Nem Chanyeol, e muito menos Minseok conseguiram ver quando Jongin saiu, foi tudo tão rápido, se resumia em um vulto passando rapidamente por eles. Talvez aquele não fosse o momento certo para voltar a falar com Kyungsoo, mas não poderia ficar com aquela dúvida. E aquele sentimento, aquele medo absurdo que estava sentindo, o que poderia estar acontecendo?
Quando entrou na lanchonete não conseguiu enxergar mais ninguém, tudo o que via era Kyungsoo coberto por dezenas de camisas mesmo estando em um dia quente. Ele estava escondendo. Quando ficou cara a cara com o menor, estava cego demais com aquela confusão de sentimentos, era tudo muito confuso, podia sentir todo o medo de Kyungsoo naquele momento, toda a angustia que ele sentia, e quando aquilo se misturava com seus próprios sentimentos, criava um caos que o cegava.
— Eu só quero a verdade, Kyungsoo. — os olhos do alfa se avermelhavam, as lágrimas desciam de forma livre por seu rosto, mas não chegava nem perto das lágrimas de Kyungsoo, o ômega chorava, e já estava chorando bem antes dele chegar — Me diz a verdade!
Ele não conseguiu dizer nada, apenas chorava e soluçava de forma desesperada. Alguma coisa estava errada, aquela reação era muito mais do que Jongin esperava, não era apenas isso que Kyungsoo escondia. Os clientes olhavam para a cena sem dizer nada, aqueles olhos deixavam o ômega ainda mais nervoso. E foi por isso que o alfa o segurou no colo e partiu para os fundos do local.
Já sabia onde ficava a porta que dava para a casa do mesmo, era a mesma porta que havia sido batida em sua cara antes. A casa de Kyungsoo era pequena, mas aquele não era o momento de reparar em nada, ele apenas procurou o quarto do mesmo.
O menor ainda chorava abraçado ao alfa, o corpo Kyungsoo estava mole e quente, escondia o rosto e puxava com as duas mãos as roupas do Kim, como se estivesse com medo de ser abandonado. Medo, era aquele mesmo medo de mais cedo, aquele mesmo medo avassalador.
— Não precisa mais ter medo, eu estou aqui, meu amor. — sussurrou enquanto afagava os cabelos do pequeno ômega, seu coração doía o vendo naquele estado — Eu estou aqui pra cuidar de você.
— Jongin... — não conseguia falar, o choro pesava na garganta.
Afastou o ômega de seu corpo, mesmo ele não querendo. Ambos sentados um diante do outro, Kyungsoo ainda corava agarrado ao próprio corpo. Mas Jongin precisava saber, ele precisava ver, precisava tocar para que seu cérebro entendesse logo de uma vez o que realmente estava acontecendo.
E mesmo sem pedir a permissão do ômega, começou a despi-lo das diversas roupas que usava, primeiro o casaco, a blusa, e por último a camisa, deixando o tronco do menor totalmente à mostra. Levou seus dedos até o pescoço do mesmo tocando a marca que ali estava. Era real, tinha mesmo acontecido, ele tinha mesmo o marcado como seu ômega.
Kyungsoo agora era seu, mesmo que se recusasse a acreditar nisso. Kyungsoo o pertencia, e seu corpo só responderia ao seu chamado. Podia sentir tudo o que seu ômega sentia naquele momento, podia sentir todo o seu medo, todo o seu desespero, e podia sentir seu amor, podia sentir aquele amor imenso crescendo e palpitando no peito do ômega. Kyungsoo o amava, da mesma forma que ele.
— Por que está com tanto medo? — perguntou, aquele medo absurdo não combinava com o amor de ambos.
— Tenho medo de ser rejeitado, Jongin. — depois de respirar muito, Kyungsoo conseguira falar, ainda era difícil e sua voz estava embargada — Para um alfa, marcar um ômega pode não significar muita coisa. Mas para um ômega, quando nós somos marcados passamos a pertencer aos nossos alfas, já vi casos de ômegas que enlouqueceram ao serem abandonados por seus alfas.
O estomago do Kim embrulhava só de pensar que havia alfas capazes de fazer isso com um ômega, era macabro demais marcar alguém e desaparecer como se nada tivesse acontecido. Sua raça poderia ser c***l em muitos momentos, teria que admitir isso. Agora podia entender o medo de Kyungsoo, agora as coisas faziam sentido finalmente.
— Deveria ter me contato naquele mesmo dia. — Jongin segurou as mãos do menor — Ômegas marcados devem ficar perto de seus alfas, Kyungsoo, não fique mais longe de mim.
Não resistiu em correr para os braços de seu alfa e abraça-lo novamente. O que mais poderia fazer? Seu coração era rasgado sempre que mandava Jongin ir embora, o amava de maneira absurda, não queria larga-lo mais, nem hoje e nem nunca.
— Kyungsoo, por favor, me perdoa por ter sido um i****a com você. — o Kim o apertava cada vez mais contra seu corpo, como se temesse que ele fosse escapar por entre seus dedos e sumir pra sempre de sua vida — Me perdoa por não ter demonstrado o meu amor da maneira que deveria, machuquei você, eu errei, mas se você puder me dar só mais uma chance...
Kyungsoo ficou de joelhos sobre a cama e segurou o rosto de Jongin com ambas as mãos, olhou fixamente em seus olhos antes de colar seus lábios aos dele. Sentiu tanta saudade do beijo de seu alfa, do gosto daquela boca e da forma firme que Jongin segurava sua cintura. Gostava dos beijos delicados do Kim, e da forma como ele transmitia seus sentimentos.
Beijar Jongin o acalmava.
Ao mesmo tempo que fazia seu coração acelerar.
— Eu te perdoo, Jongin. — sussurrou rente à boca do maior — Te perdoo porque te amo demais para viver longe de você.
Jongin segurou seu rosto com ambas as mãos e selou seus lábios rapidamente aos dele novamente. Queria guardar aquele gosto para sempre.
— Vem morar comigo, Kyungsoo. — Jongin se animara ao pedir, seu sorriso se abriu cheio de esperanças — Nós seremos uma família, eu, você e o Jooheon, seremos muito felizes juntos.
Kyungsoo não tinha nenhuma dúvida do quanto poderia ser feliz com o Kim, e ter uma família completa era tudo o que sempre quis. Mas a ideia de chegar seu avô sozinho o entristecia, seu avô já estava velho e não queria que o mesmo passasse seus últimos dias de vida sozinho, ninguém merecia morrer sozinho.
— Eu não posso deixar o meu avô sozinho, Jongin.
— Ele pode vir morar com a gente. — ele tinha uma solução pra tudo, não importava o que o Do falasse, nada o impediria de leva-lo com ele — Sei que o Jooheon vai adorar ter um vovô, e o seu avô vai se divertir muito com Jooheon, eles vão adorar!
Era tentador, queria que seu avô vivesse feliz os seus últimos dias de vida, e a ideia de vê-lo sorrindo com um novo netinho alegrava seu coração. Droga! Ver Jongin sorrindo daquela maneira para ele, ver aquele rosto cheio de esperança, seria c***l demais de sua parte dizer não.
— Se meu avô aceitar, nós podemos ir.
[...]
— Eu não quero.
Quando Kyungsoo contou ao seu avô que havia feito as pazes com Jongin e que iria morar com ele, vira o velho sorrir como nunca havia visto antes. Estava feliz por seu neto finalmente ter alguém para o amar e proteger pelo resto de seus dias. Mas assim que ouviu a condição do neto, seu sorriso se desmanchara, e por alguns segundos Jongin conseguiu ver certa decepção nos olhos do alfa mais velho.
— Mas vovô, o senhor não pode ficar aqui sozinho! — a reação do ômega mais se parecia com birra — Tenho certeza de que vai adorar o Jooheon, o senhor já o viu, viu o quanto ele é adorável!
O menor demoraria até entender o verdadeiro motivo de seu avô querer ficar ali.
— Kyungsoo, meu neto, vocês podem vir para cá sempre que quiserem me ver, mas por hoje eu quero que vá embora com seu alfa, esqueça o seu velho avô por um tempo e seja feliz com quem te ama.
Não, ele não entendia, queria que seu avô fosse com ele, não queria ter que ficar longe, e muito menos ter que escolher entre ficar ali ou seguir sua vida com Jongin. Por que não podia ter os dois? Isso era injusto! Seu avô estava sendo muito imprudente por optar ficar sozinho ali.
Ficar sozinho era r**m.
— Mas vovô...
— Basta, Kyungsoo!
O ômega ficou emburrado, o bico em seus lábios dizia tudo e se afastou para arrumar suas coisas. Jongin ainda permaneceu ali com o alfa mais velho, sentia que ele queria dizer algo, o Sr. Do era a única família que Kyungsoo tinha, a pessoa que sempre cuidou dele, e se agora estava o pedindo para partir, é porque havia um motivo muito especial e importante para isso.
— Sr. Do, por que não quer ir morar conosco? — o Kim não resistiu em perguntar.
E depois de alguns segundos de silêncio e espera, finalmente teve uma reposta:
— Desde que Kyungsoo tinha cinco anos ele vive comigo. — o velho repousara seus braços sobre o balcão, olhava para o movimento lá fora, haviam fechado a lanchonete para terem aquela conversa — Nós já vivemos muita coisa juntos, ele é a minha família. Mas Kyungsoo já se sacrificou demais por mim, muitas vezes o vi largando seus compromissos para não me deixar sozinho, esta é a vez dele ser feliz e pensar um pouco mais em si mesmo.
Kyungsoo era mesmo um ômega especial, seu lobo não havia errado ao escolhe-lo.
— Ele precisa de alguém que o ame, meu filho.
— Eu vou ama-lo como ele merece.
E depois de um sorriso trocado, Jongin voltou para perto de Kyungsoo.
O ômega estava em seu quarto terminando de arrumar suas malas, parecia chateado enquanto socava tudo para dentro de uma mala. Jongin achava aquilo muito engraçado, quando estava com raiva de algo, Kyungsoo fazia tudo com raiva, e suas constantes mudanças de humor eram interessantes, naquele mesmo dia ele chorou, riu e ficou com raiva, tudo em questão de minutos.
— Do que está rindo? — virara-se de repente pegando Jongin de surpresa.
— Você fica muito fofo batendo nas suas roupas como se elas tivessem culpa de alguma coisa.
Bateu nele como forma de repreensão, mas Jongin continuou rindo.
— Não é justo, Jongin! — o ômega fez manha — O vovô deveria vir morar com a gente, por que ele não pode fazer o que eu quero só dessa vez?
O alfa o segurou pela cintura e beijou seu bico levemente, ainda ria de forma contida.
— Só porque seu avô não irá morar conosco não significa que ele vá parar de existir em sua vida. — Jongin tentava ser o mais compreensível possível — É uma escolha dele ficar, respeite isso.
Mesmo não querendo, teve que concordar.
— Não precisa levar tanta coisa, nós podemos comprar tudo novo depois.
— Mas eu gosto das minhas coisas, tudo o que tenho é fruto do meu trabalho e esforço, não gosto de ficar tirando vantagem dos outros, ou aceitar presentes desnecessários.
— Não vai me deixar mimar o meu ômega? — Jongin fingiu estar magoado, era engraçado ver ele assim.
— Tá bom, mas só um pouquinho.
Fechou a mala da maneira que ela estava mesmo, e foi o Kim que a carregou até o carro. Foi difícil ter que se despedir de seu avô assim de maneira tão repentina.
Quer dizer, há algumas horas atrás queria socar a cara do Kim até dizer chega, e agora estava indo morar com ele. É, dizem por aí que o amor tem dessas, dessas de fazer a gente fazer loucuras, fazer com que as coisas virem de cabeça para baixo em questão de segundos.
Afinal, o que não faria para ser feliz ao lado de quem amava de verdade?
Entrou no carro para finalmente seguir seu caminho, e ainda ficou observando seu avô pela janela até o carro dar a curva. Não havia mais volta, havia decidido e não voltaria mais atrás, estava indo embora com seu alfa, apostando tudo e sem ter um plano B.
Ao chegarem, a casa estava toda escura, como sempre estava bem arrumada e com aquele mesmo cheiro que Jongin tinha, aquele cheiro era tão bom, mas estava louco para que o dia em que seu cheiro também faria parte daquela casa, e então aquele lugar ganhasse cheiro de lar, cheiro de família feliz.
— Onde está o Jooheon? — fora a primeira coisa que o menor notara, a falta do pequeno ômega era marcante.
— Está com a minha mãe. — Jongin respondera enquanto colocava as malas de Kyungsoo para dentro — Mas isso é bom.
— Por que isso é bom?
Jongin sorriu de lado e fechou a porta passando a chave, Kyungsoo era mesmo muito inocente.