Acordei pelas quatro da madruga, como de costume. Ainda escuro, o vento frio soprava por entre as frestas da janela de madeira m*l vedada. O m****o já tava acordado antes de mim, duro que nem tronco de angico. A tal da ereção matinal, que vem sem pedir licença. Não tenho mulher, nunca tive. Tô com trinta e não achei nenhuma pra poder me casar. Quem me olha torto, eu já reviro. Quem tenta conversar muito, eu viro as costas.
Alívio era necessário, então fiz o de sempre: punheta rápida, forte. p*u tava latejando e fui rápido mesmo, só pra dar sossego. Gozei no lençol mesmo, depois vi que já tava tudo sujo e pensei: “tenho que lavar essa droga essa semana”. Mas vai ver que só penso, e não faço.
Levantei com preguiça nos ossos e fui pôr água pra esquentar no fogão de lenha. Café é sagrado, principalmente pra homem que vai pra lida com boi. Peguei um pão duro do armário, um resto de fornada que o Bento, meu irmão do meio, fez. Desde que nossa mãe morreu, vai fazer um ano, ele é quem tenta cozinhar alguma coisa. Não é o melhor, mas quebra o galho. A casa virou bagunça. Três homens sem mulher dentro de casa é igual chiqueiro sem porco: só sobra sujeira.
Teófilo apareceu na cozinha, ainda sonolento, só de calça de baixo, sem camisa, cabelo todo pro alto. Sentou-se na cadeira pesada, de madeira maciça, que meu pai fez antes de morrer.
— Ainda não tem café? — reclamou, esfregando o rosto e sentando de qualquer jeito.
— Não tá vendo que a água tá no fogo, peste? — rosnei sem olhar pra ele.
Ele riu e partiu um pedaço do pão com as mãos, enfiando na boca de uma vez só, como quem alimenta cavalo. A falta de modos dele me irrita desde pequeno.
— Bom dia — Bento entrou arrumado, camisa xadrez enfiada dentro da calça e chapéu na mão.
— Bom dia, meu irmão. Tá pronto pra pastorear? — Teófilo perguntou, a boca ainda cheia.
— Só falta esse café aí — respondeu Bento, apontando com o beiço pro fogão.
E eu, que já tava sem paciência, esmurrei a mesa com força. A caneca pulou e bateu no prato.
— Eu não sou o fogo, c*****o! Esperem. Daqui a pouco fica pronto... Dia já começou errado — reclamei.
Sou homem de poucas palavras e menos ainda de conversa de manhã cedo. Meus irmãos são bons rapazes, mas falam demais. Já eu, sou ranzinza desde menino. Sempre fui. Já briguei com meio mundo por besteira. Sou desses que julga só de olhar, e se não gosto, não tem quem faça gostar.
Terminamos o café da manhã em silêncio. Selamos os cavalos e saímos pra pastorear o gado. Cada um no seu, como de costume. Nosso terreno é grande, terra que não se vê o fim. Mas já pensava em vender uma parte. Tava difícil segurar tudo e a gente precisava do dinheiro. Casar, talvez. Trazer mulher pra dentro de casa. As filhas do seu Tião da fazenda vizinha dizem que são moças de respeito. Ainda não vi, mas falam que são formosas. Quem sabe não arrumo uma pra cada irmão... e uma pra mim, se eu tiver sorte. Mas antes, tem que pingar moeda no bolso.
O gado, mais de cinco mil cabeça, já tava se aproximando da divisa com as terras do Tião. Levamos três horas pra chegar onde estavam. O sol tava queimando como fornalha. Quando deu nove da manhã, era nossa hora do almoço. Mas, pra variar, a marmita azedou com o calor. Comemos umas frutas e bebemos água da saca.
Na volta, já a uns vinte minutos de casa, o Bento avistou alguma coisa no pasto baixo, perto das moitas.
— Aquilo ali tá se mexendo — disse, tapando os olhos do sol com a mão.
— Não é vaca, é gente! — falou Bento.
— É mulher... olha o cabelo comprido! — Teófilo disse, já botando o cavalo pra correr.
Meus olhos não são tão bons, mas fui atrás. Quando nos aproximamos, me dei conta da cena mais absurda e, ao mesmo tempo, mais bonita que já vi na vida. Era uma mulher. Nua. Deitada no meio do pasto, o sol brilhando na pele branca dela, como se fosse uma aparição.
Fiquei sem ar. Os s***s fartos, a cintura feita à mão de Deus, pele lisa que nem de criança. Sem pelos nenhum. Como pode? Uma mulher sem pelos, nem ali embaixo? Me perguntei. Parecia um anjo perdido. Mas desconfiei logo — ninguém aparece pelada no meio de um pasto à toa.
— A cabritinha é jeitosa... parece um anjo — Teófilo disse, babando nela com os olhos.
Me incomodei. Meus irmãos tão novos e cheios de fogo, não sabem esconder o desejo. Eu também desejei... mas de um jeito diferente. Quis guardar. Proteger. Esconder dos olhos deles.
Desci do cavalo, puxei ela pelo braço. Estava tonta, mas viva. Sentei ela de lado, na sela comigo. Tava quente, suando, e ainda assim a pele dela era macia como seda. Arranquei minha camisa sem pensar, cobri o ombro dela.
— Que pouca vergonha... uma moça pelada no pasto — murmurei, segurando firme nas rédeas.
Ajeitei ela na minha frente, e cavalguei sem olhar pros lados. Só sentia o cheiro doce que subia dos cabelos dela, misturado com o calor do corpo, que encostava no meu. Aquilo me deixou duro de novo. Mas dessa vez, diferente. Não era só desejo. Era necessidade. Queria saber quem era, de onde vinha, por que tava ali. E mais ainda... por que o meu peito parecia querer protegê-la do mundo inteiro.
Teófilo e Bento vinham um de cada lado, olhando pras coxas dela como dois bestas. E eu? Eu daria minhas terras inteiras só pra me enterrar entre elas.
Mas antes... preciso saber se ela é bicho ou santa.
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