Capítulo 3 – Dereck

1419 Palavras
Acendo um cigarro e puxo a fumaça com calma, sentindo o calor invadir meus pulmões. O gosto amargo me acalma. Dante vira o copo de uísque e examina as cartas com olhos calculistas, enquanto Vittorio e eu aguardamos sua jogada. Estamos no escritório do meu cassino, um ambiente luxuoso, mas impregnado do cheiro de poder, vício e sangue. O silêncio é tenso, cortado apenas pelo estalar dos cubos de gelo no copo de whisky. Esperamos Nicolo, um de nossos capos, para uma reunião sobre a nova rota de distribuição de drogas. Testamos uma nova mercadoria na região. Queremos os resultados. A Cosa Camorra é nosso legado. Somos empresários de fachada, sim — atuamos no ramo hoteleiro, cassinos, segurança privada —, mas nossa essência pertence à máfia. É o sangue que pulsa nas veias, a honra herdada de gerações. Dante, meu irmão mais velho, é o Don. Eu sou o subchefe. Vittorio, o caçula, é nosso Conselheiro. Nossos papéis são claros. O vínculo de sangue e crime entre nós é forte. Falamos sobre tudo: negócios, mulheres, ameaças… e merdas pessoais que tentamos ignorar. Uma batida na porta interrompe o jogo. — Com licença, senhor. Nicolo chegou — avisa um dos meus homens. Antes que eu possa responder, Dante levanta a mão, sem tirar os olhos das cartas. — Peça para esperar. Ainda não terminei minha jogada. O soldado assente e sai. Dante é respeitado. Temido. Ninguém desobedece uma ordem dele e sobrevive para tentar de novo. Dou outra tragada e prendo a fumaça, observando meu irmão concluir a jogada. Minutos depois, o mesmo soldado retorna — dessa vez sem bater. Erro fatal. Dante ergue a arma em um piscar de olhos e a aponta para a cabeça dele. — Cinco segundos para me dar um motivo convincente para não explodir seus miolos — rosna. Sorrio de canto. Meu irmão pode ser impulsivo, mas é isso que o torna um bom Don. Impõe respeito. Comanda pelo medo. Vittorio permanece imóvel, como uma estátua. Parece distraído com as cartas, mas sei que está atento. Ele sempre está. Inteligente. Frio. O estrategista silencioso. — M-me perdoe a interrupção, senhor... é que temos um problema. — Quatro… — Dante continua a contagem, implacável. — Uma garota — o soldado se apressa. Vittorio franze o cenho. Dante ergue a sobrancelha. Eu continuo olhando as cartas, como se nada fosse. — Ela exige falar com o senhor. Diz que é urgente. — Você invadiu meu escritório… por causa de uma garota? — Dante bufa, me lançando um olhar. — Devo matá-lo? — Não — respondo. — Ele é útil. Por enquanto. Faço minha jogada final. — Ganhei. O soldado insiste, nervoso: — Ela ameaçou fazer um escândalo se não fosse atendida… Solto um suspiro impaciente. — Você foi treinado pela máfia italiana e não sabe lidar com uma mulher? Que merda, p***a. Antes que ele responda, gritos ecoam do corredor e a porta se escancara. Uma jovem irrompe sala adentro, de vestido vermelho justo, cabelo n***o em ondas e salto alto. Dois dos meus seguranças vêm logo atrás, sem fôlego. Minha expressão endurece. Meus olhos passeiam por ela com reprovação. — p***a… — Dante se levanta junto comigo. Todos sacamos nossas armas num reflexo automático. Ela para no centro da sala, com o peito arfando. Os olhos abaixados. Sabe onde está. E sabe com quem está lidando. — Senhor… — começa um dos seguranças, mas meu olhar o cala no ato. — E se ela fosse um inimigo, seus merdas? — grito, mirando minha arma. — Não conseguiram conter uma garota? Eles sabem que não estou apenas irritado — estou prestes a explodir. Eu não dou advertências. Eu dou sentenças. E a próxima pode ser uma cova rasa. — Saíam daqui. Antes que eu reconsidere. Eles saem. A garota, não. Ela continua de cabeça baixa, mas não demonstra intenção de se retirar. É teimosa. Corajosa — ou burra. — O que você quer? — pergunto com frieza. — Falar com o senhor — murmura. — Já está falando. — Em particular. Dante e Vittorio trocam olhares, alertas. Dou dois passos na direção dela. Seu corpo enrijece. — Presumo que não seja sobre sexo — comento. — Porque, embora você seja gostosa, não invadiria meu escritório só para implorar por uma f**a. Não precisa disso. Tiro a arma do coldre e a aponto para sua têmpora. — Agora fale. Quem te mandou? Ou me convença a não explodir sua cabeça aqui e agora. Ela engole em seco. — Meu pai fez uma dívida alta no seu cassino. Seus homens o ameaçaram. Disse que… que se ele não pagasse até amanhã, seria morto. — Quem é seu pai? — Faruk Khalid. — Aquele árabe viciado? — Vittorio revira os olhos. — Sempre causa confusão. — Quanto ele deve? — pergunto. — Vinte mil euros. Meus irmãos soltam um suspiro entediado. Não é um valor absurdo. Mas na máfia, dívida é dívida. — E você veio aqui pra quê? — Tenho uma proposta — diz. — Vim oferecer meu corpo… como pagamento da dívida. Dou uma risada baixa. Irônica. — Tem fila de bocetas grátis querendo que eu as f**a. Por que pagaria vinte mil por uma? Ela ergue os olhos pela primeira vez. — Porque sou virgem. Silêncio. Dante ergue uma sobrancelha. Vittorio fita a garota com atenção renovada. — Quantos anos você tem? — pergunta Dante. — Vinte. Recém completos. — Virgem. Novinha. Você sabe no que está se metendo, garota? — murmuro. — Posso te f***r até você não andar por uma semana. — Estou disposta a pagar esse preço. — E o cuzinho? Vai me dar também? Ela hesita. — Sim. Se for necessário. Analiso-a de cima a baixo. Corpo pequeno, cintura fina, s***s redondos, pernas torneadas… e olhos violeta. Raros. Inesquecíveis. — Está mentindo? Porque se estiver, garota, eu vou saber. E juro por Deus… você vai implorar para morrer. — Não estou mentindo — responde. Me aproximo. Fico à altura do seu rosto. — Então se eu te levar para o quarto agora, meu p*u vai sair sujo de sangue? — Vai. A tensão no ambiente muda. Meus irmãos se entreolham. Eu recuo um passo, pensativo. — Ainda assim… são vinte mil euros. — Por favor… — suplica. — Você não sabe viver — digo, rindo baixo. — Vinte anos, virgem, e se oferecendo para um mafioso por causa de um i****a. — Se quiser, eu fodo você, querida — provoca Vittorio. — Dou o dinheiro. Ela não responde. Está aqui por mim. — Está ciente de que eu não sou gentil? Eu não cuido. Eu domino. Eu machuco. — Não vim atrás de um príncipe. — Veio atrás de um demônio. — Farei o que for preciso. — Por que me procurou? Ela respira fundo. Levanta o rosto — e quando nossos olhos se encontram, tudo faz sentido. — Porque o senhor me disse para fazer isso, quando eu completasse vinte anos. Meus músculos tensionam. Reconheço os olhos. A lembrança vem como uma flecha certeira. — Ora, ora… — murmuro. — Você me encontrou, princesa. Ela sorri, aliviada. — Você se lembra. — Eu nunca esqueceria esses olhos. Toquei seu rosto na cafeteria, anos atrás. Uma adolescente atrevida, corajosa. Disse que, se voltasse até mim quando fosse mulher feita… eu a aceitaria. E aqui está ela. — Onde está seu pai? — Em casa. Dormindo. — E você vem no lugar dele. Oferecendo sua virgindade. — Balanço a cabeça. — Que tipo de pai permite isso? — Não fale assim dele. A garota ainda tenta defendê-lo. Ainda tem inocência. — Dereck — Dante me chama. — Vamos esperar no bar. Eles saem. Fico sozinho com ela. Toco seu queixo. — Qual seu nome? — Elisa. Repito, saboreando. — Elisa… você me deseja? — Em outra situação, talvez. Mas agora… estou aqui por necessidade. — Mesmo assim… deseja? Ela hesita. E então, com a voz baixa: — Sim. Me aproximo. Seguro sua cintura. Sinto seu corpo reagir ao meu. — Tem certeza do que está pedindo? — Sim. — Então é a última vez que pergunto. Vou tirar sua virgindade, princesa? Ela encosta o corpo no meu. A resposta está no gesto. — A dívida será perdoada? — Será. — Então sou sua. Por uma noite. — Uma noite comigo… e vai passar a vida inteira me lembrando. Ela estremece quando beijo seu pescoço. — Espero que não se arrependa, Elisa. Porque depois que eu te provar… nenhum homem vai ser suficiente.
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