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951 Palavras
Capítulo 2 PH narrando Desde a falsa morte do Perigo, alguns meses se passaram. Nem RD imagina que, naquela noite, eu e BN tiramos o Perigo vivo daquela casa — e não morto, como todos acreditaram. — Tem alguém te ligando — disse Rosa. Peguei o celular. — Já volto. — Por que não atende aqui mesmo? — ela perguntou, desconfiada. — Porque é confidencial, Rosa. — respondi, saindo para fora. — Oi — falei ao atender. Era o Perigo. — O que aconteceu? — Entrei no Complexo da Maré. — respondeu firme. — Como assim? Você invadiu? — É meu, p***a! — gritou. — Entrei e conquistei o meu morro. — Seu maluco… — murmurei. — Cara, você é louco. — Eu não poderia voltar para Santa Marta. — explicou. — Seria reconhecido, atrapalharia a vida da Maria Luiza. Ela está casada com o RD, e eu não quero estragar isso. — E vai esconder sua identidade? — Vou dar um jeito. Buscar uma alternativa. — PH! — Rosa me chamou lá de dentro. — Preciso desligar. — falei ao Perigo e encerrei. Quando voltei, Rosa ajeitava a bolsa. — Estou indo. Parece que você está ocupado. — Me desculpa, Rosa. A gente se vê mais tarde. Hoje tem baile, RD liberou. A gente podia ir junto. — Não vai dar. Tenho prova do concurso amanhã, preciso estudar. — sorriu animada. — Quero muito passar. — Professora, né? — perguntei. — Sim. A Maria Luiza estava procurando professoras para a ONG… você não poderia falar com ela? — Você sabe que ela não gosta muito de mim por causa da Marisa. — Rosa rebateu. — Eu converso com a Malu. Ela parece brava, mas é gente boa. Te aviso quando for para você falar com ela. Ela se aproximou, me deu um beijo rápido e sorriu. — Até depois. — Eu te ligo. Rosa era legal. Estávamos ficando, nada sério. Mas amor mesmo… só senti por uma pessoa. Julia. E eu deixei ela ir. Sempre soube que ela queria sair do morro, eu fui covarde, não tive coragem de ir junto. Agora, era tarde demais. Na ONG, encontrei Malu. — PH — ela me cumprimentou. — Tio! — Joana correu até mim com passinhos atrapalhados. — Gordinha, desse jeito vai cair — falei, pegando-a no colo. — Passear! — ela riu, apontando para a porta. — Ela ama passear com você. Por quê, hein? — Malu provocou. Ela nem imaginava que eu levava Joana quase todos os dias para ver o pai. — Alguma resposta da Maiara? — perguntei. — Não. Ela sumiu das redes sociais, apagou o i********:. — Julia não quer contato com a gente — falei baixo. — Agora que sabe da verdade, deve estar com mais raiva ainda. — Eu sinto muito, Pedro Henrique. — Malu me encarou com tristeza. — Também sinto falta dela. Ela é minha irmã. Queria ter feito tanta coisa diferente. Assenti em silêncio. — Eu errei — confessei. — Errei quando deixei ela ir sozinha, quando a fiz acreditar que todos nós estávamos mortos. Quando não escutei Fernanda. — Se um dia ela voltar e te ouvir, vai entender. — Malu tentou me confortar. — Principalmente você. Respirei fundo. — Na verdade, vim falar de outra coisa também. — O quê? — A Rosa. Ela é professora. Está tentando um concurso na prefeitura, mas poderia trabalhar aqui na ONG. — Rosa? — Malu arqueou as sobrancelhas. — Depois de tudo que a Marisa fez, você confia nela? — BN confia. Disse que ela não tem nada a ver com aquilo. Eu também acredito. Convivo com ela. — Tudo bem. — Malu cedeu. — Se vocês confiam, por que eu não vou confiar? Estamos precisando de gente. Diz para ela me procurar. — Valeu. — sorri. — Posso levar a Joana para passear mais tarde? — Pode sim. — respondeu. Perigo narrando Muita gente achou que eu tinha desaparecido para sempre. Eu também cheguei a acreditar. Mas não foi assim que a história terminou. Do alto, olhando para a Santa Marta, acendi um baseado e sorri. Para estar vivo, precisei abrir mão das duas pessoas mais importantes da minha vida: Maria Luiza e minha filha, Joana. Mas não me arrependo. Fiz isso para deixá-las vivas, protegidas e felizes. Maria Luiza merecia ser livre. Merecia amar de verdade, sem o peso do meu passado. Minha morte foi a libertação dela. Hoje, ela tem sua vida, é casada, é amada. De longe, acompanho. Confesso: queria estar no lugar do RD. Mas sei dos meus erros. Fui injusto. Fiz m*l demais a ela. Quando Kaio invadiu o Alemão e levou Malu com Joana, percebi que era hora de colocar em prática um plano antigo do meu pai: desaparecer. Fingir a morte. Naquela casa, Kaio queria obrigar Maria Luiza a me matar. Mas eu sabia que ela nunca faria isso. Então atirei para sobreviver. Mauro, nosso infiltrado na polícia, entendeu meu gesto. Ele confirmou oficialmente a minha “morte”, enquanto eu apenas fingia estar desacordado. Quando RD chegou, eu ainda estava vivo. Mas PH insistiu: RD devia cuidar da Malu, e ele mesmo me tiraria dali. Cortaram um dedo meu para deixar como prova. Acharam que tinham descartado meu corpo. Para todos, eu estava morto. Era perfeito: assim, Maria Luiza seguiria em frente. Ela e RD poderiam viver esse amor. Claro que Malu não é burra. Ela me conhecia bem demais, talvez até desconfiasse da verdade. Mas agora já não importava. Eu tinha uma nova vida. Hoje, sou o dono do morro do Complexo da Maré. E, para proteger minha filha, vou esconder minha identidade a qualquer custo. Eu faria isso por ela. Sempre.
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