Seu carro estava parado do outro lado da rua, ao longe Jongin observava a silhueta delineada de Kyungsoo através dos vidros, fora preciso dois dias inteiros trancado em seu quarto para se dar conta da grande besteira que havia feito, não havia sequer ido trabalhar ou atendido qualquer ligação durante esses dias.
A única ligação que queria atender era a de Kyungsoo.
Mas ele não ligou.
Queria pedir desculpas, queria ter o perdão de seu pequeno ômega, nem que tivesse que implorar por isso. Não teria vergonha de ficar de joelhos se fosse preciso, só queria ter Kyungsoo de volta em sua vida o mais rápido possível, e dessa vez da forma certa, o colocando na posição que deveria ter sido colocado desde o começo. Mas que droga! Kyungsoo era o seu ômega, seu ômega querido, não poderia mais ficar longe dele.
Saiu do carro e caminhou vagarosamente até entrar na pequena lanchonete, todavia assim que os olhos do ômega o avistaram o mesmo saiu em direção aos fundos do local, estava fugindo. Jongin o seguiu, porém foi impedido de se aproximar quando Kyungsoo fechou a porta a poucos centímetros de seu rosto.
— Kyungsoo, vamos conversar. — o Kim pediu educadamente, estava tentando manter a calma, por mais que por dentro estivesse a ponto de pôr aquela porta à baixo.
Demorou alguns segundos até a voz do ômega.
— Vá embora. — ouviu a voz abafada do menor, ele estava grudado na porta, e pelo tom estava a ponto de começar a chorar — Eu não quero mais ver você, nunca mais.
Ouvir aquilo partia o coração do alfa, só de imaginar sua vida sem Kyungsoo nela, ele se sentia vazio, precisava ter seu ômega por perto, o queria bem ali ao seu lado, lhe dando o amor que sempre quis ter. Mas que droga! Só queria olhar nos olhos de Kyungsoo mais uma vez, o beijar mais uma vez, e aquela porta maldita continuava fechada, o impedindo de abraçar seu pequeno ômega.
Perdeu a paciência.
— Abra a porta. — usou sua voz de alfa, não queria ter que chegar a esse ponto, mas Kyungsoo o obrigou a ser mais duro — Agora.
A porta se abriu, Jongin passou por ela e a fechou logo em seguida.
Encontrou Kyungsoo de cara fechada, as bochechas molhadas e com o rosto virado para o chão, o ômega não queria olha-lo, estava zangado e ao mesmo tempo com medo. Jongin nunca fala com ele daquela maneira, e esperava que ele nunca fosse falar.
— Meu amor, eu não... — tentou se desculpar.
— Usou sua voz de alfa comigo! — o Do o cortou, irritado o menor virou-se de costas — Não esperava isso de você.
Jongin aproveitou o fato de Kyungsoo estar de costas para poder finalmente se aproximar e o abraçar por trás, podendo assim sentir o cheiro que tanto queria sentir, o melhor de todos os cheiros, que poderia acalma-lo nos momentos mais conturbados. O amava, e finalmente estava se tocando disso.
— Não toca em mim, Jongin, já disse que não quero mais saber de você.
— Kyungsoo, eu amo você.
O coração do ômega balançou, como queria que aquilo fosse verdade! Ter amor de seu alfa era tudo o que queria para sua vida, ainda mais agora que carregava consigo a marca do mesmo. Precisava do amor de Jongin para poder sobreviver, essa era a lei de seu mundo.
Mas onde ficava o seu orgulho? E seu amor próprio? Jongin já havia pisado demais na bola para simplesmente o perdoar e agir como se nada tivesse acontecido. E se Jongin realmente o amasse, entenderia o motivo de sua chateação e lhe daria todo o espaço que precisasse. Mas que droga! Queria perdoa-lo naquele mesmo instante, queria beija-lo, queria dizer que também o amava.
— Não estou pronto para te perdoar agora. — foi muito difícil ter que dizer aquilo, era como enfiar uma faca em seu próprio coração, e Kyungsoo não saberia dizer se aquilo era por ele mesmo ou pela marca — Me dê um tempo até reorganizar a minha cabeça, você me magoou muito.
— Te dou o tempo que precisar. — o alfa respondeu, relutando para não enfia-lo em seu carro e lava-lo embora para ser pra sempre seu — No dia em que resolver me perdoar, pode ser de madrugada ou a hora que for, me liga que eu venho correndo pra você.
O ômega ficou calado, era muito difícil para ele ter que dispensar o alfa que amava, o alfa que havia o marcado, era a pior coisa que poderia imaginar fazer. E Jongin conseguia tornar tudo ainda mais doloroso, o abraçando daquela maneira e beijando seus cabelos de forma gentil.
Um vazio tomou conta de seu ser assim que ouviu o som da porta se abrindo e fechando, só bastou sentir a ausência de Jongin para começar a chorar de forma desesperada, um grito estava preso em sua garganta. Queria perdoar seu alfa, amar seu alfa, estar com seu alfa para sempre. Mas se fosse para seguir sendo magoado todas as vezes, preferia definhar sem a presença dele.
Precisava provar o amor de Jongin.
[...]
— Onde é que você estava?
Foi a primeira coisa que ouviu assim que seus pés cruzaram as portas da casa de seus pais, logo em seguida sendo abraçado pelas pernas por pequenas mãozinhas. Estava tão confuso em relação a Kyungsoo que nem sequer dera noticias para sua mãe, que havia ficado com Jooheon por aqueles dias.
Havia tantas respostas que poderia dar para essa pergunta, e todas elas acabariam em um extenso diálogo de como ele sempre pisava na bola. Seu intuito de ir ali era o de receber algum conselho, descobrir o que fazer para ser perdoado de verdade, e não ter que ouvir sua mãe discernir sobre o quanto alfas estragam com tudo.
— Chanyeol não te explicou?
— Ele apareceu aqui com o Jooheon há quatro dias. — disse a mulher enquanto sentava-se novamente no sofá — Me disse que você estava no cio e deixou o meu neto aqui. Mas seus cios só duram dois dias, e você não é de ficar longe do seu filho por muito tempo.
Precisava contar tudo.
— Kyungsoo passou o cio comigo.
Viu um sorriso enorme surgir entre os lábios de sua mãe, e se sentia m*l por saber que em dois segundos aquele sorriso iria se desfazer completamente.
— Isso é maravilhoso filho! — ela teria batido palmas se isso não fosse exagero demais da sua parte — Então vocês bem um com o outro?
Essa era a parte que ele queria que nunca tivesse chegado, sua mãe não gostaria nada de saber que ele havia pisado na bola de novo, e dessa vez havia sido ainda pior. Merda! Era sempre tão difícil.
— Na verdade não. — suspirou — Ele fez esse sacrifício por mim e eu fiz besteira novamente. — queria arrancar seus próprios cabelos — Disse que ele havia sido muito irresponsável por ter ficado comigo naquele estado, ele estava todo machucado, eu fiquei louco quando o vi cheio de hematomas!
— Filho. — a Sra. Kim tentou ser o mais calma possível, por mais que seu filho merecesse uns tapas — Eu entendo muito bem o lado do Kyungsoo, e vai demorar até que essa ferida cicatrize, ele ainda é jovem e provavelmente sonha com seu alfa encantado que virá e irá leva-lo embora em seu cavalo branco.
— E eu estou mais para o cavalo do que para o alfa encantado.
Era rir para não chorar em uma situação como aquela. Droga! Jongin queria enfiar sua cabeça em um buraco e se esconder pra sempre de sua vergonha imensa. Havia feito seu pequeno e amado ômega chorar, e isso era a pior coisa que um alfa poderia fazer.
— Querido, as coisas vão se resolver, basta apenas que tenha paciência para saber esperar pelo momento em que o seu ômega vai te perdoar.
[...]
— Apareceu a Margarida?
Voltar para a empresa não era r**m, Jongin desejava ocupar sua mente com algo produtivo, e ainda havia uma pilha de papeis que precisava ler e assinar. Quatro dias longe de sua empresa acumularam trabalho demais, e precisava repor tudo até o fim do dia, e ainda ligar para todos os executivos das reuniões que perdeu. Mas o pior de tudo mesmo tinha nome e sobrenome:
Park Chanyeol.
— Não começa, Chanyeol, eu não estou no clima para suas brincadeiras.
O Park não ligou nenhum pouco para a broca de seu chefe e amigo de infância, e ainda era atrevido o suficiente para sentar-se sobre a mesa do mesmo e baixar seu rosto tomando a frente da tela do computador. Ele sabia direitinho o que mais irritava o Kim.
— Como foi o seu cio com o ômega fofinho e bravo?
Não deveria ter perguntado aquilo.
— Foi você que levou o Kyungsoo pra minha casa, não foi? — não precisou esperar pela resposta do alfa mais alto, isso era algo que estava estampado em sua testa, como um grande letreiro escrito “Culpado” — Eu deveria te demitir, seu i*****l! — o Kim até mesmo batera na cabeça do Park, que levantou-se da mesa para se afastar — Faz ideia do quanto o Kyung está machucado?!
Chanyeol abriu a boca várias vezes tentando formular qualquer coisa que fosse para não acabar apanhando de seu amigo, Jongin não era de agredir ou de brigar com ninguém, a não ser que fosse por causa de alguém ou algo que amava muito.
— Eu fiz isso para o seu próprio bem! — o Park baixou suas mãos sobre a mesa, seu semblante se tornara sério, e isso era raro de se ver — Você estava com febre, e eu nunca o tinha visto daquela maneira, se ficasse sozinho de novo acabaria por arrebentar a porta e machucar mais de uma pessoa. E eu não obriguei o Kyungsoo a ir, apenas pedi, se ele aceitou mesmo vendo o seu estado é porque te ama e queria te ver bem!
Jongin ficou mudo.
Ouvir alguém dizendo que Kyungsoo o amava o confortava imediatamente, o amor de Kyungsoo era algo tão necessário em sua vida que apenas mencioná-lo já servia como um grande analgésico jogado sobre sua raiva. Abria a boca, continuava mudo.
— Jongin, tudo o que eu fiz foi levar um ômega até o seu alfa, ele te ama e eu sei que você o ama também.
Chanyeol voltou-se a sentar-se na mesa, e dessa vez apenas ficou em silêncio ao lado do amigo, por aquele momento tentou entender como Jongin se sentia, também ficaria confuso caso algum dia chegasse a machucar Baekhyun, Chanyeol sabia como era amar alguém, e acreditava no amor que Jongin sentia por Kyungsoo.
— Sr. Kim, os resultados das... — a voz de Minseok foi morrendo assim que avistou os dois alfas em silêncio um ao lado do outro, ver duas pessoas assim não era o problema, o estranho era ver Chanyeol e Jongin um ao lado do outro sem estarem discutindo — Pesquisas chegaram. Aconteceu alguma coisa?
O Kim levantara seu rosto, e assim que avistou Minseok parado ali abriu um sorriso como se estivesse vendo a solução de todos os seus problemas.
— Minseok, você é ômega, pode me ajudar!
O menor estava ainda mais confuso.
— O que um alfa pode fazer para que seu ômega o perdoe?
O ômega não havia entendido nada, nunca vira seu chefe o olhando daquela maneira antes, e aquele sorriso macabro em seu rosto chegava a assusta-lo. O que havia acontecido com Jongin? Claro que todos na empresa já comentavam sobre o famoso ômega do chefe, alguns diziam que ele era muito bonito, enquanto uns mais invejosos falavam que era apenas interesse do mesmo, ou que o ômega nem era isso tudo.
Então Jongin tinha mesmo um ômega e havia brigado com ele?
— Brigou com o seu ômega, Sr. Kim?
Ômegas eram mesmo uns bichos curiosos.
Jongin abriu a boca para falar, mas sentira-se estranho, um sentimento de medo e ansiedade haviam se apossado de si, mas estranhamente aqueles sentimentos não o pertenciam, sentia-se estranho, nunca havia sentido algo parecido com aquilo, aquela sensação o incomodava demais, além da pontada em seu peito indicando que havia algo muito erado acontecendo.
Sua única vontade se tornou ver Kyungsoo, sentia uma enorme urgência de abraça-lo naquele momento, de lhe passar conforto e dizer que estava tudo bem. O que era aquilo? Incomodava demais, queimava por dentro, e seus olhos queriam chorar lágrimas que não eram suas.
— Jongin, o que está havendo? — Chanyeol o indagou assim que viu suas expressões — Jongin?
— Sensação estranha. — parou para respirar fundo — Estou com medo e angustiado, mas esse medo não é meu, é como se eu sentisse os sentimentos de outra pessoa.
Chanyeol perdeu toda a cor de seu rosto, sabia muito bem o que aquilo significava, e por aqueles instantes se viu em um grande impasse, claramente Jongin não fazia ideia do que poderia ser, e se ele não sabia, provavelmente também não saberia dizer se havia ou não marcado Kyungsoo.
— Sr. Kim. — Minseok o chamou — São os sentimentos do seu ômega.
Jongin estava ainda mais confuso, encarava Chanyeol esperando uma resposta, e revezava-se encarando também Minseok.
— E o que isso quer dizer?
— É o que acontece quando o alfa marca seu ômega.