Episódio 4

1851 Palavras
— Lisa? O que você está fazendo aqui tão cedo? Levantei a cabeça pesada e olhei para Katia, a administradora do salão onde consegui emprego há dois dias. Ela está de manhã cedo, como sempre, desfilando: com cachos impecavelmente penteados e maquiagem profissional. E sentei-me na escada em frente à porta do salão com capa de chuva e chinelos, o que parecia que eu tinha passado por uma guerra nuclear, enquanto caminhava para o trabalho com eles à noite. Os meus olhos estavam inchados, meu rosto provavelmente ainda estava inchado e vermelho, chorei aqui até o cansaço me dominar e o sono tomar conta de mim. Então dormi, encolhida na escada, como uma sem-teto. Não sou uma, mas estava como uma. — O que aconteceu? — Katia arregalou os olhos ao ver o meu rosto. Tirei a minha língua seca do céu da boca e murmurei com voz rouca: — Você pode me emprestar o seu telefone? Eu tive problemas e o meu... — Sim, claro, só não fique sentada aqui. Vamos entrar. As minhas pernas estavam dormentes, eu não tinha absolutamente nenhuma força nelas. Katia me ajudou a levantar e, assim que entramos, me emprestou o telefone e ofereceu café, mas pedi chá. Tenho medo de que a cafeína possa me deixar enjoada com o estômago vazio. O sofá de couro quase me fez voltar a dormir. Mas depois de uma série de bipes no telefone, o meu coração começou a bater de forma alarmante, afastando a sonolência. O meu irmão não atendeu. Ele era assim. Ele era uma pessoa que não gostava de segurar um telefone nas mãos o tempo todo e pode facilmente esquecê-lo por várias horas. E simplesmente, cochila às nove e meia da manhã. Hoje é meu terceiro dia de trabalho. E minhas mãos estão tremendo. Como farei a massagem? A minha cabeça está nadando de fome. — Lisa, me diga o que aconteceu? — Katia sentou-se ao meu lado e olhou-me nos olhos com curiosidade, entregando-me uma caneca de chá quente. Acontece que ainda restam lágrimas. Elas tremeram sob os meus cílios e meu nariz começou a formigar. O meu peito apertou novamente com desespero. E o fato de uma pessoa quase desconhecida para mim estar preocupada comigo tocou-me profundamente. Não tenho ninguém para quem ligar, ninguém a quem recorrer. Estou completamente sozinha. Quando vou conseguir falar com o meu irmão? De qualquer forma, ele não virá correndo com o dinheiro neste segundo e, muito possivelmente, eu também terei que dormir na rua essa noite. Não pensei nisso ontem, mas é improvável que o meu irmão me dê muito. Ele sempre não tem dinheiro, tudo vai para a esposa, que senta em seu pescoço, e para os dois filhos. Será bom se ele pelo menos ajudar a encontrar os golpistas. — Posso dormir um pouco no salão? Eu volto a olhar para Katia. — Não tenho para onde ir... — Lisa. Qual é o problema? Mordi o meu lábio. Eu não queria mentir para ela que o meu apartamento pegou fogo ou algo parecido. A verdade ainda será revelada. E eu não queria perder este lugar. Gostei do salão, tem um bom interior, bons salários e funcionários simpáticos. Então eu contei tudo a Katis com entusiasmo. Quase tudo. Documentos falsos são tabu. — Então por que você não quis esperar a polícia? — Porque o meu ex vai me encontrar através da polícia. Eu falei. Katia estreitou os olhos fortemente maquiados. Na minha opinião, durante a história ela se afastou de mim e se acalmou. Ela definitivamente não esperava ouvir isso. — Bem. Então, o que você vai fazer agora? — Não sei. Preciso ligar para o meu irmão. Por algum motivo ele não atende o telefone. Ela assentiu, olhando para mim com um olhar penetrante, especialmente olhando para os joelhos nus que apareciam pela fend*a da capa e para os chinelos arruinados. — Você pode me dar o número do seu cartão para que o meu irmão, caso aconteça alguma coisa, possa enviar dinheiro para ele? Eu perguntei. Katia suspirou, pegou o telefone e ligou para alguém. — Natasha? Você pode trabalhaf hoje em vez de Lisa? Ela ficou doente. Sim. Ótimo. — Eu não... Comecei, mas a recepcionista me parou com a mão e desligou. — Olhe para você. Ela se levantou e caminhou para trás da recepção. —Não quero que você receba clientes assim. — Eu. Vou me colocar em ordem! — Levantei-me com o coração batendo forte e alisei mecanicamente minha capa, enrolando-a em volta do peito. — Eu trabalho com o jaleco. — E por baixo do jaleco você vai estar usando calcinha e camiseta? Não há nem sutiã. Somos um salão decente. — Ela se tornou severa, jogando fora completamente a boa vontade e construindo um muro entre nós. Senti uma sensação de enjôo na boca do estômago. Mas eu não queria desistir. — Talvez devêssemos pedir a uma das meninas para pegar algumas coisas em casa? Balancei a cabeça em direção ao telefone. — Por favor, tenho certeza que ligarei para meu irmão antes do anoitecer. — Vá negociar com o dono do apartamento. Ela acenou com a mão e fingiu estar terrivelmente ocupada com algo atrás do balcão. Agora essa parede veio até mim e me bateu na cara. — O que? Katia encolheu os ombros. — Explique tudo para ele. Diga a ele que seu ex está procurando você na polícia. Talvez ele acredite. — Mas é verdade! Fiquei indignada. E infelizmente parecia falso. A minha voz estava falhando, tremendo devido às lágrimas amargas que se aproximavam. — Certamente. Mas não precisamos dessas histórias aqui, sabe? Tudo dentro de mim quebrou e desabou. Acabei de ser demitida? Ou eles apenas sugeriram sutilmente para não vir até que eu mesmo resolvesse os meus problemas? Esperando pela segunda opção, mordi o interior das bochechas e me forcei a ir até a saída. Quanto mais eu tentava persuadir Katia, pior ficava. Também vou estragar tudo. Já que ela literalmente me mandou para a floresta. Enquanto descia as escadas correndo, minhas chaves tilintaram no bolso. É improvável que a polícia esteja rondando o apartamento. Eles, talvez, por insistência do dono, já estejam me procurando. Com esse pensamento quase tropecei no último degrau. É melhor não aparecer no salão. Também acham que sou uma fraude, tenho um cúmplice e um lugar para me esconder. Ninguém espera que eu volte. Pelo menos eu poderia arriscar entrar furtivamente no apartamento, pegar algumas roupas e comer um pouco. O conselho de Katia para negociar com o proprietário, especialmente depois que eu fugi, é absurdo. Ele vai acreditar que a namorada dele pegou o meu dinheiro e literalmente me empurrou pela janela? A estrada de volta para casa esgotou as minhas últimas forças. Estava insuportavelmente quente na capa de chuva e o meu estômago parecia estar preso na espinha de fome. Eu ainda estava com muita sede. Talvez o sol tenha me atingido na cabeça, mas ao me aproximar da casa, ainda assim resolvi correr o risco de conversar com o dono. Ele provavelmente escreveu uma declaração contra mim, e se eu não o persuadir a retirar, além do meu ex, a polícia também me colocará na lista de procurados. Então, eu poderei enterrar completamente a minha esperança de uma vida normal. O que direi a ele? O cérebro, superaquecido pelo sol, estava lento em seus pensamentos. Ao ver a porta da frente, queimei com um único desejo, tirar toda a roupa e mergulhar na água gelada. Não perdi a cautela. Eu olhei em volta, e subi as escadas silenciosamente e, antes de tocar a campainha, encostei o ouvido na porta. Nada pode ser ouvido acima do meu pulso frenético. Eu deveria ter ficado de pé e escutado algum barulho, mas as minhas pernas cederam, e o meu corpo exausto ganhou vida com tremores nervosos. Bati, apoiando a minha testa quente contra o metal frio. Talvez eu esteja cometendo um erro? Talvez eu devesse pedir um número de telefone a alguém que está passando e tentar ligar para o meu irmão novamente? Novamente, pela terceira vez na última hora... E se algo acontecer com ele e por isso ele não responder? A ansiedade apertou os meus pulmões. Bati mais alto. Parece que não há ninguém na casa. Fico na porta até o dono voltar? E se ele vier à noite? Não, não, não, vou enlouquecer esperando tanto tempo. Com dedos trêmulos, inseri a chave na fechadura, abri e entrei no apartamento. Congelei por um segundo, como se esperasse ser levada por um furacão. Ninguém. Estranho. No corredor, tudo está exatamente como ontem à noite. O paletó do Damião está no gancho, a mala está perto da cômoda. O piso de cerâmica fosco está um pouco sujo, como se tivesse sido pisado com sapatos sujos. Desabotoei a minha capa de chuva empoeirada e suada, coloquei chinelos extras e entrei no quarto. Até o lençol ainda está pendurado na janela, a cómoda está ligeiramente aberta, a tábua de passar está torta e a porta está pendurada na dobradiça. A caixa está rachada. Damião finalmente derrubou a porta. e depois desistiu de tudo e saiu com Margot para comemorar? Ufa, ele provavelmente cancelou a ligação para a polícia. O alívio tomou conta dos meus nervos como uma onda fria. Ninguém está me procurando. Entrei no quarto onde a janela estava quebrada e notei o meu celular em cima da cama! Até esqueci do chuveiro. Liguei para o meu irmão novamente e agora ele estava desligado. O que? Surgiram pensamentos inquietos de que algo realmente r**m poderia ter acontecido com ele. Ele faz um trabalho r**m paralelamente. Houve uma batida em algum lugar e eu pulei como se tivesse sido picada. O meu coração batia forte contra as minhas costelas. O proprietário pode retornar a qualquer momento. Mas por enquanto, aparentemente, o som veio dos vizinhos. Finalmente bebi água e comi, tomei banho e vesti roupas limpas. Eu voltei à vida e recobrei os sentidos. Escrevi uma mensagem para o meu irmão, embora ele estivesse online ontem. Talvez o meu ex tenha percebido que o meu irmão me ajudou a escapar e bateu nele? Ou o que é pior? Para não entrar em pânico, decidi me manter ocupada com alguma coisa. Tirei os cacos, joguei os lençóis na máquina de lavar e lavei o chão. E então, apoiada no esfregão, eu congelei na frente do paletó de Damião, pendurada em um gancho. Estando ao lado dele, experimentei sensações estranhas, como se a energia do dono permanecesse no tecido. Ela me atraiu, como um abismo puxa você à beira de um abismo para o seu abraço mortal. Ela me puxou com tanta força que foi impossível resistir. Senti-me leve e de repente embriagada, hipnotizada, estendi a mão até o paletó e passei a ponta dos dedos pelo tecido azul profundo. Pequenos impulsos fizeram cócegas na minha pele e puxei a minha mão para trás, sentindo um agradável toque fantasma num mundo estranho de luxo. Quem é ele? Talvez saber algo sobre ele me ajude a entender melhor como contatá-lo?
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