sorria de um jeito que nunca sorriu para mim. Naquele momento eu entendi que se ela o fizesse feliz, estava tudo bem, mesmo que isso partisse meu coração. Eu terminei meu café e saí com Mia. Os dois estavam tão ligados um ao outro que nem nos viram, nem mesmo quando levantamos para ir embora. — Ei, aquele não é o Ben? — Mia disse. — Oi, Ben! — Ela gritou, e eu quis matar minha melhor amiga. — Oi! — Ele acenou e eu também, já que Mary e ele educadamente nos cumprimentaram. Depois, fomos embora. — Cara, você sabia que você meio que quebrou o clima de um encontro, né? Sua s*******o. — Reclamei com Mia. — Ai, aqueles dois nem combinam. A Mary é uma chata, perfeccionista, e o Ben é todo doidão. Já falo que isso não vai dar nada certo. — Eu sorri ao pensar nessa possibilidadde, mas fiquei em silêncio. — Amiga, por que você nunca fala de garotos? Você é sapatão por acaso? — Caí na gargalhada. — Olha, eu seria de boa. Tem umas meninas no colégio que são bem gatas, viu? — Ri ao falar. — Mas não, eu não gosto de garotas. E eu acho o termo "sapatão" muito feio. Devemos ter respeito com todo mundo, Mia. — Eu sei, eu sei. Desculpa. Às vezes eu esqueço que você tá me adestrando pra ser menos otária, e aliás, obrigada por isso. — Fica tranquila. Eu também não nasci sabendo sobre ser respeitosa com as diferenças e ter menos preconceito. Meu pai é um militar aposentado, né. Sabe como é. Mas a gente vai aprendendo. — Olhei para baixo e coloquei as mãos nos bolsos. — Tá, mas agora não desconversa. Por que você nunca fala de garotos? Você é fria demais ou tem vergonha da sua melhor amiga? — Ri ao ouví-la, mas senti uma pontada de tristeza. — Se você quer saber, o cara que eu gosto não gosta de mim. Então prefiro ficar quieta e nem me iludir sobre isso. — Ela fez um biquinho, como se estivesse triste. — Eu sinto muito. Como é o nome dele? — Agora eu preciso inventar um nome. — Harry. — Bom, o Ben chama Ben Harris, é meio próximo. — Você não o conhece. E não conta pra ninguém, tá? Ele... Ele não gosta de mim e é isso. Eu só preciso esquecer essa droga de sentimento, mas ele confundiu tudo em mim e piorou as coisas... — Droga, falei demais. Eu e minha boca enorme. — Como assim? — Tá... Ele me deu um selinho e disse que eu estava linda. Depois pediu que eu esquecesse aquilo, e faz sentido, afinal, ele estava muito bêbado. — Mas quando a gente tá bêbado, a gente faz muita coisa do que tem vontade. Você sabe disso, né? — Neguei. — Não. Ele deve ter me confundido com outra pessoa. Nós somos só amigos e bom, deixa pra lá. Eu não gosto nem de falar sobre isso porque me machuca, entendeu? — Desculpa, Alice. Acho que você merece um presente hoje, pra tirar essa tristeza do seu coração. Vem, vou te dar uma roupinha legal. — Ela saiu me arrastando para uma loja de roupas. E eu neguei com a cabeça. — Não! Eu não gosto que você compre coisas caras pra mim, por favor, não faz isso! — Para de ser chata! Você é minha melhor amiga, eu quero te presentear! — Entramos na loja. Eu nunca venço a Mia, ela é muito teimosa. Ela me levou para a sessão de blusas, já que eu gosto bastante de moletons. Mexendo em alguns, ela encontrou um azul claro, com um padrão de rouxinois muito fofo. E o melhor: Não era caro, e pra ajudar, estava na promoção. — Esse é sua cara. — Eu concordei. — Olha, eu tenho dinheiro, não quero que pague. E se você insistir, eu vou ligar pro Simon e falar que você acha ele lerdo. — Ela fez uma cara impagável de surpresa. — Que vaca! — É isso aí. Acabei comprando o moletom. Vinte dólares é um bom preço. Depois do nosso passeio, o carro de Mia me deixou em casa e eu vi meu pai podando algumas plantas do jardim. — Filha, boa tarde! — Ele sorriu e eu dei um beijo em seu rosto. — Oi. Olha só, comprei um moletom no passeio. Foram vinte dólares, tá? — Ele concordou. — Tudo bem. Está mais animada? Você parecia triste hoje de manhã. — Estou, estou sim. Vai ficar tudo bem. São coisas da escola. — Sabe que pode contar comigo, não sabe? Eu acho que tem a ver com... — Ele abaixou o tom de voz. — O Ben. — Esquece ele, pai. Deixa pra lá. Entrei em casa e me joguei na cama. Eu estava exausta emocionalmente, mas aí, pra piorar, meia hora depois de eu ter chegado em casa, ouvi batidas na minha porta e Ben entrou. — Oi! — Ele sorriu e se jogou ao meu lado na cama. — Ah, Ben, sério? Eu tô cansada. — Reclamei. — Qual é... Não quer saber do meu encontro com a Mary? — Sinceramente? Não. — Virei de costas para ele, e ele deu risada. Ele deve achar que tô fazendo drama. — Tá com ciúme? Por favor, você sabe que sempre será minha melhor amiga e nada nem ninguém vai nos separar. — Eu me virei de volta para ele. Agora, nós dois deitados um na frente do outro, com o rosto tão perto... Isso me dá uma raiva! Porque, bom, eu não posso fazer nada. — Não estou com ciúme. Eu estou cansada. É só isso. — Você tem ficado bastante cansada ultimamente. Não é melhor fazer uns exames? — Droga. Droga, droga, droga. — É, vou fazer. Anda... Me conta como foi. — Eu a beijei. — Ele sorriu, satisfeito. — Ela disse que gostou, mas disse que não quer ter um namorado agora, porque está focando nos estudos. Mas que aceita conversar comigo, disse que eu sou legal e essas coisas todas. — Ah, que legal. — Uma parte de mim chorava, e outra dava graças a Deus. — É, mais ou menos. Eu acho que ela não gosta de mim, não. Fiquei sabendo que ela é afim de um amigo meu, acho que ela quer ser minha amiga pra chegar nele. — Ergui as sobrancelhas. — Ela não me parece uma pessoa que faria isso. — Ele sorriu. Que sorriso lindo. — Você é uma pessoa que não faria isso, Alice. Ela faz o que precisar pra chegar aonde quer. Acredite. — Por que diz isso? — Questionei. — Fiquei sabendo algumas coisas sobre ela... Eu tô em dúvida se ela é realmente uma boa pessoa. Parece que ela ficou com um professor que é casado para não ficar com nota baixa. — Agora sim eu estou surpresa. — A Mary? Não é possível. — É, é sim. E uma prova disso é que a nota dela aumentou magicamente e o professor se separou. — Caraca. Que coisa bizarra! — É, pois é. Enfim... Eu tô meio em dúvida sobre ela, de qualquer forma. O que você acha que eu devo fazer, Alice? — Ele me perguntou. É errado eu falar que ele deveria me beijar e esquecer qualquer outra garota? É, é errado. — Segue teu coração. É o que eu posso te falar agora. Essa situação é bem complicada. — Meu coração é meio burro. É por isso que eu sempre pergunto as coisas pra você, você é bem mais inteligente que eu. — Acabei dando risada ao ouvir. — Eu? Sério? Não, não mesmo. Mas obrigada, de qualquer forma. — Tá, agora me conta. Por que você nunca me fala sobre suas paixonites? Eu te conto sobre todas! — Meu rosto se encheu de seriedade. — Cara, você e a Mia combinaram de encher meu saco com esse assunto? — Ele riu da minha cara. — Não! Eu nem falo direito com a Mia. Acho ela muito chata, aliás. — Não fala assim dela. Ela é uma pessoa boa, só é um pouquinho fútil e tá tudo bem, porque ela pode. O pai dela não tem tempo pra ela, Ben, e demonstra amor dando presentes. A gente tem que respeitar isso. — Nunca tinha parado pra pensar nisso, Alice. É verdade. — Ele suspirou. — Tá vendo? É por isso que eu gosto de você e te acho inteligente. Você devia ser psicóloga. — Gargalhei. — Eu quero estudar marketing. — E eu quero ser um administrador. E nós vamos trabalhar juntos na mesma empresa. Quem sabe até abrir uma sociedade. Como poderia ser o nome? Benalice Corporation. Aliben. Benjamalice. — Meu Deus, Ben, nossos nomes ficam péssimos juntos. — Girei meus olhos com um sorriso no rosto. — Ah, só os nomes. Porque ficamos lindos juntos, olha só. — Ele sacou o celular e ligou a câmera. Eu fiz o sinal de paz e um bico de beijo, enquanto ele mostrou a língua. Ele me mostrou a foto e sorriu. — Olha só. Somos muito gatos. — Deus me livre, eu fiquei parecendo uma topeira careca. Apaga isso, pelo amor de Deus. — Não. — Ben, me dá o celular! E agora, começou uma guerra para pegar o celular até que Ben caiu no chão, e eu caí por cima dele. Que droga. Eu odeio ficar tão perto assim dele, mas ele parece gostar mais do meu espaço pessoal do que eu mesma. Tomei o celular da mão dele e me levantei, deletando a foto. — Você deveria jogar futebol também. Bruta. — Disse e riu. Eu joguei o celular pra ele e fui até a porta do meu quarto, a abrindo. — Tchau, Ben. Me deixa dormir, vai. — Ele se levantou e veio até mim. Agarou meu rosto com uma das mãos e tascou um beijo na minha bochecha. — Tchau, chata. Até amanhã. Descansa. Eu. Odeio. Minha. Vida.
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