Pré-visualização gratuita Prólogo
Acordo com o despertador tocando. Com um gemido, levo a mão até ele e o desligo. É um relógio de mesa que comprei baratinho, apenas pra eu não perder a hora pra começar a trabalhar, já que eu não tenho um celular.
Levanto, mesmo que com muito sono. Fui dormir tarde ontem, como todos os dias. Cheguei da escola e fui fazer todas as tarefas passadas, durante o dia trabalho e não tenho tempo, e como preciso concluir o ensino médio com glórias, faço assim que chego em casa.
Estou morando em um hotel minúsculo, em uma pequena cidade no interior. Foi o local mais barato que arrumei pra morar, desde que fui expulsa de casa, por minha mãe e meu irmão.
Aqui o pagamento é por diária, mas a dona me deixa pagar por mês, neste pagamento está incluso apenas o quarto, com tv, e o banheiro que são de todos os quartos. Acordo sempre mais cedo para pegar o banheiro vazio e não me atrasar, pago um adicional por semana e a dona me deixa lavar minhas roupas aqui. Minhas refeições faço na padaria, um lanche de manhã e um à tarde. Estou economizando o máximo que consigo para ir embora dessa cidade assim que terminar o ensino médio.
Quero recomeçar, e quem sabe ser feliz...
Acabo meu banho, faço minha higiene matinal e volto para o quarto. Assim que termino de me arrumar e saio pro trabalho. Eu trabalho com faxina, é cansativo, mas é o que está me sustentando. Às 6:00 horas da manhã pego a escola pra limpar. Quando termino, vou para primeira casa, essa termina logo após o almoço. Depois vou para a segunda casa que acabo depois das 17:00 horas. Neste horário, vou correndo pro hotel, me arrumo e vou pra aula, que começa às 18:00 horas.
É, eu sei… Uma loucura!
Ninguém além dos professores e direção sabe que sou eu quem limpo a escola de manhã. Eles me deixam limpar apenas pra me ajudar. Já faz quase dois anos que fui expulsa de casa, meu irmão chegou em casa bêbado, quebrando tudo, dizendo que no dia seguinte um amigo dele iria me conhecer, queria saber quanto poderia pagar pelo meu corpo. Falei que não me venderia e não deixaria ninguém me vender... Meu irmão e minha mãe me deram uma surra e me colocaram pra fora de casa, eram 2:00 horas da madrugada. Fui acolhida por vizinhos e a partir daquele dia comecei a lutar pra conseguir sobreviver e ir embora dessa cidade. Já nos cruzamos na rua, mas não trocamos uma palavra sequer.
Mergulhei de cabeça nos estudos, aos fins de semana, pego livros na biblioteca e estudo sobre assuntos diversos, quero ter o mínimo de conhecimento para quando for procurar um emprego ter uma base de qualificação. Não quero ser faxineira o resto da vida.
Agradeço todos os dias pelo meu trabalho, é com ele que estou juntando grana pra começar minha vida, mas ainda assim, não é isso que eu quero.
Esse ano eu teria a formatura, mas abri mão, ia sair um dinheirão. E o que seria apenas um dia, economizo pra outras coisas. Eu vou mudar a minha vida. Vou fazer o meu melhor, e ter o mínimo de dignidade. Longe daqui. Eu quero ser ao menos um pouquinho feliz.
[...]
A aula começa com português, e a professora nos informa que faltam apenas 1 mês para a nossa formatura. Ela entrega a pulseira de todos — exceto a minha, porque eu não vou participar — E depois começa a entregar os convites da colação de grau.
Me surpreendo ao ser chamada pra ir buscar o meu.
— Mas eu não irei participar, professora.
Todos os meus colegas estão em silêncio, mas sorrindo.
— Todos os seus colegas se juntaram e pagaram a sua colação, você receberá seu canudo, na formatura.
Eu não me aguento, começo a chorar.
Todos aqui foram mais que colegas, foram as únicas pessoas com quem convivi.
— Muito, muito obrigada a todos vocês… — Falo em meio às lágrimas. — Isso é a coisa mais incrível que já fizeram por mim.
Agradeço a cada um com um abraço e depois de a professora passar os últimos detalhes, a aula segue como sempre.
Hoje eu vou dormir, com o coração quentinho de alegria!