Segunda-feira
Havia sido, não, eu não tinha noção de tempo, ao menos não me parecia ser algo importante desde que saimos do interior.
Era manhã de segunda-feira, levantei da cama me arrastando, praticamente, espriguicei-me em busca de coragem, olhei-me no espelho, notando como o sol havia trabalhado em minha pele, a marquinha do biquini se resaia bem, como um bom detalhe na pele bronzeada. Eu não tinha noção de como a vida me resguardaria tantos dias e momentos felizes.
— Mãe? Mãe? — Ainda me olhando, Beto chegou a meu quarto me chamando. — Bom dia menino, o que tu quer? — Perguntei, lhe vendo encostado na porta do meu quarto, bisbilhotando como sempre.
— Já é sete horas, mãe, não vai pra loja? — Arregalei os olhos quando ele disse, e numa pressa sem redoma, girei a chave na porta deixando meu filho entrar em seguida.
— sete horas? — Perguntei agoniada, com os olhão enorme de gato, meu filho afirmou, a inquietude dentro de mim aumentou quando peguei o celular na cabeceira, confirmando o que disse, não tomei banho, somente me vesti, enquanto os meninos também se ajeitaram, não era uma vida fácil, mas também, não era díficil.
Já estava de saída do apartamento, quando percebi que Marcos e os meninos fechava no elevador, só perguntei por ela, nada mais, o tempo era curto, no restaurante no decorrer do dia, eu me encontrava com Zaya, sai correndo com a minha prole pela cidade,a entrega dos meninos nas escolas, parecia ser uma diversão para eles, mas para mim, era mais, depois de deixar os três na escola, fui para o shopping.
E por lá passei a manhã inteira na labuta da vida, mas não n**o, que labutar com tesoura, linha e agulha, me parecia melhor do que com enxada, lenha, balde, jegue velho, era mais de meio-dia quando o estomago roncou, e naquele momento, olhei em direção a minha bolsa na mesa da frente, franzi a testa, era estranho, o meu celular não ter tocado pela manhã. — Que peste, se eu não ligo, eles também não liga. — Reclamei, levantando da cadeira. — Tô indo almoçar, a ultima a sair me espera chegar.
Avisei tirando o óculos da cara, catei a minha bolsa, tirando o jaleco, não demorei a chegar no restaurante de Zaya.
— Bell cadê Zaya? — Rosa me perguntou desorientada, a pobre parecia que ia enlouquecer. — Não sei, mas também dá um desconto pra bixinha, deve ter levado uma surra de rola, ontem tadinha! — As meninas que trabalham com a minha irmã gargalharam, eu nunca tive problema em falar palavrão, mesmo que isso me acarretasse a fama de v***a, como sempre tive.
— Negócio é que ela ficou de começar a mudar o cardápio hoje. — Falaram, enquanto eu, só destapava as vasilhas do estand de comidas. Estava com fome. — Eu vi Marcos saindo de manhã, com os meninos, deve ter pego a minha irmã de jeito ontem. — Disse me servindo, como sempre o restaurante estava cheio, comi, liguei para Zaya, mas não fui atendida, não estranhei.
Com os anos, aprendi que cada segundo, é válido, as recompensas são valiosas. Eu não achei estranho a minha irmã ficar desaparecida o dia inteiro, por mais apegados que fossêmos, tendo ela como a minha matriz, no final era certo nos reunirmos na sua cozinha fosse no final da noite, isso, descartei, por lembrar que teria mudança de cardápio essa semana.
Quando isso acontece, é um verdadeiro furdunço, é teste de receitas novas, é Zaya o tempo todo na cozinha, pensando e repensando no que fazer, no que servir, no inicio eu achava uma bobagem, mas com o tempo eu fui aprendendo que um prato tem que casar com o outro, porque nem sempre uma coisa agrada ao cliente, ela sempre aborda a primeira, a segunda, a terceira e quarta opção, e até em quem esta fazendo dieta, ela sempre elabora algo.
Fiquei no atêlie pela tarde, moldando um vestido de noiva, parei quando senti que algo tinha dado errado, liguei para Zaya, que não me atendeu, liguei pra Mário que não sabia, liguei pra o cunhado pra saber. — Oi cunhad...— O celular m*l tocou, eu já falava em tom de brincadeira, no início até achava que esses dois não ia ter jeito, mas depois, vi que eles eram perfeito um pra o outro, como sapato feito pra um pé.
— Cunho cadê minha irmã? Que exagero foi esse, dessa vez? Tô ligando e nada de atender o celular. — Eu consiguia ouvir que ele estava dirigindo, até que parou. — É todo mundo parece esta atrás dela, estou voltando pra casa pra saber, o que houve, porque não esta no restaurante, nem no shopping, em lugar algum.
— Minha irmã fugiu de tu cunho, agora fudeu, fugiu e largou nós tudo aqui. — Digo rindo,Zaya jamais ia deixar a gente, disso eu tinha certeza. — Ela pode até fugir, mas não acredito que largaria vocês, Bell. — Eu fiquei em silêncio, parecia que ele estava lendo a minha mente, dei risada, e logo desligamos, voltei ao trabalho, tinha encomendas para entregar, eu deveria ter trabalhado ontem, mas não fiz, não sou escrava, continuei a costurar, mas no cair da noite, entrei no carro indo direto para casa de Zaya.
Já era costume, e foi assim com Mario também. Era noite, o apartamento estava uma bagunça, os meninos largados, Dadai na cozinha, mexendo, revirando as panelas, Arthur no sofá assistindo, enquanto Zury montava os brinquedos dela com os meus.
— Que bagunça é essa aqui? Cadê Zaya? — Entrei casa a dentro, virada no cão, com uma fome de lascar, m*l entrei Mário parecia agoniado.
— Oxe, pra onde Zaya foi, ela me disse que ia ficar até tarde hoje, mas...
— Ainda não chegou? — Perguntei encafifada, não era possivel, íamos a cozinha, quando Marcos chegou, e m*l ele botou o pé em casa, a pergunta foi a mesma da parte de todos. — Cadê Zaya? A titia cadê? — A voz dos adultos se misturava com as dos meninos, todo mundo queria saber dela, Marcos de pé, a blusa azul aberta no peito, o cabelo preto bagunçado, eu devia me dar por satisfeita estando com Grego, mas eu olhava sim, para o meu cunhado, de pé com as mãos na cintura...
Um homão, e talvez, não fosse só de corpo, por mais que Grego soubesse dos borogodó pra me satisfazer, o que Marcos parecia fazer com Zaya, era coisa de outro mundo, não que eu quisesse ele, não mais.
— Ela não chegou? — O cunhado perguntou, mudando todo o meu foco, não era momento de imaginar como eles deviam se pegar na cama, eu tinha uma curiosidade imensa, afinal, Zaya tinha rodado por uns dois ou três namorados, mas não tinha como esconder de ninguém, que só ele, tinha como apagar o fogo dela.
Um verdadeiro tormento, quando Marcos parou olhando para cada um de nós.
— Quem de vocês esteve com ela hoje? — O silêncio durou um tempo, eu balancei a cabeça, Mário também, mas todo mundo parecia não ter visto a minha irmã neste dia, a sua respirada funda e a maneira como enfiou a mão pelo cabelo liso, escuro, me fez tensionar.
—Ninguém? — Ele perguntou, Mário começou a chorar.
— O que pode ter acontecido? Ela não some assim. — Conclui.
— Deve tá com fia. — Mário disse chorando, agoniado, feito uma manteiga derretida. Marcos afirmou indo de um lado para outro. — Então liga pra ela. — Eu disse, não falava com fia, e não concordava com eles tivesse trazido ela pra cá, Fia sempre foi falsa, e tirada a mais importante entre nós.
Mário ligou, mas eu não acreditei, passava das vinte e uma hora depois de ir a casa de fia, a casa de Regina, que me disse que tinha mentido para Marcos, que ela não tinha ido lá de manhã, para ele não brigar com ela, e depois de vasculhar os lugares, chegamos a delegacia.