Capítulo 5 - Wang!

1738 Palavras
Lá no começo, quando eu comentei que minha mãe me levava para lugares onde uma garota não deveria estar, lá com meus 14/15 anos, quando comecei a jogar, e ela me ensinava tudo sobre Pôquer. Eu não era a única "criança" que vagava por ali. Meus pais eram muito próximos da família Wang, grande empresa de transporte de veículos da China. Enquanto os adultos se divertiam com seus jogos, bebidas e cigarros. Eu e Wang observamos e reproduzimos tudo, jogávamos juntos em mesas separadas de todos, e aprendemos muito um com o outro, sem contar que Wang, foi o meu primeiro amor, apesar de ser menor que eu e ter uma carinha de bebê. Lá pelos meus 15 anos, o pai dele abriu falência nos Estados Unidos, e eles foram obrigados a voltar para a China, o que dificultou nossa amizade. Paramos de nos falar, mas a falta que Wang fazia em minha vida, foi imensa. E logo após sua partida, minha mãe faleceu, e então o vazio que eu tive de superar, foi ainda mais devastador, pois eu estava sozinha, naquele momento. - 2011 - O lugar mantinha luzes baixas, vozes maduras. Cheiro de tabaco e Uísque. Eu me sentia especial por fazer parte de algo assim. Minha mãe sabia que eu gostava de acompanhá-la, me sentia superior a todas as outras garotas da minha idade, justamente por fazer parte de um segredo. Esses lugares geralmente eram escondidos, e precisavam de convites especiais para comparecer. Cada mês o lugar era trocado, grandes hotéis, grandes restaurantes da cidade. Todos com suas salas vips, pronta pra arrancar dinheiro dos curiosos poderosos. A primeira vez que vi Wang, estava sentada na mesa, ao lado da minha mãe, a partida oficial ainda não havia começado, então ela se mantinha como professora. Me mostrava casa jogada e blefe com a mão que eu estava. Era engraçado, pq jogávamos contra a banca, e eu não perdia, com essa mulher ao meu lado. Um homem de idade, robusto, se sentou conosco, e ela sorriu. - Wang, que prazer revê-lo! - Falou ela, em outra língua. Apertou a mão dele e ele reverenciou. - Agora podemos conversar no seu idioma! - Eles riram. - É, nunca mais precisei usar Mandarim. - Depois conversamos em Mandarim. E você treina. - Está certo! - Sorriu ela. - Esta é minha filha mais nova, Olga! - Me apresentou. - Ah genética de vocês é sempre impecável. - Reverenciou. - Esse é o Wang. - Apontou para o Rapaz belo, que surgiu ao seu lado. - Ele está enorme! - Minha mãe sorriu. - O tempo está correndo! - Filha, vá mostrar o ambiente ao filho de Wang, preciso recuperar alguns dólares que esse homem já levou de mim. - Tá bem! - Minhas bochechas ardiam. Comecei a caminhar para a sala de estar, que havia um pouco mais longe da fumaça deles. - Você fala inglês? - Sorri. - Claro! - Ele riu. - Como é seu nome? - Por favor, não dê risada! - Vou tentar... - É Deshi Wang. - Porque eu riria? - O olhei com um sorriso. - Não sei, algumas pessoas acham engraçado! - Isso é xenofóbico. - Quando você tá fora do seu próprio país, aprende a lidar com as esquisitices e o preconceito! - Eu riria se seu nome fosse americano, tipo William. Porque é simples de mais, e americano de mais! - Agora me fazia sentido. - Faz sentido! Vou me lembrar disso! - Ele riu. Passamos a noite conversando sobre muitas coisas. Bebemos um pouco, mas como não era fora do comum para nós, não víamos motivo para o fazer em exagero. Nossos pais travavam batalhas intermináveis, enquanto ele me contava sobre sua vida. Filho do meio, empresa de transportes, órfão de mãe desde os 6 anos de idade, e ele adorava empreendimentos. Eu, por outro lado, era completamente diferente. Caçula, empresa de segurança de veículos, e odiava tudo o que fosse sobre empresas, Jesus! --- Nossos encontros haviam se tornado muito frequentes, mas isso durou apenas um ano. Todos os finais de semana eram nossos, e eu adorava sua companhia. Até que ele me contou que precisaria voltar para a China. Meu mundo deu uma balançada. E meus sentimentos foram comprometidos. E eu não sabia mais como conversar com ele, sem sentir tristeza e vontade de chorar. - Hey, não fique triste, isso nunca será um adeus! - Ele sorriu me olhando. - Wang, como vou ficar sem você? - Já era confortável chorar na sua frente. - Não vai, eu prometo que volto quando tudo melhorar! - Não faça promessas! - Eu tô falando sério, Lore! - Ele me chamava assim, era o nome falso que ele havia me dado, após sermos pegos fumando charuto. - Eu, te amo Deshi! Sinto muito por demorar a dizer! - Senti seu abraço apertado ao proferir a frase. - Eu, também, te amo, Olga! - Mas não como amiga... Ele ficou em silêncio, e continuou me abraçando. - Meu amor não é diferente! - Beijou minha testa, e depois meus lábios. Era macio e acolhedor, meu primeiro beijo foi triste e de despedida. E após aquele dia, eu nunca mais o vi. Não guardei ressentimento e não tive raiva dele, pois, tudo fugia do nosso controle, não é como se pudéssemos controlar ou decidir nada. Nós conversávamos por ligação, e-mail, e tentávamos de todas as formas, manter o contato. Jogávamos online. Mas, conforme íamos crescendo, a vida foi ficando carregada. Wang com suas responsabilidades e eu com as minhas. E após a morte da minha mãe, eu nunca mais falei com ninguém. Me envolvi no abraço do luto, e foquei em fazer coisas, e não em pessoas. Talvez, eu não quisesse amar mais ninguém, com medo de que a morte pudesse levá-los de mim, não sei. O luto é um sentimento devastador, e não é superável. Nós pensamos, lembramos e sentimos esse vazio constantemente. As vezes esquecemos, por algumas horas, mas no fim de todas as noites, após conversar com Deus, eu converso com ela. E vai ser sempre assim! - 2023 - Doze anos se passaram, e finalmente eu iria vê-lo. Apesar de já ter o visto, não é a mesma coisa. Agora eu sabia quem ele era, e a atração que senti por ele, tinha uma explicação lógica. Meus olhos não souberam quem você era, mas meu coração, sim! Peguei o carro e saí, fui até o primeiro hotel no qual nos conhecemos, acreditando que era ali que ele estava. Eu poderia ligar e perguntar, mas queria ver se era isso mesmo. Assim que botei meus pés ali, o porteiro sorriu. - Posso te acompanhar? - Por favor! - Ele a espera na sala de jantar vip. - O porteiro me acompanhou até o nosso cantinho, mas naquele lugar já não haviam mais jogatinas clandestinas. - Você! - Eu o encarei assim que passamos pela porta. - Pedi nosso jantar, tenho certeza que você não comeu! - Ele sorriu. - Eu não acredito em você... - Eu sorria chocada. Me aproximei dele, e ele caminhou em minha direção. Meus olhos se encheram de lágrimas. E então ele me abraçou apertado. Chorei como uma criança. - Eu demorei, mas tô aqui agora! - Ele acariciava meus cabelos, e me apertava contra o peito. - Senti tanto a sua falta! - Eu chorava como não chorei a anos. - Eu, também, senti! - Posso ficar assim por um tempo? - Tenho todo o tempo do mundo, pra você! - A voz doce, o perfume mais suave que já senti. Meu Deshi havia crescido muito mais que eu! - Que bom que é alto, agora! - Eu ri. - E forte, cê notou? - Ele riu. Isso era acolhedor de uma forma surreal! Era o abraço que me desmontava, e eu nem sabia muito o motivo disso. Eu estava perplexa! E jurava que eu havia esquecido ele, mas agora, é como se eu tivesse 14 anos, e o tempo estivesse parado. Eu me afastei um momento e o olhei, ele continuava lindo, como sempre foi! Secou minhas lágrimas com um lenço que estava em seu bolso, me deu um beijo na testa e depois puxou a cadeira para que eu me sentasse. Ficamos um tempo em silêncio, eu não parava de olhar para ele e rir, e ainda chorava. - Você aguentou firme, todo esse tempo! - Suas palavras, insistiam em aliviar o peso que senti. - Por favor, para de dizer essas coisas, ou eu vou continuar chorando... - Você é como uma criança, ainda! - Ele riu. - Algumas partes de mim, ainda não cresceram. Contínuo como antes! - Mas ainda continua radiante! - Sorriu. -- - Com licença, o jantar de vocês! - O garçom nos serviu. -- - Você ainda sabe o que eu como? - Sorri. - É, algumas coisas não mudaram. - Me conte, o que faz aqui? - Sorri. - Bom, eu finalmente vim acertar umas coisas de um casamento comercial. - Casamento comercial? - Por um minuto senti meu corpo tremer de raiva. - Sim, daqui a um ano, vou me casar com alguém dos Estados Unidos. Uma moça com quem meu pai manteve uma promessa familiar a anos atrás. - Ele fez cara de sério. - Eu a conheço? - Tentei me manter interessada na conversa, ao menos fingir que não estava sendo destruída. - Não, eu ainda não conheço ela. Na verdade só vou saber quem é daqui a um ano. Meu pai tentou quebrar essa parte do acordo, mas como eles salvaram nossa empresa anos atrás, ele aceitou qualquer condição. - Dava para ver em seus olhos que ele não estava feliz falando sobre isso. - Como encontrou a Secret? - Mudei drasticamente de assunto. - Você ainda faz isso no meio das conversas, não é? - Ele notou. - Você não pareceu confortável. - Muito obrigado por isso! - Sorriu. - E então...? - Ah, a Secret! Eu não fazia ideia, recebi um convite assim que cheguei, ainda não sei o motivo. Mas não fazia ideia de que era seu lugar. Só soube quando te vi entrar! - Como soube? - Sorri. - Seu caminhar, seu ar de grandeza e sua voz empoderada. Era ameaçador e atraente, e só conheço uma pessoa capaz de provocar esses sentimentos em mim... - Ele falou meio tímido. Algumas coisas, não mudam mesmo...
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