Capítulo 15 - Blusa

1656 Palavras
Armin POV – Você podia ter me contado sobre tudo... Murmurei um tanto quanto triste observando suas reações enquanto refazia o curativo em sua mão supostamente feito por ele. Aquilo estava tão feio que eu nem mesmo acreditava que um ser humano portador de polegares opositores conseguia fazer um curativo assim. – Eu faria o meu melhor para entender. Continuei dizendo em um tom baixo retirando aquelas ataduras percebendo que, apenas daquele momento em que ele se machucou até agora, sua ferida já estava começando a infeccionar. – Sua mãe me disse para manter o personagem não importa o que acontecesse. Senti meu rosto esquentar ao que ele levanta seus olhos para me responder, mas eles agora pareciam um tanto diferentes. Possuíam algo que eu não conseguia discernir. Algo entre o simples arrependimento e a complexa hesitação. – Isso está muito r**m. Apontei para os furos em sua mão e observei ele levar seus olhos para a mesma calado. – Posso saber como você conseguiu isso? Perguntei baixinho, hesitante, com medo do que ele poderia pensar ou responder. Eu não sabia mais o que esperar quando o assunto era Vikram. Não sabia mais o que ele poderia me responder ou o que ele poderia fazer comigo. Claro que minha intenção nunca foi ficar desse jeito com ele, até porque eu já o considerava meu amigo próximo assim como Theo, mas depois de descobrir que ele estava mentindo eu não conseguia mais o olhar com os mesmos olhos. – Um cachorro me mordeu. Ele respondeu simplista sem olhar em meus olhos e isso me fez perceber que talvez ele estivesse mentindo para mim. Mas como eu poderia tentar arrancar a verdade dele? Nem mesmo sabia como era ele sendo sincero. É uma realidade dura de ouvir, mas é a verdade. Sem contar que os furos em sua mão eram condizentes com aquela história. Se aparentavam bastante com o formato de caninos de um animal, e por isso me forcei a acreditar. – Cachorros não gostam muito do meu cheiro. Vikram comentou certamente se sentindo na obrigação de me dar satisfação pelo silêncio em que o deixei. Meneei a cabeça achando aquilo plausível enquanto passava o remédio nas perfurações escutando ele chiar de dor. – Era um cachorro grande? Curioso e afoito por manter aquele assunto vivo para não ter que lidar com o assunto principal do dia, eu perguntei a ele enquanto secava com um algodão a secreção que minava de sua mão. – Hm... quase do meu tamanho. Gemeu ele remexendo as pernas agoniado pela sensação de sua mão infeccionada. Suspendi minhas sobrancelhas perplexo com o que eu ouvia. Um cachorro do tamanho dele? Com toda certeza não era um cachorro normal. Vikram era alto e robusto, seria difícil um animal - ou humano - ter seu tamanho. – Ai! Armin, cuidado! Escutei ele ganir apertando meu ombro com sua mão boa quando eu expremi aquela ferida percebendo que havia mais secreção alí dentro. – Como uma mordida de cachorro ficou tão feia? Você limpou ela antes de enfaixar? Perguntei em sequência vendo ele erguer seu rosto para mim com seus olhos meio caídos. – Eu estava preocupado com outras coisas. Disse ele se justificando antes mesmo de me responder um simples "sim" ou "não", então isso me fez supor que ele não tinha higienizado bem a ferida. – ...sem contar que eu te disse que não sabia fazer curativos. Acusou brando possivelmente não tendo como objetivo me deixar chateado (afinal, a culpa disso tudo era dele), mas isso me deixou irritadiço. – E eu disse que não acreditava em você. Pontuei finalmente terminando de fechar o novo curativo que era bem mais organizado e limpo. – Com razão, aliás. Concluí fechando a maleta de remédios ainda com a mão ferida do híbrido em meu colo. Vikram engoliu a seco ressentido passando a outra mão por seus cabelos um pouco bagunçados. Eu não estava pegando pesado com ele. Eu estava apenas falando a verdade. Coisa que ele deveria ter feito desde o momento em que ele percebeu que eu era confiável. De toda forma eu ficaria chateado, mas ficaria menos do que estou que agora. Querendo fazer com que aquele bloco de tensão se esvaisse de uma vez por todas, eu puxei um assunto em um tom brincalhão: – Então você... Chamei sua atenção vendo que ele me olhava expectante. – ...é meio que meu cunhado? Perguntei rindo, mas - ao contrário do que eu esperava - seu semblante escureceu fazendo meu sorriso morrer imediatamente. Ele abrigou sua mão ferida em seu dorso e se tornou tenso. Aparentemente ele não havia gostado muito daquela brincadeira. – Você realmente pretende ficar com Victor? Ele perguntou de maxilar cerrado e lábios pressionados um no outro desconfortável. Ri sem jeito pela pergunta indelicada colocando a maleta de remédios no chão. O que ele queria ao perguntar aquilo? Não era óbvio que eu queria aquele homem o mais longe possível? Eu sei que ele pode não ter gostado de minha leve brincadeira, mas mesmo assim ele não precisava ter perguntado algo tão óbvio apenas para me alfinetar. – Como assim, Vikram? Você sabe a minha resposta. Respondi forçando um sorriso para ele que ainda não parecia ter engolido aquilo. O que era no mínimo agoniante, já que essa conversa para mim já havia perdido o sentido de continuar. Ele possuía uma expressão séria em seu rosto e evitava a todo custo contato visual comigo, como se isso fosse acarretar em outras reações. Pelo visto eu teria que me acostumar com esse novo Vikram e suas "novas emoções". – Se é tão simples me responda você. Dando de ombros ele sugeriu simplório se levantando e me dando as costas. Vejo sua cauda balançar de um lado para o outro com lentidão. Por um momento me mantive calado, tentando processar aquela situação. Era esquisito ouvi-lo falar assim comigo, aquilo estava me deixando um pouco m*l. – Você gosta dele? Se virando para mim e finalmente me encarando com os olhos afiados como duas adagas, ele jogou sua pergunta em mim. Então eu balancei minha cabeça um pouco surpreso com o teor da pergunta. Quase me engasguei com aquilo. Era evidente que a resposta era um grande e redondo "não", mas pela maneira como Vikram me olhava e se dirigia a mim eu não conseguia processar as coisas direito. – Não! Eu não gosto dele! Depois de muito encará-lo em hesitação do que diria, eu exclamei alto me colocando de pé para que ele não de sentisse muito superior naquela situação. Aparentando estar um tanto satisfeito com minha resposta, vi ele desfazer sua expressão fechada e voltar a agir normalmente. Talvez eu só precise entender um pouco mais do que está acontecendo, pois daquele Vikram para esse foi uma mudança drástica. Ele era mais curioso, obediente, feliz e amável. Mas esse Vikram de agora só me mostra algo que eu sempre vi em todas as pessoas. Tristeza, individualidade, egoísmo e apatia. Como se aquele outro nunca tivesse existido de fato. Apenas de pensar nisso eu senti meu coração se apertar um pouco por lembrar do quanto eu estava me divertindo com a companhia de meu amiguinho. Agora eu precisava me conformar com aquele híbrido amadurecido e distante. E sem contar que ele parece um pouco travado com tudo, como se fosse altamente traumatizado com tudo o que eu dizia ou fazia. – Hey, existe alguma coisa que você queira me dizer? Questionei preocupado me aproximando dele e tentando olhar em seus olhos mas ele negou se afastando e começando a desabotoar sua camisa do uniforme, talvez já sabendo que assim eu me afastaria dele. Arregalei os olhos assustado cobrindo meu rosto que esquentava gradualmente. – Vikram! Gritei abismado e escutei sua risada rouca ressonar em meus ouvidos e ele retirou minhas mãos de meus olhos fazendo com que fosse inevitável olhar para seu dorso desnudo. Bom, na verdade eu tentei olhar apenas para o seu rosto. Mas ele fez questão de levar seu olhar para baixo, e meus reflexos então me traíram. Se seu objetivo era me desfocar do que eu estava perguntando para ele, ele conseguiu, já que além de desfocado eu estava a um passo de ir parar no inferno. Eu não podia afirmar com muita certeza por não conhecer muitos homens além de meus irmãos, meu pai e Theo, mas Vikram parecia ter sido esculpido graciosamente pelas mãos de um artista. Sua pele era intacta, lisa e leitosa. Se Aric estivesse no meu lugar ele diria: "Uma pele bonita dessas merece uma marca de mordida" Quase ri por praticamente escutar a voz aguda de meu irmão em minha cabeça, e meneei vendo o curativo na mão do híbrido. Mordido ele já foi, né? Escutando um pigarrear vindo dele, eu ergui meus olhos novamente para observá-lo, e o encontrei de orelhas tombadas para o lado com um quase sorriso em seu rosto. Seu r**o que se mexia sem cessar equilibravam ele entre a fofura e o pecado. Definitivamente esses problemas estavam mexendo com a minha mente. Como eu poderia estar achando o Vikram bonito? Ele é praticamente meu irmão agora! Mamãe o colocou no mesmo patamar de filho. – Vá dormir. Sua voz grave acompanhada de um olhar taciturno interrompeu todos os meus pensamentos bomba, e ele trouxe suas mãos até minha blusa me alarmando. – Preciso tomar um banho, colocar algumas coisas em minha mente no lugar... Vi que ele estava desabotoando a mesma enquanto falava calmo e eu já estava hiperventilando pensando em um milhão de possibilidades. Isso até perceber que ele estava ajeitando os botões que estavam trocados. – E aconselho você a fazer o mesmo. Ele sorriu ainda segurando minha blusa. Passou levemente o indicador na pele sensível de meu pescoço me fazendo recuar. Ainda com um sorriso pequeno, ele pegou suas coisas e caminhou para a outra direção sumindo na escuridão do porão me deixando paralisado.
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