A babá da minha irmã

III

-06:10 Da manhã-

   Acordei um pouco mais tarde hoje, não consegui dormir cedo pensando na probabilidade de cuidar de uma criança enquanto o irmão dela e o garoto popular da escola.

   Fiz a mesma coisa que os outros dias, quando terminei de me arrumar fui direito para sala jogando a bolsa em cima do sofá e partindo para cozinha, olhei para Agatha enquanto a mesma fazia o café matinal.

— Bom dia mana. — Sentei na cadeira pegando uma xícara de café, Agatha se virou para mim com um sorriso grande no rosto. — Que cara é essa?

— Sabe que nunca fui de ficar com um garoto só né. — Assinto pra ela enquanto a mesma me entrega um prato com ovos, dei a primeira garfada ainda prestando atenção nela. — Conheci um cara não faz muito tempo...

— Vai chover se você estiver gostando dele. — Tomo um gole do meu café, ela olha pra mim com um sorriso no rosto. — Não acredito.

— Parece meio brega, mas toda vez que penso nele eu fico com um sorriso bobo no rosto parecendo uma apaixonada. — Ela se encosta na bancada ficando mais perto de mim.

— Agatha Lopez está apaixonada, meu deus! Isso nunca aconteceu em anos! — Comecei a rir.

— Para com isso! As coisas estão evoluindo entre nós dois, por isso quero que você o conheça. — Olhei pra ela surpresa por soltar uma bomba como essa.

— Sem problemas faço isso com muita vontade, mas agora preciso ir pra escola antes que me atrase. — Coloquei o prato na pia com a xícara, peguei minha bolsa e fui na direção da porta peguei a chave do carro, mandei um beijo no ar pra ela.

  O caminho até a escola foi tranquilo, quando cheguei, dei uma breve olhada para todo mundo sentado na frente da escola conversando, lembrei que não avisei para Agatha que iria morar na casa do cara mais popular, como pude esquecer uma coisa dessa?

   Fiz as coisas que sempre faço, quando cheguei na sala a maioria já estava lá só (esperando) pelo professor que ainda não chegou, o sinal já bateu e nada do professor e muito menos da Alli.

  Como o professor faltou, ficamos duas aulas fazendo nada, Allison também faltou então com isso acabei ficando sozinha. Durante o intervalo peguei algo para comer e fui sentar em um lugar meio isolado, coloquei meus fones e fiquei prestando atenção nas coisas em minha volta.

  Foi quando uma pessoa passou na minha frente rápido e sentando do meu lado, quando olhei para ver quem era fiquei surpresa, olhei estranho pra ele que ainda me encarava com um sorriso no rosto.

— Por que você está aqui? — Perguntei tirando meus fones e deixando de lado.

— Vim conhecer a nova moradora de casa. — Pedro falou isso com uma tranquilidade que me passou uma certa pontada de raiva.

— Só isso? Vou cuidar da sua irmã na semana, só isso. — Dei de ombros olhando para o campo na minha frente.

— Preciso saber mais de quem vai passar a semana cuidando da minha querida irmã não acha? Estilo de música? — Olhei pra ele com raiva.

— Não vai me deixar em paz até responder suas perguntas idiotas né. — Ele assente deixando o celular de lado, reviro os olhos. — Gosto de eletrônica, por vezes ouço funk.

— Comida preferida? — Olhei pra ele com cara fechada, um sorriso surgiu no seu rosto e que sorriso.

  Na minha mente só passava o quanto ele é galinha, mas o sorriso que eu via na minha frente fazia eu esquecer totalmente a parte de que ele não presta.

— Ta quase babando hem! — Ele deu risada.

— Lasanha de requeijão. — Respondi ele e voltei minha atenção para a minha comida.

— Queria ficar, mas tenho que ir. — Como pode um garoto ser legal e chato em simultâneo? Ele fala comigo como se fossemos super próximos, mas, na verdade, não, antes mesmo de pegar seu livro de química emprestado nunca tínhamos nos falados.

  Pedro segurou no meu rosto se abaixando e dando um beijo na minha bochecha e saiu correndo, fiquei de boa aberta tentando raciocinar o que aconteceu agora.

— O que está acontecendo com as pessoas de hoje em dia? — Fiquei pensando um pouco em como o Pedro pode mudar na frente das pessoas quando está sozinho comigo, mesmo que isso só aconteceu visto que foi agora. Preferi pensar em outra coisa enquanto terminava de comer.

   Depois que o intervalo acabou, voltei para a minha sala ainda pensando no que aconteceu, parece uma coisa boba, mas não é todo dia que o garoto mais popular da escola vem falar com você e ainda dá um beijo na sua bochecha, deu pra entender né?

  Passou as últimas aulas voando, voltei pra casa pensando no que faria assim que chegasse em casa foi quando estacionei o carro e lembrei do namorado da Agatha, ela não me avisou como seria esse encontro muito menos a onde seria. Subi para o apartamento e fui direito pra cozinha pegando algo para comer na geladeira, quando fui para a sala vi um papel colado na TV.

“Não se esqueça do jantar, ele vai chegar às oito”

— Ainda tenho tempo para assistir um pouco de série. — Dei de ombros e liguei a TV colocando na minha série preferida.

  Quando deu cerca de cinco horas, dei um jeito na casa tentando deixar um pouco mais arrumada depois disso tomei um banho e comecei a me arrumar, como sempre a casa fica uma bagunça em menos de dois dias, não sei como isso é possível. 

  Como estava com preguiça de escolher algo muito formal, peguei um vestido preto rodado, guardado já fazia um tempo, meu tênis preferido que no caso é o all star, fiz um penteado bem simples, não tenho muita paciência pra fazer uma maquiagem muito extravagante então fiz algo super simples.

   Quando fui pra sala encontrei Agatha sentada no sofá já pronta, linda como sempre!

— Mudamos de ideia, vamos para um restaurante agora. — Agatha fala levantando e ficando do meu lado. — Aliás você está muito bonita! Nunca vi você tão arrumada assim.

— Não fiz muito coisa mana, me arrumei super rápido. — Pisco pra ela que da risada, peguei meu celular e meus documentos que não posso sair de casa sem. — Não acredito que estou indo conhecer o seu mais novo namorado.

— Você fala como se eu te mostrasse um garoto diferente a cada final de semana. — Ela olhou pra mim com um sorriso no rosto, mostrei a língua pra ela que tirou o carro do estacionamento.

— Sabe, ainda não sei o nome dele. — Digo deixando meu celular de lado e prestando atenção pra ela.

— Ele se chama Diego, quer saber mais o quê?

  O que mais eu poderia saber sobre o novo namorado dela? Onde se conheceram, onde ele trabalha, se tem cachorro, se tem gato.

— Muitas perguntas, não sei diretamente o que perguntar. — Comecei a rir tentando focar em apenas uma pergunta.

— Tem como você parar de rir? Com você agindo desse jeito para que está tranquila.

  Claramente pude perceber que Agatha estava nervosa, por apenas me levar pra conhecer seu novo namorado, mesmo ela sendo super tranquila pra tudo, fica nervosa logo com isso, uma coisa boba.

— Não sei porque você está nervosa com isso, você é tranquila com tudo. — Digo dando de ombros.

— Não estou nervosa! Estou totalmente tranquila. — O farol fecha e com isso ela me olha com um sorriso forçado no rosto.

— Claro que você está nervosa, dá pra ver pelo seu rosto, te conheço mana. — Dou risada e dou uma verificada no meu celular vendo se tinha mensagem da Allison.

— Acabei esquecendo de te contar, tenta adivinhar. — Bato palmas tentando mudar um pouco de assunto, pra não deixar ela tão nervosa.

— Lá vem a bomba, não quero nem imaginar.

— É algo legal vai, tenta!

  Na verdade, morar com o Pedro não vai ser nada legal, ter que conviver com o garoto durante todo o dia na escola, tendo que ver todas as meninas babando-o durante as aulas, no intervalo, jogos escolares e por assim vai para no final do dia ainda ter que encarar ele quando chegar na casa dele para cuida da Ana, não é nada tão divertido assim.

— Não lembro se contei que vou passar a semana na casa da Ana, a criança que vou cuidar, só vou poder voltar pra casa no final de semana.

— Imaginei que seria assim pela mãe da menina que não fica muito em casa. — Concordei com ela ainda pensando em como falaria.

— A Ana é um amor, mas a coisa divertida não vai ser isso. — Estalei os dedos ainda meiam sem acreditar que moraria na mesma casa que o Pedro.

— Não sei o que pode acontecer, ela ter um irmão mais velho gato? — Agatha sugeriu com uma certa tranquilidade por pelo menos ter esquecido um pouco sobre o assunto do Diego.

— Achei muito fácil isso! Você acertou, mas ainda não é tudo, ele é o garoto mais popular da escola inteira.

— Você só pode estar de brincadeira com a minha cara? O Pedro, sério? Essa garotinha não poderia ser irmã de outra pessoa não?

— Então eu pensei o mesmo, mas quando vi os dois juntos percebi que ele não é tão insuportável perto dela. — Olho pra ela deixando meu celular na bolsa quando percebi que já estávamos chegando. — Não acredito que trouxe ele para o restaurante que nossos pais nos traziam para jantar nos dias especiais.

— Não sabia o que preparar pra ele então melhor trazer em um lugar que eu sei que a comida é boa. — Olhei pra ela ainda tentando achar pelo menos um ponto bom nisso.

— Ainda não achei um ponto bom nisso não, faz quanto tempo que não vamos nesse lugar?

— Poderia dizer que faz alguns meses, mas falando sério nem eu mesma sei. — Disse Agatha dando de ombros.

  Ela estacionou o carro em um quarteirão atrás do restaurante, na maioria das vezes que íamos, estava sempre lotado por isso nossos pais costumavam deixar o carro um pouco afastado, Agatha pelo visto acabou pegando o mesmo costume.

— Vi que você deixou o carro a um quarteirão, lembrei dos nossos pais. — Digo fechando a porta e a encarando do outro lado do carro.

— Não venha me dizer que puxei isso do pai porque pode te certeza que não foi. — Não disse nada pra ela ainda a encarando. — Tudo bem, talvez eu tenha pegando um pouco disso do nosso pai.

— Falando nisso, alguma notícia dele? Ou até mesmo da nossa mãe? — Ultimo contato que tive com eles foi no natal, mas também não passou disso um “Feliz natal filha, saudades! Tem um presente esperando por você, um beijo!” e quando chegava no apartamento tinha alguma bolsa cara, ou roupa.

  Agatha deu de ombros não se preocupando muito com isso, realmente, ela não se importa tanto com eles, nunca fomos uma família unida nem amorosa, mas antes de começarem os trabalhos fora do país éramos felizes juntos ou tentávamos.

— Podemos dizer que entre nós duas você é a favorita deles. — Agatha fala trancando o carro e vindo na minha direção ficando do meu lado.

— Simplesmente não dei trabalho por eles não estarem cuidando de mim durante minha adolescência. — Digo dando de ombros e pegando meu celular.

— Não dei muito trabalho pra eles quando adolescente, tudo bem que ainda sou uma adolescente, mas né!

— Agatha daqui a pouco você já entra na faixa dos trinta. — Ela me olha na hora com um olhar mortal. — Tudo bem, retiro o que eu disse.

  Me encolhi pra ela que começou a dar risada, caminhávamos meio rápido, já que enrolamos um pouco no carro, celular de Agatha começa a tocar e durante alguns minutos ela fica conversado com a pessoa do outro lado da linha.

— Temos um problema. — Ela guarda o celular na bolsa e volta a me encarar.

— O que foi? -Cruzo os braços ainda prestando atenção em Agatha.

— Diego vai se atrasar um pouco, houve um problema no lugar onde ele trabalha então ele pode demorar um pouco.

  Chegamos a frente ao restaurante, sentamos em um banco que tem de frente e ficando em silêncio.

— Sabe quanto tempo ele vai demorar? — Digo olhando pra ela de volta que continua quieta dentro dos seus próprios pensamentos.

— Não sei direito, ele não me disse.

— Sem problemas, vamos esperar por ele então. — Digo encarando ela com um sorriso no rosto.