De cada canto, de cada beco visto, revistado, eu preferi pensar que Zaya tava em qualquer cozinha testando aqueles benditos pratos para o novo cardapio, em cada lugar, a medida que todos eles chegavam ao fim, eu fui mentindo para mim mesmo, até chegar a delegacia sem deixar qualquer lágrima cair, Marcos já se mostrava desesperado.
A cada enfiada de mão no cabelo, parecia arrancar um moi.
Enquanto Mário chorava, com medo de terem sequestrado ela.
Eu não podia chorar, eu não queria, porque eu sabia que a minha irmã já tinha ido ao inferno e já tinha saido de lá, tinha coisa que ela não contava pra nós, a maneira que ela ficou na UTI sozinha, escondendo as lágrimas porque tinha perdido o bebê dela e de Marcos, a primeira vez, a maneira que ela engolia o choro por cada projeto que não deu certo, eram sonhos acabados, cancelados.
Mas vendo a tranquilidade do delegado, sentado na cadeira olhando com desdém para nós e para o computador, as minhas veias queiram explodir de vez. — E o senhor vai esperar o quê? Que ela morra pra começar a procurar? — O homem de cabelo escuro, aparecia morena, meio indiano, não estava se importando tanto com a gente. — E o que lhe faz ter certeza que a sua irma esta desaparecida? Que ela não esta na casa de alguma amiga, colega...
— Ela não esta. — Marcos rosnou da porta, olhando para o tal delegado.
Desviando os olhos para Marcos, o delegado mostrava que não estava se importando mesmo. — E como o senhor sabe? Rastreia a sua esposa? — Perguntou olhando para o cunhado, se ajeitando na cadeira.
— Não, já estive em todos os lugares que ela frequenta. — Marcos disse pensativo.
— O senhor vai ajudar ou não? — Mário perguntou, contendo o choro.
— Antes eu tivesse colocado um rastreador nela. — O cunhado disse baixo.
— Não posso ajudar, só poderá ser considerado sumiço, desaperecimento após vinte e quatro horas. — O desgraçado disse, indicado que o problema era nosso, não dele.
— O que? Levante daí, faça alguma coisa, a minha irmã não é de sumir. — Gritei, a sua frente, lhe vendo me olhar diretamente desta vez, ele não parava de olhar para Marcos. — Não é assim senhora. — Disse friamente.
— Não é assim uma banana, a gente paga o teu sálario pra quê mesmo? — Disse eu, amarga, nervosa.
— A senhora não paga o meu salário, e não grite mais, caso contrário...
— Caso contrário o que? — Perguntei já soltando fogo pelas ventas.
— Desacato a autoridade é crime, eu sou a autoridade deste lugar...
— Dane-se o que o senhor é, se não sair para procurar a minha irmã agora, eu boto fogo nessa joça! — O delegado riu na minha cara, como se eu fosse uma moleca.
— Calma Bell...
— Calma uma banana, vocês não tá vendo que esse homem não quer ajudar a gente. — Eu já estava perdendo o juizo, quando Mario e Marcos saiu me arrastando porta a fora, segurando Zury no colo, ela queria a mãe, queria dormir.
Enquanto eles me acalmava, saimos da delegacia invocados. — Ele me paga, aquele filho da p**a, tu viu a frieza dele? — Disse chegando ao carro. Mas Marcos parecia calmo demais, eu até conhecia ele, mas do jeito que ele e Zaya ainda, olhei para Marcos, lembrando da confusão de ontem, cocei a cabeça, a maneira que ele ficou com ela ontem, ela ia pra o hospital, depois não foi.
O vento frio na minha cara, passava feito brasa, tudo ardia, tudo se embolava dentro de mim. — O que você prentende? Marcos? — Perguntei depois de um tempo calada, não, ele não ia ter coragem de fazer nada com ela, ia? Me perguntei vendo Zury chamegada no cagote dele, eu só podia ta doida. Pensei comigo em silêncio, até ouvir ele dizer. — Vamos pra casa..
Casa? Os grilos cantaram na minha cabeça na hora. — Você esta calmo demais pra quem perdeu a mulher assim, tu não matou minhas irmã com teus ciumes da peste não é Marcos? — Era estranho desconfiar, mas é a minha irmã e por ela, eu sou capaz de ir no inferno, ele engoliu a saliva, deu uma respirada fundo, com o tempo de envolvimento com Grego, logo descobrir que Marcos também foi do crime.. — Claro que não Bell, conversa de doido é essa? — Ele me perguntou, eu já tava com todos os pés atrás com ele.
A maneira que o delegado olhava para ele. — A gente tem que se manter unidos, vamos pensar... — Mário disse no banco de trás do carro, Marcos até tentou colocar Zury no colo dele, mas a guria não quis. — Vamos pra casa, falou com Grego, Bell? — Afirmei, a minha cabeça zumbia, uma bagunça por dentro, voltamos para casa, a noite passou em claro, tudo que era canto, tornava possibilidade, ninguém dormiu.
O apartamento de Zaya ficava pequeno, e quando o dia amanheceu não tinhamos noticia nenhuma, não tinhamos nada sobre a minha irmã, eu tinha medo, desconfiança, mas olhando as cameras do prédio que Ulisses conseguiu, a gente viu Zaya saindo sozinha de casa, por mais que tivesse a ajuda de Grego, de Paçoca, os meninos ficaram sem ir pra escola, eu e Mário nos sentiamos de mãos atadas, em meio de tudo.
— Então? — A cada vinda, a cada ida era a mesma pergunta, não tinha rotas, nem lugares, um novo dia começou a gente colando cartazes, revirando a cidade, quanto mais horas passava, o cunhado parecia murfinar, enloquecer a cada não, a cada tentativa, eu fui me acalmando com a ideia de que ela só queria um tempo pra ela, devia tá cansada de nós. — Cunho come alguma coisa. — Perguntei chegando a sala, vendo Marcos sentado no sofá, aflito, largado.
Fazia pena, eu senti o peso por ter dito besteira. —Desculpa por mais cedo, saiu sem pensar, a minha irmã esta bem, a gente vai encontrar ela. — Falei vendo um homem desesperado em casa, com tanta criança, as perguntas eram as mesmas, eu me sentia segura, mas vê-lo chorando em silêncio me partia, talvez a minha segurança, fosse vê-lo sem chorar, eu não suportava a ideia de perder a minha irmã. — Não chora cunho, por favor, a gente tá se segurando em tu. — Eu já disse com a voz embargada, rouca, apoiando a minha cabeça seu ombro. — Ela é minha vida, Bell, é tudo de melhor que eu tenho.
Eu escutei a sua confissão, como se não fosse perceptível isso, era nítido que ele era cego por ela. Não via quem não queria.
— Eu sei, mas tu acha mesmo que ela ia te deixar? A bichinha é tinhosa de doida por tu. —Falei chorando, enquanto Marcos limpou as lagrimas que não parava de cair. Eu queria ser como ele, duro, consciente, mas isso estava ficando dificil. — Deixa teu celular carregado, a gente tem que ficar atento a qualquer ligação Isabell.
— Marcos, Isabell o que estão fazendo? — A gente virou vendo Fia na porta do quarto, olhando pra gente, levantei, já não aguentando, para mim toda desgraça era por causa dela, a gente estava bem antes dela chegar, nunca tinha acontecido nada disso, depois de dar banho nos meninos, ajudar com o que poderia, fui para casa, m*l entrei o meu telefone começou a tocar.
Quando a noite virou, já não tinha desculpa, fui com Marcos para a delegacia, se o delegado queria vinte e quatro horas, ele tinha, cheguei na delegacia virada. O infeliz não tava, outro rapaz que recebeu a gente, eu não segurei, nem fui educada, o rapaz até forte veio me ameaçando de prisão, eu não pisquei, tinha medo de perder a minha irmã, mas de ser presa não.