Não resta dúvidas

1298 Palavras
Ares Preciso de todo o autocontrole que, no momento, parece inexistente para não voltar lá. A imagem de Nicolas, com aquele sorriso presunçoso, após ter olhado para Jully com aquela cobiça tão evidente, é como um espinho cravado na minha mente. Gostaria de fazê-lo engolir cada um de seus dentes brancos e alinhados. A ideia de que ele estará presente na vida dela todos os dias é quase insuportável, uma sensação que me faz ferver de frustração. Começo a questionar minha decisão de não a ter colocado para trabalhar com Hades. Talvez fosse a alternativa menos torturante. Não consigo decidir o que é pior, mas pelo menos me irmão eu poderia quebrar a cara sem virar um escândalo. – Não se esqueça de descansar, Ares – ela diz, com um tom repreensivo. – Este final de semana terá uma corrida. Vou pedir uma revisão completa do carro. – A maneira como fala comigo é quase como se fosse minha mãe. Gosto quando ela demostra esse cuidado excessivo e a preocupação comigo. – Você sabe que não precisa é minha mãe, não sabe? – Ergo a sobrancelha minhas palavras com uma pontada de ironia. – Comporte-se como um adulto responsável, e eu paro de agir como se fosse – ela responde me desafiando. Deixo Jully próxima à sua casa, ela não me deixa ir até lá. E então, vou em direção à balada que já se tornou um refúgio habitual. Sinto necessidade de esvaziar minha mente antes que fique completamente louco. Ainda é cedo, um bom momento para beber um pouco mais à vontade. A música alta, as luzes pulsantes e o aroma de álcool no ar parecem oferecer o alívio temporário de que tanto preciso. Assim que entro, sou envolvido pela atmosfera elétrica que permeia o local. Procuro um canto tranquilo no bar, decidido a afogar minhas preocupações em um copo de whisky. Enquanto espero pelo meu pedido, meus olhos vagam pelas pessoas que já estão por ali. Em um canto, avisto uma garota de cabelos escuros e olhos brilhantes. Tomo um gole da minha bebida e permito que minha mente vagueie. Deixo que ela perceba meu interesse. Não estou com muita paciência para joguinhos hoje. Ela se aproxima, com um sorriso sedutor dançando nos lábios. – Oi – diz me olhando de cima a baixo. – Parece estar um pouco solitário aqui, Ares, gostaria de companhia? – É claro que ela me conhece... – Hoje a noite parece estar muito animada, não é? – A maior parte das vezes eu espero até ter dado uma olhada em todas as mulheres, mas hoje não é um dia convencional. – Acho que pode ficar melhor, você não acha? Seu sorriso dobra de tamanho. – Definitivamente – ela responde, com uma risada suave. A conversa flui de maneira fácil, ela tenta manter meu interesse com bastante determinação, mas cada vez que olho para seu sorriso, só consigo pensar em Jully. Sei que vou acabar perdendo a cabeça algum dia desses. Tenho tido sorte porque ela não costumava sair sem mim, mas agora, trabalhando no escritório daquele imbecil... Viro o meu copo de uma vez sem ter prestado atenção no que a mulher diante de mim estava falando. Meu olhar vagueia ocasionalmente em direção à pista de dança, onde as luzes pulsantes criam um espetáculo hipnotizante. Fico um pouco distraído, m*l notando que a mulher diante de mim continua falando. Porém, um comentário final dela finalmente chama minha atenção. – Uau, você parece um pouco tenso – ela diz, com um sorriso provocador. – O que acha de sairmos daqui e eu te ajudar a aliviar esse estresse? Suas palavras me fazem voltar à realidade, e por um momento, imagino como seria esquecer meus problemas e preocupações me enterrando nela, mas só de pensar em Jully, sinto que nada vai resolver. Dou um sorriso agradável, tentando não parecer rude. – Eu realmente aprecio o convite, mas acho que vou ficar por aqui mesmo esta noite. Talvez numa próxima, ou quem sabe quando eu estiver um pouco menos sóbrio. Ela parece um pouco desapontada, mas seu sorriso não desaparece. – Bom, se você mudar de ideia, estarei aqui. Agradeço com um aceno de cabeça e volto a minha atenção ao copo de whisky na minha mão. Enquanto o líquido queima minha garganta a mente fica ainda mais tumultuada. Será que eu aguentaria ver Jully nas mãos de outro? Pego meu celular e procuro pelo número do Ferri em minha lista de contatos, por sorte ainda o tinha. Com a mente fervilhando, preciso fazer algo para lidar com a situação. Mesmo que Jully possa ficar furiosa comigo por falar com ele, não posso evitar a sensação de que preciso tomar alguma atitude. Saio da boate e encontro um local mais tranquilo para ligar. O telefone chama algumas vezes antes que alguém atenda do outro lado. – Alô? – Ele atende parecendo cansado. – Nicolas, sou eu, Ares – digo, mantendo a voz firme. Há um breve momento de silêncio do outro lado, como se Ferri estivesse processando quem eu era. – Ares? Há quanto tempo não nos falamos, e hoje já é a segunda vez. – Sinto o sarcasmo em sua voz. – O que está acontecendo?" Respiro fundo antes de continuar. – É sobre Jully. Preciso falar com você, mas pessoalmente, podemos no encontrar em algum lugar? – Entendo. O que está acontecendo, exatamente? – A voz de Ferri soa mais séria agora. – Me diga onde podemos nos encontrar e falo pessoalmente. – Digo já perdendo a paciência. Ele me pede para ir a um restaurante que é próximo a casa dele, e quando chego ele já está me esperando. O ambiente do restaurante fica tenso quando me aproximo da mesa onde Nicolas está sentado. Ele me cumprimenta com um aceno de cabeça e um olhar penetrante, carregado com a inimizade evidente que paira entre nós. – O que você quer, Ares? – Nicolas começa, sua voz carregada de impaciência. – Vamos direto ao ponto. Eu suspiro, sabendo que essa conversa não será fácil. – É sobre Jully... Seus olhos estreitam, e ele cruza os braços. – Ah, a minha nova secretária. O que há com ela? Minha mandíbula se aperta ligeiramente, mas eu mantenho minha compostura. – Você sabe muito bem o que está acontecendo. Eu vi como você a olha, vi o seu interesse estampado na sua cara. Não vou permitir que você entre na vida dela. Nem que tente brincar com seus sentimentos. Nicolas solta um riso de desdém. – E quem disse que pretendo brincar com os sentimentos dela? Não sou tão insensível como você parece acreditar. – Eu a conheço, e não vou ficar de braços cruzados enquanto você a magoa. – E o que você faria, Ares? Acha que é o protetor dela? Ela é uma mulher adulta e pode tomar suas próprias decisões. Minhas mãos cerram-se em punhos sob a mesa, lutando para manter a calma. Não conseguiria mentir para ela se caso ela visse seu novo chefe com a cara destruída. – Ela é minha melhor amiga, Nicolas. – Ah que bonitinho... – Ele sorri. – Sua melhor amiga sabe que você é tão possessivo em relação a ela? Talvez você seja o problema aqui, Ares. Talvez você não a deixe ser livre para fazer suas próprias escolhas. Minha pouca paciência está chegando ao fim. – Só fique longe dela! – Você não pode controlar tudo, Ares – ele rebate, seus olhos me desafiando. – E se ela me quiser, não serei eu a rejeitá-la. Saio do restaurante mais perturbado e furioso do que quando cheguei, se antes tinha alguma dúvida das intenções dele, agora eu já tinha certeza de que ele a queria, e estou enlouquecendo por não saber o que fazer.
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