CAPITULO DOIS
Quase duas horas de viajem, o avião pousou. Fiz todo o procedimento, e fui para a sala de espera.
Como se alguém estivesse me esperando
Consegui dormir um pouco no avião, mas aquilo não foi o suficiente. Eu estava com uma cara péssima. Usei rápido o banheiro, escovei os dentes, arrumei o cabelo, e coloquei uma roupa melhor. Já estava bem claro. Sai do aeroporto e novamente, tive que pagar um táxi para me deixar na Universidade. Eu estava congelando. Estava muito frio e eu usava apenas um fino tecido. Canadá era um local totalmente desconhecido para mim, mas podem ter certeza de algo; é um dos lugares mais lindos. As ruas são incríveis.
— Moça, você deve estar congelando — o taxista me olhou com pena — Logo irá nevar
— Pode ter certeza que sim. — sorri e esfreguei as mãos — Primeira vez em Toronto. Uau! Incrível
— Aqui é muito bom de morar. O clima é bem frio, mas, você se acustuma
— Claro — falei , e vi quando ele tirou seu casaco e me entregou
— Use até chegarmos na universidade, menina, ou você morrerá congelada — ele riu amigável
— Muito obrigada — sorri e me esquentei no seu casaco. Olhei para o painel do carro, onde tinha uma foto de uma mulher e duas crianças — Sua família?
— Sim — ele sorriu orgulhoso — Meus maiores tesouros
— São lindos — sorri e me aconcheguei no banco de couro.
[....]
— Pronto — ele falou com o carro parado em frente a enormes Universidade. Fiquei de queixo caído. Era totalmente linda. Estava um tempo frio, nublado, e quase nevando.
— UAU! — Falei — Isso é incrível — sorri
— É uma das melhores de Toronto. Você ganhou uma bolsa?
— Sim. Integral. Tô tão feliz
— Parabéns — ele falou.
Descemos do carro e ele me ajudou com a mala. Eu podia ver alguns estudantes entrando para as aulas. Tirei seu casaco e o devolvi. Ele fez um preço camarada, e eu fiquei com seu número caso eu precisasse de uma corrida.
— Obrigada, Tob! Se eu precisar, ligarei sim — sorri, e coloquei o cartão no bolso. Puxei a mala para entrar na universidade, mas fui empedida por um senhor
— Bom dia — me saldou educadamente
— Olá, bom dia — sorri
— Provavelmente é novata? Bolsista?
— Isso — Falei
— Certo. Primeiro vamos na sala da diretora, para matricular-te , ok? É por ali — ele me guiou e vi mais alguns funcionários fazendo o mesmo com outros novatos. Os funcionários eram pessoas bem simpáticas — Pode segui esse corredor, virar a direita, e é a primeira porta — ele falou e eu concordei agradecendo.
Naquele local eu não via muito da universidade, mas o pouco que vi, fiquei encantada. A diretora me recebeu muito feliz, e super me parabenizou pelo meu esforço e conquista. Eram pouquíssimas vagas, e ela me revelou minha colocação.
Vinte vagas para mais de trezentos inscritos. Fique na 10° colocação.
— Seja bem vinda, Clarisse. Pedirei que Sammy te leve até seu dormitório. Sua colega de quarto já está lá.
— Obrigada mais uma vez, diretora Ágatha.
Ela sorriu e Sammy, uma senhora simpática, me levou até meu dormitório. Ela me deixou em frente a porta, e saiu. Suspirei e dei duas batidinhas, mesmo eu tendo a chave na minha mão.
— Entra !! — escutei um grito. Som estava ligado. Quando entrei, avistei minha colega de quarto de costa, pintando a unha do pé. Seu cabelo era loiro levemente ondulado e havia uma mecha roxa bem legal.
— Oi — falei e ela se virou me encarando.
— Oii colega de quarto — ela veio me abraçar — Você também é nova no Canadá? Diz que sim!
Eu ri e concordei — Pois é. Sou nova também — coloquei minha mala do lado da minha pequena cama.
— Então seremos melhores amigas, certo? — ele falou e me abraçou de novo.
— Eu nunca recebi uma proposta melhor que essa — sorri confusa
E a partir daquele momento, eu percebi que essa louca na minha frente, seria alguém bem importante na minha vida. Tudo na minha vida tá uma loucura de um tempo pra cá, então isso não chega nem perto do que já passei.
Ela me ajudou com minhas roupas, e o resto do dia, ficamos apenas conversando e nos conhecendo melhor. Evitei falar de muitas coisas, assim como ela também evitou.
Falamos dos nossos gostos, do local onde moravamos, do nosso curso que seria o mesmo, o que nos deixou bem animadas.
Aliás, ganhamos uma bolsa para contabilidade.
— Você sabe que daqui a pouco temos que ir jantar no refeitório, não, é? Vai se arrumar!
— Certo — sorri me levantando. A água era tão quentinha, mas mesmo assim, o frio era grande. Sai do banheiro, e ainda bem que o aquecedor estava ligado. Coloquei uma calça jeans, uma blusa de manga comprida algodão bege e um casaco preto por cima. Usei uma bota curta, para não ficar nada exagerado. Eu até me daria bem com moda. Sempre gostei de me arrumar bem.
— Estamos ótimas — ela falou e se agarrou em meu braço.
Tenho liberdade para dizer que já a amo? E como ela tá me fazendo bem nessas últimas horas?
Talvez depois eu me declare para minha mais nova amiga
Caminhamos juntas e animadas com tudo aquilo. Era loucura, mas era algo novo, então eu estava animada para experimentar.
— Onde fica a droga do dormitório dos Gays? Indignação gritando aqui! — ouvimos uma pessoa reclamado, e acabamos rindo. Ele se aproximou da gente e parou
— Acabei de chegar, e não encontrei dormitórios para gays — ele disse nos encarando
— Porque não tem! — Alexa falou rindo
— Que falta de respeito — Ele disse
— Eu concordo — brinquei e ele me encarou
— Sou Timothée — estendeu sua mão para nós duas
— Sou Clarisse e essa é Alexa. Somos novas também — falei
— E nos conhecemos hoje — Alex sorri
— É mesmo? Licença — ele diz de uma maneira bem engraçada, se colocando entre nós duas, e segurando nossos braços.
— Agora somos três nessa grande loucura. Contabilidade?
— Contabilidade! — Alex e eu falamos juntas e rimos
— Ótimo! — Falou e saímos os três caminhando.
— Sua mala. Onde está? — perguntei
— Por aí — ele riu e dei de ombros. O refeitório estava cheio. Absurdamente cheio. Quando íamos entrando, parecia que tava escrito na nossa testa "CALOUROS" Todos começaram a bater suas mãos na mesa, e deram um grito de boas vindas. Foi bem engraçado. Alguns olhando torto, outros com um olhar amigável. Espero pessoas de todos os tipos em todos os lugares.
— Uau! Que loucura — Timothée sorriu e nos encarou. Pegamos nosso jantar e nos sentamos em uma mesa perto do vidro onde tínhamos uma bela visão para o pátio da universidade. Um grande pátio.
— Aqui é tão mágico. Tão lindo — falei encarando todo o refeitório. Era algo de outro mundo para uma pessoa que passou a vida inteira só estudando, trabalhando, e sendo odiada pelos pais. — É tudo tão organizado, e ...
— Florzinha, você tá tão apaixonada pelo local? — Timothée perguntou e sorriu
— Talvez um dia você entenda minha fascinação por aqui — sorri e voltei a encarar o local. Meus olhos pararam em um grupo de rapazes, com algumas meninas do lado. Um estava sentando na ponta da mesa, e quando mais alguém ( calouros ) entravam, ele dava tapas na mesa para comemorar. Ele sorria e mordia os lábios ao mesmo tempo. Por um momento ele me encarou e notou que eu olhava para ele. Rápido virei para meus novos amigos, e por sorte, meu cabelo caiu sobre meu rosto, escondendo minhas bochechas vermelhas.
Comi minha comida apenas escutando a conversa animada de Timothée e Alexa.
— Então amanhã terá uma festa no galpão da universidade estadual logo na rua de baixo.
— Festa?
— É... Tipo... De boas vindas para todos os calouros. Os garotos não querem saber se é estadual ou particular. Eles querem as meninas — Alexa falou bebendo seu suco e fazendo um eca depois
— Então não vamos — Falei
— Não seja boba. Nós vamos sim e ficaremos na nossa por lá. Bebendo um pouco, dançando, e teremos Timothée também
— O que? Nem pensar. Sou da Flórida. Não curto muito o frio. Não vou sair de noite para um festa. Vou morrer congelado.
— Para isso que existe roupas de frio, amigo! — Alexa rebate — E somos calouros. A festa é para nós, então todos nós vamos!
Lutar contra a vontade de Alexa era impossível. Sorri e limpei a boca com o paninho descartável.
— Eu preciso mesmo dormir — falei bocejando — Essas últimas horas foram as mais loucos da minha vida
— Sair da sua casa para a universidade foi a coisa mais louca? — Timmy ( Timothée ) riu de mim
— Outra hora eu conto o motivo — lhe dei uma piscadinha. Depois de darmos boas vindas a todos os calouros, nos levantamos e saímos, assim como muitos estavam fazendo. Caminhamos com Timmy até onde ele tinha deixado sua mala e fomos com ele até o corredor do seu quarto.
— Aquilo de quarto Gay era drama? — perguntei rindo
— Claro — ele riu também. O deixamos em frente a sua porta e ele nos deixou dois selinhos rápidos na boca. Não fiquei surpresa. Foi engraçado e amigável.
— Adorei você — Alexa riu e agarrou meu braço. Timmy revirou os olhos e entrou em seu quarto. Aliás, Timmy era um gato. Alto, belos músculos, uma pele bronzeada levemente. Cabelos loiros naturais, notavelmente, e dono de belos olhos castanhos
— Se não fosse gay... — Alex riu e eu belisquei seu braço.
Chegamos no nosso quarto e troquei de roupa para dormir. Peguei o retrato de minha avó Eve, de quando eu tinha oito anos. Desde esse dia, eu nunca mais vi ela. Apenas que ela estava bem, e nada mais. Hoje minha avó estaria ou está com seus cinquenta e oito anos.
— Alexa? — a chamei. Ela se virou e me encarou
— Aqueles caras da mesa do outro lado? Eles são calouros também?
— Os gatinhos?
Me recusei a responder. Eu não sei bem o porque eu estava perguntando aquilo.
— Não sei, Clarisse — ela disse — Mas não aparecem ser novatos não. Aliás, eles não tem cara de novinhos como a gente. Temos só dezoito anos? Eles parecem ter uns vinte e cinco por aí — Ela disse e eu concordei
— Só estava curiosa — falei — Amanhã já temos aula, hein?
— Tô ansiosa — ela sorriu e eu também
— Eu também
— Tô muito feliz por você ser minha colega de quarto
— Eu mais ainda — falei olhando para o teto — Você não sabe o quanto — eu disse me virando e pegando no sono.
[...]
"TRIMMMMMMMM"
Dei um pulo da cama e acabei caindo no chão gelado. Eu respirava pesado e assustada. Olhei para a janela e vi que já estava claro. O frio era grande, mas não estou reclamando, eu gosto do frio.
— Droga de despertador — Alexa murmurou com a cara no travesseiro. Levantei e me sentei na cama, me enrolando na coberta — Eles deveriam dar hoje de folga, sabe? Só pra irmos nos acostumando
— Essa foi ótima — sorri e peguei a toalha — Nem acredito que vou tomar banho nesse frio
— Vou aumentar o aquecedor
— Tá — falei.
O banho foi muito rápido. Muito mesmo. Escovei os dentes e prendi o cabelo em um coque frouxo.
Alexa entrou depois de mim. Coloquei uma calça jeans novamente, botas curtas e uma blusa de algodão também por baixo, mas dessa vez, vermelha. Por cima, optei um casaco de algodão marrom claro bem quentinho. O nosso material também foi disponibilizado pela universidade. Esperei Alexa se arrumar, e nós duas encontramos com Timmy no refeitório. Acabei lembrando do emprego que preciso arranjar. Fechei os olhos e suspirei.
— Preciso arrumar um emprego logo, ou minhas economias irão por água a baixo.
— Hm... Talvez eu te ajude. Meu colega de quarto disse que tem uma lanchonete aqui perto que sempre emprega os estudantes que precisavam de uma grana. Victor, se não me engano.
— Isso seria ótima. Tenho jeito para garçonete — sorri de lado — Quando eu tiver um tempinho, vou lá, ou procurar onde tiver pra mim
A campa bateu novamente e essa era avisando que o café já tinha terminado. Primeiro dia de aula como sempre é só apresentação. Na minha sala eram todos legais. Sem frescura alguma. Gostei bastante dos meus colegas. Os professores são engraçados e descontraídos. Sempre tem aquele louquinho, aquele mais sério, mas de qualquer maneira, eram bem legais.
— O que achou?
— De tudo? Perfeito até agora. Nada do que reclamar. Não sei nem se devo. Isso é o paraíso perto de tudo o que já passei — falei para meus amigos.
— O que aconteceu, Clarisse?
— Depois eu conto. Quero conhecer a universidade agora. Vocês já olharam tudo? Algumas colegas de sala falaram que tem três bibliotecas. Vários laboratórios, sala de jogos , mas a sala de jogos só está disponível no final de semana ou feriado para os alunos que não voltam para casa. No caso, Euzinha aqui — sorri
— Eu só sabia da sala de jogos! — Timmy fala
— Eu só sabia dos laboratórios. A sala de jogos deve ser legal, mas com certeza está trancada.
Nesse momento, os carinhas que estavam na mesa aquele dia, passaram. O rapaz que eu estava encarando, passou abraçado com uma menina, que se derretia por inteira
— Esses são os caras que cursam Direito. É o último ano deles parece — Timmy disse
— Eles ficam no dormitório? — perguntei
— Parece que alguns deles possuem apartamento um pouco perto daqui. Deve ser melhor, né? Cozinha, sala, banheiro maior. Dois ou três quartos. Deve ser bem relaxante. Essas paredes são finas demais. Na primeira noite já não dormi bem escutando agarramento do outro lado. Não mereço isso.
Eu ri de lado
— Fico imaginando as safadezas que rolam nesse apartamento — Ele disse
— Sem contar na organização — eu ri — Bebidas, mulheres, roupas sujas pelo chão... — Falei
— Eca — Alexa enrugou o nariz ao dizer.
— Vamos logo conhecer o lugar — Timmy falou nos puxando. Eu tenho tanta sorte deles estarem sempre comigo e de uma forma egoísta, agradeço por eles não terem muitas pessoas aqui também.
— Aqui é a sala de jogos — falei olhando pelo vidro
— Uau. Quero!!! — Alexa falou
— Final de semana, baby— Timmy tocou em seus ombros quando ela fez careta
— Vocês querem ir na biblioteca?
— Agora? Agora não, flor, temos outras coisas para olhar
— Então eu vou lá rapidinho, ok? Encontro vocês no pátio do colégio ou me mandem uma mensagem
Timmy e Alexa se foram. Eu estava querendo encontrar o livro "Filosofia aplicação à contabilidade" Entrei pela porta dupla, e a senhora que ficava no balcão me observou sobre os óculos.
— Bom dia — Sussurrei e ela me saldou. A biblioteca era enorme, clara, e havia MUITOS, em uma quantidade absurda de livros. Deveria ser a maior daqui. Dois andares.
Subi para o andar de cima na linda escada de madeira bem feita e brilhosa. Corri para a ala de filosofia, e segui as instruções para tentar achar o livro facilmente. Era tudo muito organizado e limpo.
— Cadê você? — perguntei, como se o livro fosse me responder — Achei!!
Passei algumas páginas para ver se não estava faltando alguma, e parecia que não. Peguei mais dois livros que me interessei, e sai daquele corredor. Fui até o último na ala de finanças, mas parei bruscamente quando vim uma cena um tanto... O que fodido era aquilo?
Eles estavam quase transando ali. O carinho que eu encarei no refeitório sem motivo algum. Engoli em seco e dei alguns passos para trás meio atordoada.
Nojo
Como vou almoçar depois disso?
Toda vez que ele passar por mim eu vou lembrar
Argh!
Desci rapidamente as escadas, anotei os livros, dei meu nome, a fichinha do quarto e sai da biblioteca. Encontrei meus colegas no pátio. Tammy estava debaixo da árvore sentando e Alexa pegando alguns floquinhos de neve que caiam.
— Achou os livros — Ela perguntou.
— Achei sim. Peguei até mais dois — Falei e me sentei ainda atordoada.
Alguns minutos depois, o carinha lá passou por nós , e a loira que ele tava pegando bem atrás
— Ethan De La Vega — Alexa Sussuros — Ele é um gato, né?
— Como descobriu o nome dele?
— As garotas aqui só falam no nome dele, Amiga — Alexa disse ainda seguindo os passos dele.
— Ah...
— Gato mesmo — Timmy disse, sacando um cigarro e fumando
— Você fuma?
— É muito difícil, mas senti vontade agora, mas vou parar, flor — sorriu e eu revirei os olhos.
Ethan ara alto, com uma bela postura, e seu corpo era forte. Moderadamente. Nada exagerado. Seu cabelo castanho escuro ficava em um tom avermelhado quando ele passava por locais onde a pouca luz iluminava. Seu rosto não vi direito, mas de qualquer maneira, Ethan era lindo.
— HEYY, Clari! Posso te chamar assim, né?
— Claro — me virei para ela
— A festa hoje. Vai usar o que?
— Não sei. Eu estando vestida já tá de bom tamanho — falei e ela me beliscou
— Não seja chata — ela riu
— Eu não sou. Eu tô brincando. Vamos escolher uma roupa mais tarde. E você, Timmy?
— Calça, casaco e bota.
— Tão simples. Queria que fosse assim comigo também — eu ri
— Seu cabelo é ruivo natural? — ele perguntou
— Sim.
— Quem da sua família é ruiva?
— Ninguém — sorri fraco, cortando a pergunta dele — Daqui a pouco temos almoço e parece que teremos um introdução na aula de tarde. Vamos indo?
— Vamos
Timmy jogou seu cigarro na lata, e deixou sair a última fumaça. Ele não aprecia gay. Tinha uma postura de machão, mas naquele dia no corredor, estava com o papagaio solto.
Ele ficou entre mim e Alexa, como sempre fazia , e seguimos para o refeitório que estava meio vazio ainda. Pegamos nosso lugar de costume e ficamos jogando conversa fora.
Os alunos da universidade eram bem misturados. Claro que em algumas mesas tinha seu grupinho, mas , nada de anormal nisso. Todos conversavam muito animados.
Peguei meu almoço e me sentei junto aos meus amigos.
— A comida daqui é tão boa — Timmy disse — Sério. Pensei que seria comida enlatada e tudo mais, mas é ótima. Lembra a comida da minha mãe.
Meus olhos bateram novamente na mesa onde Ethan ficava, e minha barriga virou ao lembrar da cena na biblioteca. Olhei para o meu prato, perdendo TOTALMENTE o apetite
— Alguém quer o meu?
— Você sabe que não podemos desperdiçar comida, certo? — Alexa avisou
— Eu sei, mas... Argh! Não consigo comer mais — falei
— Faz um esforço — Timmy disse e eu tive que comer. Ainda bem que coloquei pouco.
— Se interessou por alguém naquela mesa? São todos gatos — Alexa me encarou — Você não para de olhar para lá.
— A verdade é que não sei como eles aguentam aquelas meninas rodeadas vinte e cinco horas por dia no pescoço deles — Falei — Isso é tão patético
— Concordo, mas eles gostam disso — Timmy sorriu — Qual é, olha pra elas. São tão ridículas. Aqui tá um frio de te quebrar no meio. Olha a roupa que elas estão usando? Não faz sentido.
— Você tem razão. Mas , eu já esperava encontrar meninas assim aqui — Alexa riu provocando.
Observar a mesa onde aqueles rapazes estavam, era algo que eu não estava conseguindo não fazer. Era muito bizarro a maneira que elas se jogavam para cima deles. O Ethan tinha uma em seu colo agora.
Outra agora, aliás.
Me levantei e caminhei com meu prato até o balcão onde os pratos eram recolhidos. Quando voltei, a mesa dos rapazes me encaravam. Eu estava suja? Meu rosto ficou vermelho no mesmo momento. Mordi os lábios, e os meus fios ruivos caíram sobre meu rosto. Coloquei as mãos dentro do bolso do casaco e olhei novamente para lá. Ethan me encarava também. Meu coração começou a subir e descer. Toda vez que eu olhava para ele, lembrava daquela cena e era péssimo.
— Eu tô indo para o quarto. Preciso arrumar algumas coisas e preciso ir na lanchonete perguntar se tem vaga
Eles concordaram e eu saí dali com passos largos. O frio era absurdo. Coloquei mais uma blusa para ficar quente, arrumei minha cama que estava bagunçada, e sai da universidade com destino a lanchonete do Victor. De fato ficava perto, como Timmy disse. Do lado de fora havia as mesas, e dentro, o local estava bem quentinho. Alguns estudantes bebiam chocolate quente. Caminhei até o balcão e um rapaz sorriu para mim
— Posso ajudar?
— Eu queria falar com o proprietário. Victor o nome dele.
— Sou eu — ele sorriu amigável
— Sou nova na universidade aqui do lado. A Camparano. Um amigo me disse que você emprega alguns universitários que precisam de emprego. Queria saber se tem como eu entrar na fila.
— Já vieram bastante estudantes Aqui. Tô fazendo teste com cada um. Você pode vir amanhã a noite, seis horas, se estiver bom pra você. Podemos fazer o teste. Você trabalha, eu te pago, claro, mas, irei avaliar você, e os meus clientes também.
— Ótimo. Perfeito — sorri — estarei aqui sim — Ele tocou em minha mão e sorriu amigável.
— Espero você amanhã.
— Obrigada mais uma vez
Eu saí feliz. Era um chance, e eu teria que fazer perfeito. Sempre fui simpática e educada com as pessoas. Isso não será difícil. Cheguei na faculdade e tirei o cachecol que eu usava.
Cheguei no quarto e Alexa já estava se arrumando para a segunda aula.
— Vamos?
— Vamos — falei a seguindo.
[...]
Estavamos descendo a rua fria para a festa de boas vindas dos calouros. Muitos estudantes estavam do nosso lado. O galpão era enorme e o barulho faltava estourar meus ouvidos.
— Eu vou morrer congelado — Timmy falou. Puxei seu braço e entramos na festa. Bom, nada de diferente. Dança, bebida, música alta, sexo com roupa... Era mais ou menos isso, mas parecia divertido apenas beber, sentar e conversar. Talvez dançar um pouco. Pegamos uma mesa e Timmy foi buscar bebidas. Demos um gole da bebida forte, e Alexa já ficou animada
— Vamos dançar? Preciso esquentar o corpo — ela riu e nos chamou, mas eu não queria agora.
— Depois, ok
Ela me olhou de cara feia, mas saiu rebolando para a pista de dança. Aliás, eu usava uma calça de couro, botas longas, uma camisa de manga comprida rosa , e um cachecol branco.
— Eu poderia estar na minha cama quentinha assistindo Stranger things, ou qualquer outra coisa... —Timmy murmurou
— Você tem razão — sorri e deitei a minha cabeça no seu ombro — Eu nunca fui em festa — falei — Mas aqui é legal.
— É legal sim
Alexa estava dançando com um cara, esse mesmo que andava com os carinhas que cursavam direito, se não estou enganada. Os dois pareciam se divertir bastante.
Puxei Timmy para a pista e nós dois começam a dançar também ao som de Emmit Fenn - Modern Flame Remix
Era uma das minhas favoritas. Realmente me soltei, e deixei toda energia circular por meu corpo. Timmy sempre ao meu lado. Me rodava, se encostava em mim, rodava de novo.
— Agora sim o frio sumiu — ele riu e começou a pular, como quase todos estavam fazendo.
A música mudou e Timmy me puxou. Nos sentamos e bebemos mais um pouco. Alexa não parava com o tal carinha. No final da festa, vejo o tal Ethan subindo encima de uma grande caixa de som e pegando o microfone.
— Bom... É o último ano dos meus amigos e eu na universidade Camparano, mas essa tradição que criamos não PODE PARAR! — gritou de um jeito bem jovial — Claro, vamos dar boas vindas aos novos calouros — ele falou, deixando o microfone de lado, e estourando um champanhe — Bem vindos ao nosso mundo. A festa é pra vocês. ESTUDEM! — gritou e pulou do palco. Todos gritaram e bateram palmas. Um monte de meninas pularem no pescoço do Ethan e ele saiu com cada uma delas para a mesa do outro lado. Ele se sentou e eu ainda o encarava. Ele me olhou, e meu coração gelou. Segunda vez que ele me pega o encarando.
DROGA!
Ele sorriu de lado, e levantou seu copo para mim, me saudando. Fiz o mesmo com o meu copo de uma forma amigável e educada, mas eu podia sentir a vergonha no meu rosto.
— Não caia na lábia dele — Alexa murmurou no meu ouvido e bebeu um pouco do meu copo — Tô saindo com Jasper, ok? Amanhã tô de volta
— O que? Você não conhece ele... E se ele te agarrar ou ....
— Calma, Best friend, agarrar estará nos nossos planos — ela riu e beijou minha testa, deixando um selinho em Timmy — Cuida dela, Timmy. Deixa ela longe dos predadores
Timmy riu e levantou seu copo para Alexa.
— Quem é Jasper? Ela chegou ontem. O que ela tá pensando?
— Jasper? É filho de um dos donos da empresa de sapatos aqui em Toronto. Ele é gente boa — Timmy falou tranquilo
— Ele é da turminha de direito?
— Sim.
Concordei e tomei o resto que ainda tinha no meu copo.
— Vamos?
— Vamos!
Ele segurou no meu braço e saímos do local. O frio estava maltratando, então corremos para chegar mais rápido. Entramos pelos fundos, por onde não chamaria muito atenção. Era assim que todos ali faziam. Timmy me deixou na porta do meu quarto e se foi.
Só lembro de cair na cama e dormir com a roupa da festa. Amanhã eu teria certeza que se tivesse um teste ou algo do tipo, eu tiraria zero, e isso não pode acontecer.