Ares
Para! – Bufou. – Eu não estou mentindo, Ares, você é quem tem probleminhas em aceitar que nem todas as mulheres do mundo vão se jogar aos seus pés e implorar por algumas horas de prazer na sua cama! – Revirou os olhos. – E depois ainda se sentir vazia e usada.
Eu jamais a usaria...
– Bom, então vamos ao que interessa. – Desviei de assunto inspirando profundamente. – Você sabe quais são os pilotos de hoje?
– Você também saberia, se voltasse sua atenção ao que importa.
– Pelo jeito, hoje você vai ficar me cutucando... Se quiser tirar um tempo para você, tudo bem, Jules. – Se tem algo que odeio é quando não estamos em sintonia. – Eu dou meu jeito.
Ela me lança um olhar frustrado e, por um momento, percebo que nossas diferenças não estão apenas na superfície. Jully e eu compartilhamos sentimentos complexos e nossa amizade é, ao mesmo tempo, um refúgio e uma fonte de conflito. Ela é a única pessoa que não hesita em me enfrentar, que me vê além das aparências.
– Não é isso que eu quero, Ares. – Ela suspira, parecendo cansada. – Só quero que você pare de levar uma vida tão superficial. – Jogou algumas revistas no capô. – Viu as notícias sobre você e seus irmãos.
– Acho que você é uma stalker. – sorri sem humor. – Não olho essas coisas, tenho preguiça disso, e assuntos mais importantes.
– É, muito mais importantes, como dar a eles gasolina para soltar mais e mais dessas matérias.
Minha expressão endurece diante das palavras dela. Eu sei que ela está certa, mas também sei que não é tão fácil assim.
– Eu aprecio sua preocupação, Jules. Mas não é tão simples quanto parece. – Minha voz soa mais áspera do que eu pretendia.
Ela parece prestes a dizer algo, mas se contém, suspirando novamente. Nossas emoções estão à flor da pele, e é difícil encontrar um equilíbrio entre o que sentimos um pelo outro e as diferenças que nos separam.
– Desculpe se estou sendo irritante. Só quero te ver bem, Ares. – Ela diz suavemente, e por um momento, vejo a vulnerabilidade em seus olhos.
Respiro fundo, tentando suavizar minha expressão.
– Eu sei, Jules. E eu valorizo sua amizade mais do que você imagina.
Ela me lança um sorriso triste, e sei que estamos novamente em terreno seguro. Apesar de nossos desentendimentos, nossa amizade é mais forte do que tudo isso.
– Agora, sobre os pilotos de hoje... – Ela começa, mudando de assunto de forma deliberada.
Nós dois sabemos que podemos não concordar em tudo, mas quando se trata de corridas, somos uma equipe formidável. Enquanto ela fala sobre os pilotos e suas estratégias, deixo de lado as preocupações pessoais e me concentro no que realmente importa: vencer a corrida.
É assim que funcionamos, Jully e eu. Unidos pela paixão pelas pistas, mesmo que nossas vidas pessoais sejam um quebra-cabeça complexo e confuso. Enquanto o rugido dos motores preenche o ar, nos perdemos nas emoções da competição, deixando de lado temporariamente nossos próprios dilemas interiores.
Ainda estávamos no começo das eliminações, a final está muito longe, mas realmente preciso me concentrar.
Um nome diferente na lista me chamou atenção.
– Temos uma nova corredora? Ainda não tinha visto esse nome em nenhuma das anteriores.
– Acho que sim, também não a vi correndo ainda.
Jully e eu compartilhamos um olhar intrigado enquanto observamos a lista de competidores. Um novo corredor é sempre motivo de curiosidade, especialmente porque, neste circuito, já conhecemos a maioria dos pilotos. A competição é acirrada, e qualquer novo concorrente pode trazer uma dinâmica imprevisível para as corridas.
– Deve ser interessante vê-la em ação. – Comento, me preparando mentalmente para avaliar o desempenho da nova corredora quando chegar a sua vez.
– Sem dúvida. – Jully concorda, seu olhar ainda fixo na lista. – Vamos para a torre, os primeiros já devem estar correndo.
A torre era um local que eu tinha comprado apenas para poder observar sem ser visto, a pista era afastada o bastante para não chamar atenção e eu fazia questão de ter alguns contatos na polícia para que ignorassem o que acontecia aqui.
Enquanto observamos, os competidores vão se revezando na pista, mostrando suas habilidades e estratégias únicas. A adrenalina carrega o ar, e eu me concentro em analisar cada movimento, cada curva e cada ultrapassagem. Corridas são meu escape, meu lugar onde posso me desconectar de tudo e focar apenas no presente.
Finalmente, o nome da nova corredora é chamado, e nossos olhos se fixam na pista. Ela acelera com determinação, entrando na primeira curva com confiança. Seu estilo é ágil, e parece que ela conhece bem as peculiaridades da pista.
– Ela não está indo nada m*l para alguém que é nova aqui. – Jully observa com um tom de aprovação.
Concordo com um aceno de cabeça enquanto continuamos a observar a performance da corredora. Ela parece se destacar, e seu desempenho chama a atenção de todos na área de observação.
– Quero saber um pouco mais sobre ela. – Digo pensativo. – Ela é muito boa.
– Já tivemos outras centenas de corredores novos nessa pista, por que esse interesse repentino? – Havia uma pontada de irritação em sua voz. – Ela é boa sim, mas outros também são.
Respiro fundo, compreendendo Jully. Ela está certa, não é incomum termos novos corredores entrando na competição, e muitos deles têm talento. Mas algo na maneira como essa corredora se moveu pela pista capturou minha atenção de forma única.
– Eu sei, Jules, é só que... – Busco as palavras certas para explicar. – Não sei, ela tem algo diferente. Um estilo único, uma confiança que parece natural, não forçada. Pode ser só uma intuição boba minha, mas estou curioso para saber mais.
Jully revira os olhos, mas parece mais do que irritada agora.
– Tudo bem, Ares, vou fazer algumas perguntas discretas nos bastidores e ver o que posso descobrir. Mas não garanto que vá encontrar algo especial.
Sorrio agradecido por sua disposição em ajudar.
– Isso é tudo o que peço. Não quero que isso se torne um grande negócio, só estou curioso.
Ela revira os olhos novamente, mas desta vez abre um meio sorriso.
– Curiosidade matou o gato, lembra?
– Mudando de assunto, o que acha de darmos um perdido depois da corrida? – Esbarro a lateral do meu corpo em seu ombro. – Sabe que vai ser divertido, você consegue correr em paz, nada de família para te ditar regras...
– Tentador... mas estou me sentindo tão cansada. O trabalho está acabando comigo.
– Saia de lá! Posso te pagar mais do que o dobro para ficar comigo apenas cuidando das peças e do carro, coisa que eu sei que você gosta muito mais do que estar presa em um escritório.
Ela deu um sorrisinho.
– Apesar de você estar certo sobre as minhas preferências, a verdade é que estou amando trabalhar ali, e Nicolas realmente leva em consideração as coisas que eu falo.
– Cuidado para não estar fazendo exatamente o que diz que não quer, ser mais uma na cama.
Seus olhos cintilaram de fúria.
– Sou vacinada, aprendi tudo com você. – E vamos nós voltar ao clima estranho.
Nicolas está realmente começando a me incomodar.