capítulo 03

2704 Palavras
James. À noite, depois de conversar até umas onze horas com meu Vô, finalmente vou para meu quarto e me jogo na cama. Encaro o teto pintado com estrelas e planetas dispostos em um fundo azul brilhante. Meu pai pintou isso quando era a adolescente. Viro de lado e olho pela janela de vidro, não conseguindo ver absolutamente nada, já que o céu está nublado e é lua nova. Solto um longo suspiro, antes de levantar da cama e ir até à escrivaninha, lembrando-me do livro de mais cedo. Pego o livro velho com cuidado, como se ele pudesse rasgar (ou pegar fogo) com qualquer movimento em falso meu. Volto para a cama e me deito de bruços, colocando o livro na minha frente e começar à folhear as páginas amarelas de desgastadas. Começo à ler, forçando-me um pouco para descobrir o que está escrito nos cantos, já que as letras estão quase apagadas. Alice. Um nome bem comum entre híbridos, mas o que deixa o livro um pouco confuso é o fato de não falar que tipo de híbrido ela é, então deixo isso por conta da minha imaginação (imagino uma hibridazinha loira de olhos azuis brilhosos e orelhas de gato). No começo, conseguia entender pouca coisa. Só que essa Alice era meio maluca e decidiu seguir um coelho para dentro de um buraco (QUEM EM SÃ CONSCIÊNCIA FAZ ISSO?! Mas okay, também tenho minhas paranoias). Aí o buraco... Que na verdade é um túnel, ainda mais maluco que a Alice leva ele para um mundo completamente diferente, o pais das maravilhas. (Embora eu só ache que ela bateu a cabeça ou tenha esquecido de tomar o remedinho). Passo as próximas duas horas lendo. Pensando como seria legal/estranho visitar outro mundo, assim com o Alice. Meu personagem preferido é o chapeleiro maluco, que sempre fala coisas incoerentes e inexplicáveis, mas que na verdade, TEM TODO O SENTIDO!! Agora, Alice está com uma nojenta e s*******o chamada rainha de copas, que maltrata os animais e é rabugenta pra c*****o. Se eu conhecesse alguém assim, queria ver se o que o seu “CORTEM AS CABEÇAS” faria contra as minhas chamas. “O que você é?” perguntou uma flor para Alice, me fazendo questionar o grau de sanidade de quem escreveu esse livro. Adorei. “Eu sou uma garota. Uma humana.” Responde a hibridazinha... Espera o que?! Humana?! Mas... Como assim humana?! Foco nas última palavra da folha. H-u-m-a-n-a. Viro a página apressado, querendo saber mais sobre essa coisa. “Ah. Eu sabia que você não era flor. Sua humana...” são as últimas palavras que eu consigo ler, antes de notar que o resto da pagina foi completamente coberta por uma mancha enorme de tinta, fazendo tudo virar um borrão preto. AH NÃO! SÓ PODE ESTÁ DE BRINCADEIRA!! Passo apressadamente as outras páginas, vendo somente um furacão de tinta borrada e páginas rasgadas. c-como assim?! Eu li essa m***a até agora pra isso? Nada?? Porque não folheei essa p***a antes? Agora tudo que sei é que Alice (uma humana!) estava fugindo... Preciso terminar isso! Pego o livro de qualquer jeito (já tá só o lixo mesmo) e levanto da cama na velocidade da luz, antes de caminhar para fora do quarto sem nem mesmo calçar os chinelos, além de está vestindo apenas à parte de baixo do meu pijama. Atravesso o corredor pouco iluminado, sentindo o piso frio sob meus pés. Para em frente a porta do quarto do meu Vô e entro sem bater nem nada. - VÔ!!- grito, como se tivesse acabado de ver a coisa mais h******l da minha vida. - o que foi?!- ele responde assustado, antes dá um pulo felino e fica em pé dois segundos depois, me olhando como se esperasse eu contasse alguma tragédia. - você sabe onde meu pai achou isso?- pergunto calmamente. - você quase me matou de susto.- diz, antes de soltar um longo suspiro e levar à mão até o peitoral bronzeado, colocando-a sobre o coração. Depois, ele senta na cama e me encara. - desculpa. Mais iai? Você sabe onde ele conseguiu esse livro?- levanto a mão, mostrando-lhe o tal livro. - senta aqui.- ele dá batidinhas ao seu lado, me fazendo caminhar até lá e sentar. - deixa eu ver.- diz, me fazendo estender o livro, que ele pega segundos depois. - ele achou em uma das caixas que tinha as coisas da sua avó, à quase vinte e cinco anos atrás.- responde meu avô, depois de examinar o livro. - ah. E onde você acha que ela conseguiu?? Preciso ler esse livro.- digo. - eu não sei Jamie, nunca tinha ouvido falar desse livro “Alice no pais das maravilhas”. Mas acho você pode comprar em alguma livraria por aí. - é, acho que sim.- digo, embora esteja mentindo. Nenhum dos nossos livros tem como personagem principal um humano. - desculpa por te acordar Vô, era só... Paranoia minha mesmo.- levanto da cama e pego o livro, - eu não estava dormindo ainda. Qualquer coisa que precisa é só chamar okay? - okay.- respondo, antes de dar-lhe boa noite e sair do quarto, ainda frustrado. O livro não tem nenhum híbrido ou referência à eles, não tem nada semelhante ao nosso mundo (mesmo antes da Alice entrar no buraco) e tem personagens humanos. O que provavelmente quer dizer que quem escreveu também é humano. (****) Na manhã seguinte, levanto da cama e encaro meu reflexo no espelho enorme da parede, ainda meio zonzo de sono. O cabelo ruivo está tão bagunçado que acho que vou precisar de um ciscador pra fazer ele voltar ao normal, quase não consigo ver minhas orelhas peludas no meio desse ninho; há olheiras ao redor dos meus olhos, que segundo meus mais são âmbar, mas acho que é só um nome chique para alaranjado; desconfio que passei a noite babando, já que minha bochecha está meio molhada. Um horror. É assim que eu estou. Desvio os olhos do meu reflexo e caminho até minha mala, que está ao lado da cama, sobre o carpete felpudo, já que não tive tempo pra colocar no guarda-roupa (mentira, foi preguiça). Tiro o pijama e o jogo sobre a cama desorganizada, que pretendo arrumar depois. A luz que entra pela janela banha meu corpo seminu, fazendo a sensação de fadiga, preguiça e sono ir embora. Pode parecer estranho, mas a luz e o calor são como um remédio natural para mim, fazendo a indisposição ir embora em instantes. Desde criança, Sempre gostei de sair pra passear meio dia, quando o sol estava dando o seu máximo. Minha corpo absorve o calor e me deixa com a sensação boa, sem nunca queimar minha pele, que fica branquinha e corada mesmo se passar uma semana no sol. Abro a mala e caço alguma coisa confortável. Pego um short de moletom e uma camisa verde claro. Depois de vestido, saio do quarto e ando pelo corredor em direção ao banheiro, enquanto observo os quadros e retratos das paredes, há fotos minhas, dos meus pais e de todos nós juntos com meu avô, além de algumas pinturas de paisagens. O banheiro enorme e está exatamente como eu lembrava, há um box dividindo o banheiro ao meio e um armário embutido na parede. Abro a porta do armário e tiro um pente e minha escova de lá, antes de me voltar para a pia, que tem um espelho em cima. As olheiras desapareceram completamente, mas o sol infelizmente não pôde fazer nada em relação ao meu cabelo. Abro a torneira e coloco minhas mãos em forma de concha debaixo dela, antes de abaixar a cabeça e levar as mãos até meus cabelos, encharcando-os, sem me importar ser isso vai molhar minha camisa. Depois de estar satisfeito com a humidade, pago o pente e começo à tentar desembaraçar o cabelo, penteando-os para cima e para os lados várias vezes. Logo em seguida, escovo os dentes super rápido, para descer para o primeiro andar e encontrar o meu vô, além de comer o café da manhã delicioso que ele provavelmente já preparou. (****) “Fui podar as árvores do pomar. Tem bolo na geladeira” diz o bilhete que encontrei em cima do balcão da cozinha. Olho pela porta de cozinha, esperando ver ele lá, mas à distância entre a casa e o pomar é maior do que eu me lembrava, de modo com que eu veja as árvores em miniatura, separadas da casa pelo enorme campo gramado, com flores de todas as cores. Caminho até a geladeira e à abro, recebendo um vento gélido no rosto Que até pode ser refrescante, mas não é o meu “clima”. Pego o enorme bolo de chocolate, coberto com granulado e com pedaços de morango. Tenho que me segurar para não babar em cima do bolo enquanto o levo até o balcão. Minha cauda está balançando freneticamente, contra minha vontade. Vou até o armário e pego um prato e uma faca, antes de me voltar para o bolo e tirar uma fatia monstruosa. Decido comer com a mão mesmo, então devolvo o prato para o armário. Nunca gostei de café, e suco de manhã não é uma boa ideia, então vai ser só o bolo mesmo, que é mais que o suficiente. Começo à dar mordidas enormes na parte de baixo do bolo, lutando para não soltar um gemido de satisfação quando o gosto maravilhoso explode em minha boca. Uma mania que eu tenho, é de começar à comer sempre por baixo, deixando a parte mais boa, com recheio, granulado e morando por último. Aposto que a maioria ficaria cheio e enjoado ao comer só metade da fatia que estou acabando de comer, mas eu poderia dar fim no resto desse bolo em poucos minutos, assim como meu pai Thomas. Uma vez nós comemos 90% de duas tortas, deixando só uma pequena fatia pro meu pai Aaron. Depois de terminar o bolo, espio meu reflexo na porta de vidro do armário para ver se meu rosto não está todo lambuzado de chocolate. Coloco o resto do bolo na geladeira e tomo um copo d’água, antes de sair de casa e começar à andar em direção ao pomar, enquanto observo cada detalhe do enorme jardim. A grama é verdinha e bem podada (desconfio que meu pai tenha feito algo com ela, já que demoraria séculos pra cuidar de tudo). O sol faz as cores das flores ficarem ainda mais vivas, as pétalas dos girassóis são tão douradas que quase me fazem ir até lá e toca-las ou sentir o cheiro, mas decido continuar caminhando em direção as árvores. O canto dos passarinhos se misturam e fazem uma melodia suave, e quando chego no limite do pomar, o sol fica ainda mais alto. - Vô??- grito, enquanto adentro na enorme floresta de árvores frutíferas e enormes, tão grandes e imponentes que fazem com que suas copas unam-se umas as outras, fazendo pouca luz atravessar as folhas. - aqui, Jamie.- responde ele, não muito longe de mim, mas mesmo olhando para os lados várias vezes, não consigo vê-lo. - onde? - aqui. Na macieira grande à sua esquerda.- olho na direção em que ele disse que estaria, mas não vejo nada, senão uma... Franzo a testa ao ver à cauda marrom balançando preguiçosamente, que é a única parte visível, já que ele está escondido entre os galhos da macieira. Caminho até lá, ficando em baixo da árvore. Olho para cima e vejo meu Vô sentado num galho grosso da árvore, olhando para mim com um sorriso enorme no rosto. - o que o senhor está fazendo aí?- digo, dando um passo pro lado, já que ele estava tentando fazer cócegas no meu pescoço com os pelos castanhos da ponta da sua cauda. - duuuh. Podando a árvore.- responde o óbvio, desistindo de fazer cócegas em mim, já que estou fora do alcance. - quer ajuda? - não precisa. Você tomou café da manhã?- ele diz, antes de pegar uma maçã vermelha e enorme e morder. - sim. O bolo estava ótimo Vô.- elogio, o que é a mais pura verdade. O meu Vô é o Melhor de todos. - tudo pro meu netinho.- não falei? O melhor. - tem certeza que não quer que eu faça nada? Posso subir aí e ajudar. - bom....você pode ir colher algumas romãs, eu pretendo fazer um suco mais tarde. - claro!- digo. - olha ali a cesta.- ele aponta pra cesta no chão, ao lado do tronco da macieira. - tá.- dou alguns passos até a cesta e me abaixo, pegando-a logo em seguida. - os pés de romã ficam lá no fim do pomar. Siga em linha reta até o limite.- informa ele, apontando para a direita. Confirmo com a cabeça, antes de virar de costas e começar à caminhar entre as árvores, ficando bem atento para não desviar a direção. Segundo meu Vô, quando meu pai fez esse pomar, ele era bem menor e com menos árvores, mas ao longo do tempo ele foi colocando mais tipos de árvores frutíferas e tirando as ruins, até chegar nesse... Paraíso. Os pássaros voam de árvore em árvore, fazendo a paisagem ficar ainda mais bonitas. Depois de caminhar quase meia hora (e comer uns 3 quilos de frutas) finalmente chego aos pés de romã. Eles são enormes, muito maiores que qualquer pé de romã que eu já vi. Escolho a árvore mais baixa, que mesmo assim, precisa que eu fique na ponta dos pés e estique os braços. Essa é a última árvore do pomar, fica exatamente no canto. Depois daqui, tudo que vejo é uma floresta densa. Vou pegando as frutas mais vermelhas e maiores, colocando-as na cesta que está no chão, já que pegarei mais romãs com as duas mãos. Pouco tempo depois, a cesta já está quase cheia. Decido pegar só mais umas 4 antes de ir embora, estico o braço para pegar uma enorme, que mesmo com meu corpo todo esticado, fica à uns bons 20 centímetros dos meus dedos. Dou pequenos pulos, tentando alcançar aquela bendita romã, que eu vou pegar nem que seja a única coisa que eu faça... Paro de pular assim que noto algo estranho na minha visão periférica, tomando minha atenção. Olho na direção da floreta e vejo uma coisa estranha, que faz minha boca secar. Não sei explicar direito... Mas parece um tipo de... Vou até lá para ver mais de perto, não me importando com os arbustos espinhosos que me separam daquela coisa. Fico de frente para um negócio... Ou algum de círculo semitransparente suspenso no ar, como se fosse vapor. Essa coisa não sai do chão, já que tem uns 50 centímetros separando-a da terra. Isso está meio que flutuando. A luz que emana do círculo flutuante me hipnotiza completamente, fazendo uma vontade de toca-la seja tentadora. Estendo a mão bem devagar, ainda com receio e incerteza sobre fazer essa loucura. Meus dedos tocam o vapor e simplesmente desaparecem no ar, como se tivessem evaporado. Puxo a mão e dou um pulo para trás, espantado com essa loucura. Examino os dedos e vejo se eles estão normais (se ainda estão no meu corpo). Depois de uma intensa verificação, decido voltar lá e colocar a mão, tirando-a de lá e verificando logo em seguida. Isso. É. Uma. Loucura!! Curiosidade toma conta de mim. O que acontece se eu enfiar a cabeça? O que eu vou ver? E se esse troço se fechar do nada?! Merda. Indecisão toma o lugar da curiosidade, assim como o medo. Não. É isso eu que decido, não vou fazer isso. Viro de costas, pretendendo voltar para o pomar. O que eu tenho à perder? Tudo. Essa é a reposta. E se eu não tentar, o que eu tenho à perder? Bom... Sabe, eu não posso viver sem me arriscar. Volto à olhar para o círculo flutuante, antes de fazer o que provavelmente vai ser a maior loucura da minha vida. Minhas pernas se movem por conta própria, me fazendo correr naquela direção. Fecho os olhos com força, antes de pular naquele negócio, como Alice fez com a toca do coelho.
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