Capítulo 14 - Festa

2222 Palavras
Armin POV Eu estava assustado sem saber o que tinha sido aquilo que eu tinha acabado de escutar, tudo estava muito confuso e eu não sabia mais em quem podia acreditar. Aparentemente, aos olhos de Vikram, eu era o trouxa que não sabia nada e caia nos seus contos de "híbrido doente e inocente" quando na verdade ele não era nada disso. Isso é tão frustrante... Eu confiei nele! Deixei ele chegar perto de mim, deixei ele entrar em meu quarto e... céus! Deixei até mesmo tocar em mim! E agora eu vejo que na verdade eu estava sendo enganado esse tempo todo e que tudo o que ele tinha me dito ou teoricamente me confessado era mentira. Tudo que ele disse ou fez era mentira. E assim que ele retornou eu abaixei meu rosto para encarar minhas mãos, meus pés e até mesmo o curativo em minha perna. Preferia olhar para qualquer coisa, menos para o seu rosto. Eu não sabia como eu iria reagir exatamente ao encará-lo, então apenas me mantive daquela forma ainda processando suas mentiras. Escutei um suspiro vindo dele e engoli a seco sentindo aquele gosto amargo em minha boca apenas por pensar em como fui e******o. – Me desculpa por... você sabe. Escutei ele interromper o silêncio com sua voz branda, mas grave e isso me fez rir. Não de achar graça na situação, mas de incredulidade pela maneira em como eu tinha sido enganado por ele por tanto tempo sem nem mesmo me tocar da verdade. Ele tinha mentido para mim com aquela falsa inocência para tirar proveito de mim e eu acreditei. Eu fui burro o suficiente para acreditar nisso. – Você é um maldito mentiroso... Ralhei possesso de raiva, e ergui meus olhos finalmente tendo coragem de o encarar. Então vi seus olhos de pupilas alargadas pela situação, e vi que ele tentou me estender a mão que por algum motivo sangrava. – Não... Armin... Por favor, me escuta. Recuei de sua área de alcance não querendo que ele encostasse em mim. Não novamente. – Nunca mais encoste em mim! Apontei para ele e vi suas orelhas se abaixarem em uma clara tristeza fingida. Eu não acreditaria em mais nada vindo dele. Nem mesmo em suas expressões. – Eu era uma rapaz puro, nenhum homem jamais havia encostado em mim... Choraminguei me lembrando das vezes que ele me abraçou e quando ele dormiu ao meu lado na cama, no mesmo dia em que acordamos abraçados. Lembrei das vezes em que peguei em sua mão ou em suas orelhas felinas, fiz curativos nele achando que eu tocava em uma pessoa inocente demais para tirar alguma vantagem de mim. E até mesmo pensei que estava sendo muito rude com ele quando briguei com ele por causa daquele beijo / esbarrão! Como eu fui estúpido... – Me desculpe e-eu... Ele tentou de alguma maneira se redimir, mas nem mesmo achava palavras para isso. Isso só me fez ficar com mais e mais raiva, já que parecia que eu não merecia suas desculpas. Ou que ele não se importava por ter me feito de i****a. – Desculpas? Vikram, você mentiu para mim! Gritei explodindo finalmente o que eu estava sentindo, e vi que ele se assustou ao me ver pela primeira vez sendo rude com ele de verdade. – Eu confiei em você, e você mentiu para mim. Apontei com meu indicador para ele que me olhava segurando sua mão perfurada por algo. Vi ele abaixar sua cabeça e respirar com uma leve dificuldade. – Eu sei. Foi a única coisa que ele disse antes do tirano silêncio dominar o ambiente novamente. Escutei ele murmurar algumas coisas para si mesmo baixinho, e percebi que ele realmente não iria me explicar o motivo de ter feito isso ou pelo menos falar algo sobre. Isso apenas me deixou mais furioso e me sentindo mais ludibriado. Então me levantei já disposto a ir embora para a sala. – Você pode me ajudar, eu não sei fazer isso... Ele mais uma vez quebrou a tensão no ar apontando para sua mão ferida interrompendo meu caminho até a porta. Ele não sabia fazer um curativo? Me poupe. Puxei uma caixa de primeiros socorros da prateleira e a coloquei no colo dele o vendo olhar para aquilo sem entender. – Por que eu não acredito em você, uh?! Desdenhei sem medo de ser c***l escutando o sinal da escola bater indicando o fim do penúltimo tempo, então o vi encolher pelo barulho. – Armin, por favor. Foi a última coisa que eu escutei ele dizer antes de sair da enfermaria. [...] O caminho de casa foi silencioso. Até mesmo Theo e Niki não falaram nada. Talvez eles perceberam que a coisa entre mim e o híbrido não estavam muito boas. – Tchau gente, até amanhã! Theo disse acenando para mim e para o híbrido, já que deixamos Nikita na casa dele que descobrimos ser a casa vizinha a de Theo. Vikram apenas acenou calado e eu fui até Theo vendo seu sorriso sumir ao que ele percebeu minha expressão séria. – O que foi? Aconteceu alguma coisa? Escutei ele perguntar e eu não respondi. – Fique perto do telefone quando der sete horas da noite. Irei te ligar. Comuniquei vendo ele assentir rapidamente segurando sua pasta na frente do corpo, então acenei novamente voltando a andar em direção a minha casa. Nem mesmo havia olhado para Vikram. Queria apenas que esse trajeto acabasse para que eu pudesse ir para o meu quarto e dormir. Eu até poderia chorar se houvesse alguma lágrima remanescente em mim, mas havia chorado todas as possíveis nessa última semana. – Armin, diz alguma coisa por favor! Não me deixa no silêncio... Finalmente, quando passamos pelo hall e descemos ao porão onde eu me certifiquei que não tinha ninguém nos seguindo, ele abriu sua boca para falar algo. E pasmem, não havia sido um delírio. Vikram realmente não era doente e nem mentalmente incapaz. O que só fez minha raiva potencializar novamente. Eu tinha abrigado ele aqui, arrisquei minha pele dia e noite para manter ele a salvo, até mesmo deixei ele encostar em mim como se ele fosse um conhecido para ele mentir para mim desse jeito. – Arrume suas coisas, você vai embora após o jantar. Ordenei sem medo de errar ou de ser autoritário. Eu estava fazendo o que deveria ter sido feito desde o início e apenas isso. Ele arregalou os olhos tentando dizer alguma coisa desesperadamente mas eu ignorei subindo as escadas indo em direção ao meu quarto. Eu não ouviria mais nenhuma de suas mentiras. Ainda nesse mesmo percurso eu vi Arzhel sair de seu quarto com muitos livros em suas mãos. Então eu vi essa uma oportunidade perfeita para tentar achar o pedaço que falta na carta, já que ele deixou a porta aberta por não conseguir fechar. Sei que minha vida estava um verdadeiro pandemônio, mas eu ainda precisava saber sobre o que minha mãe falava naquela carta, então minha raiva podia esperar Entrei rapidamente quando achei que tudo estava seguro e fui direto para sua escrivaninha percorrendo todas as gavetas sem achar nada. Realmente uma situação frustrante caso eu não fosse incrivelmente persistente. Então me lembrei de sua mesa de cabeceira como uma esperança e, ao abri-la, quase berrei de alegria a achar um r***o idêntico ao que faltava da carta. Peguei o r***o e coloquei dentro de minha roupa sabendo bem que se eu encontrasse com ele, ele nunca iria colocar a mão em mim. – O que está fazendo, Min? Escutei a voz dele assim que fechei os últimos botões de minha blusa, então coloquei meu melhor sorriso falso no rosto e tentei pensar na desculpa mais convincente que eu tinha. – Uh... vim pegar... tinta! Tinta para minha caneta! Exclamei atrapalhado e ele pareceu acreditar pois riu divertido vindo até mim e fechando a gaveta da mesinha de cabeceira e indo até sua escrivaninha, pegando um potinho com o líquido preto. Mas antes que ele pudesse me entregar a tinta, ele encarou a região de meu peito com estranheza, então senti um frio r**m na barriga ao lembrar que eu havia escondido o papel na minha segunda camisa. Então ele apontou para os botões de sua própria camisa me fazendo olhar para minha e perceber que eu tinha abotoado errado e que ele estava se referindo a isso. – Meu pequeno irmãozinho sempre tão desatento! Ele diz rindo e eu também rio, mas de nervoso até sair do quarto com uma vitória, uma blusa m*l abotoada e mais tinta para caneta. Mas não me ative muito a isso, pois assim que me vi em meu quarto juntei as duas partes e finalmente consegui ver o que tanto me escondiam. 31/09/1937 Oi, meu filho... Eu sei que a mamãe não tem sido muito presente durante toda a sua vida por causa de todos os nossos problemas, mas quero que primeiramente você saiba que eu te amo e amo seus irmãos mais do que tudo no mundo. Mas preciso que você faça algo por mim... Existe um bem muito precioso em nosso porão, cuide dele pois ele é o herdeiro do grupo Goldberg que por alguns motivos precisa ficar abrigado em nossa casa pois ele corre grande risco fora dela. Eu o instrui a fingir ter amnésia ou algo parecido para qualquer um que se aproximasse dele, para que assim não o matassem, então assim que o encontrar mostre essa carta para ele. Ele é muito dócil e amável, mas tem um passado muito triste e difícil, então cuide bem dele até que ele possa contornar o que o mantém preso conosco. Sei que de início não vai ser muito fácil, ele é um menino muito especial e de temperamento forte, mas você descobrirá que ele além de tudo possui um grande apreço por nós. Mamãe ama você, seus irmãos, e também ama Vikram. Adeus. Caí sentado em minha cama ao ler aquilo e a realidade me deu um tapa no rosto. Bom, eu estava sendo bem otimista ao dizer "um tapa". Eu havia acabado de levar dezenas de tapas. Aquela carta simplesmente mudou completamente todo o curso da história, e me fez ganhar um enorme peso em meu peito. Ele não tinha mentido de propósito. Mas ele poderia ter dito alguma coisa ao perceber que eu não apresentava nenhuma ameaça a ele... Ainda sim eu não sabia como contornar aquele sentimento de enganação. E o que ela quis dizer com "temperamento forte"? E que ele "possui um grande apreço por nós"? Como assim "nós"? Eu nem mesmo me lembro de ver alguém como ele por aqui. Nem mesmo me lembro de ouvir seu nome sendo mencionado. Nem mesmo me lembro de qualquer coisa relacionada a ele. Claro que eu estava chocado e apenas inerte sentado em minha cama com a carta em mãos. Isso explica o desenho dele, explica o uniforme que ele possuía da escola, explicava o fato de ele conhecer Victor e vice versa. Na verdade, se ele é o herdeiro da família Goldberg... Me pus de pé ao finalmente ter percebido do que se tratava aquela situação. Vikram é irmão de Victor. [...] – Fiquei sabendo que seu noivo vai dar uma festa a fantasia... Meu pai comentou fumando sentado a mesa mesmo conosco jantando (algo que mamãe abominava) e eu afirmei mesmo não sabendo dessa informação. Victor, que na teoria era meu noivo, não me contava absolutamente nada. Ele apagou seu charuto em meu guardanapo nem mesmo me perguntando se podia e respirou fundo pendendo para frente. – Encomendem suas fantasias então. Os três vão. Ele ordenou e eu afirmei nem mesmo ligando para isso, eu apenas queria logo que aquilo acabasse para que eu pudesse ver Vikram e desfazer aquele grande m*l entendido. Ou melhor, tentar desfazer. Já que eu não sabia ao certo o que eu estava sentindo sobre essa situação. Ainda era tudo muito confuso. Vi Aric bater palmas animado com a festa e Arzhel afirmar monotonamente igual a mim, então o jantar fluiu sem muitos problemas. O que foi ótimo, já que isso significa que ele acabou rapidamente. Assim que consigo uma deixa para escapar da mesa, eu corro em direção ao porão descendo as escadas sem nem mesmo olhar para trás como de costume. Torcia mais do que tudo para que Vikram não tivesse ido antes do imaginado, mas agradeci aos céus ao encontrá-lo com uma trouxa de roupas amarradas em suas costas. Ele colocava a touca que eu havia o dado deixando escapar um suspiro pesaroso por seus lábios. – Vikram. Tentei dizer algo, não sei ao certo o que, pois quando ele me viu ele me interrompeu afobado com suas pupilas crescendo e suas mãos que antes estavam na touca deixaram a mesma cair trêmulo. – Armin, por favor não me deixe ir... Ele suplicou com os olhos marejados e aparentemente assustados eu não aguentei com aquela cena me lembrando do único pedido de minha mãe antes de ela nos deixar. Então corri até ele o abraçando com força. Mesmo que meu peito ardesse e se consumisse em raiva, ou que meu orgulho clamasse por justiça, meu coração nunca deixaria a memória do desejo de minha mãe passar. – Eu não vou. Nem mesmo se você quisesse.
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