Bom dia dona Abigail, vim agradecer a gentileza. Disse a moça assim que avistou a dona da casa que estava ainda de braços erguidos acenando.
A senhora, sorriu um riso franco e do nada abraçou a moça.
Não é trabalho moça, eu faço para a minha família e se você levantasse cedo poderia ter se juntado a nós.
Eu levantei cedo, fui acordada na verdade.
Ela viu a senhora enrubescer, as bochechas rosadas, achou estranho, já antevia um pedido de desculpas os olhos arregalados de quem fez coisa errada.
Desculpa dona Monaliza, eu falei pra ela não fazer barulho, todo domingo é assim ela chega e buzina.
Ela? Não, não foi uma buzina que me acordou, foram os pássaros. Não estou acostumada, eram tantos pássaros cantando eu acordei que nem sabia onde estava, então levanto e vejo o dia nascendo, é sério eu não me mexi por uma hora.
Ela viu o alívio no rosto da mulher.
Mas quem é ela que buzina?
Ah sim, é minha filha a que mora na cidade sabe, todo domingo ela vem tomar café com a gente, era para ela que eu acenava quando você chegou.
Sério, pensei que fosse o sr, Antônio, até fiquei chateada vim pedir orientação.
Ah não ele está no estábulo, posso te levar lá, só me deixa recolher a louça.
Monaliza, sorriu e começou a ajudar a senhora, ouve um início de protesto, mas a moça foi resistente, ela disse que sempre ajudara a arrumar em casa, ter dinheiro não era sinônimo de preguiça. Ganhou pontos com a dona da casa.
Muito bagunça organizada, vamos moça. Falou dona Abigail pouco tempo depois. - Você disse orientação?
Ah sim, nos escritos do meu pai ele diz que a casa precisa de reformas, disse que tinha conversado com um escritório de arquitetura daqui, mas não tem nomes e nada então preciso de ajuda.
As duas foram andando até o estábulo falando de amenidades Monaliza se abaixando para cheirar uma ou outra planta no caminho, um percurso rápido que as duas fizeram sem pressa.
Chegando no estábulo seu Antonio estava ferrando um cavalo. Monaliza pensou com um sorriso esta era sua nova vida, morar em rancho a lida é todo dia e toda hora, nada de se desligar no fim do expediente.
Essa mudança de ares não a incomodava, na verdade era tudo o que ela queria, foi para isso que ela estudou, se aproximou do animal, de porte alto e musculatura firme, olhou de parto o trabalho de ferreiro e admirou a calma com que o trabalho era executado, o animal não estava sofrendo nenhum stress. Finalizado o processo, vieram os costumeiros comprimentos matinais e dona Abigal adiantou o assunto para o marido.
Olha dona Monaliza, escritório de arquitetura como vocês dizem tem o SAM’s eu realmente acho o nome bobo, mas recomendo o trabalho e dou meu aval. - Falou o homem meio encabulado. - Você poderia ter dito isso a ela mulher.
É eu podia, mas ai ela não veria o trabalho executado.
Estranhamente os dois pareciam estar fazendo propaganda, e orgulhosos.
E onde eu encontro este Sam? É seu filho? Mas o nome dele não é Fábio?
O casal riu. - É nossa filha, por isso que o nome é bobo, todo mundo pensa que é homem. Ela diz que é bom pro negócio, ninguém procura empreiteira mulher né, pelo o menos não por aqui.
Sério, este galpão foi construído por uma mulher? Eu mesma não acreditaria se me contassem. Reparou a moça olhando o espaço, os encaixes da madeira. Assoviou.
E os pais da moça orgulhosos, deram a ficha da filha, formada a USP a alguns anos se especializou em construção e decoração, e depois de um tempo morando na selva como ela se referia a São Paulo, abriu uma filial do escritório aqui na cidade. Ela era boa, trabalhava direto inclusivo aos domingos quando a agenda lotava, que era o caso de hoje e por quê de ela não estar com a família hoje.
Monaliza falou que a procuraria no dia seguinte, afinal o ritmo de trabalho no domingo deveria ser menos pesado e a SAM’s deveria descansar. Ao que ambos pai e mãe da moça disseram um sonoro não. Pegaram o telefone, e mandaram a filha voltar. Para ter certeza que a moça voltaria, disseram que era uma emergência.
Monaliza não discutiu. Aproveitou que estavam ali e pediu para passear com um dos cavalos e como não os conhecia, pediu um mais manso.
Os cavalos são seus, você pode andar quando quiser sem precisar pedir, só precisa conhecê-los. Disse Fábio que tinha chegado e atrelava um animal para ela. O jovem tinha uns 25 anos e olhava para Monaliza com adoração, um brilho nos olhos intenso, mas a moça não percebeu este olhar. Ela olhava para o animal, muito bem tratado.
Ele ofereceu companhia, para mostrar os limites da propriedade. Ela sorriu, pegou um chapéu que estava pendurado numa parede próxima e disse que calvagaria só, hoje ela não queria ver os limites, só andar.