CAPÍTULO 2 CRISTINA

1195 Palavras
****** CRISTINA****** Após o encerramento do culto na igreja, permaneci sentada segurando o cordão que não retirava em momento algum. Fazia sete anos que eu estava distante do Morro Vidigal, e o Rio de Janeiro não era exatamente como eu me lembrava. Fui afastada dessa região aos 13 anos devido a um amor proibido, um relacionamento da adolescência que permaneceu gravado em minha memória. Naquela época, fomos morar em Minas Gerais, onde finalizei meus estudos e me formei como professora. Aos 18 anos, retornamos ao Rio de Janeiro, pois meu pai finalmente conseguiu realizar seu sonho de ter sua própria igreja e se tornou um pastor reconhecido. Como filha única, continuei a residir com eles, pois não queria me afastar. Embora eu tentasse seguir em frente, havia um sentimento constante de incompletude dentro de mim. Algo que me foi tirado quando eu tinha 13 anos: um amor verdadeiro e inocente. Ele era filho de um traficante, e na esperança de que eu esquecesse, muitos tentaram me afastar desse sentimento. Contudo, acredito que um amor verdadeiro nunca é realmente esquecido. Se fosse da vontade de Deus que eu deixasse isso para trás, eu já teria conseguido. Ao olhar para o cordão, uma lágrima escorre, e vejo a letra 'H' de Heitor. Neste momento, questiono a mim mesma: será que você realmente me esperou, Heitor? Minhas lembranças da partida forçada do morro Vidigal, devido à minha menoridade, ainda são muito vívidas. A última vez que olhei para o Heitor me causou uma dor imensa; sinto essa dor como se tivesse acontecido ontem. Heitor foi meu primeiro e único amor, e não consegui me relacionar com nenhum outro homem desde então. Acredito que ele ainda me espera, mas me pergunto: será que ele permanece o mesmo de sete anos atrás? Sou afastada dos meus pensamentos com a presença de minha mãe sentando ao meu lado. Ela é pastora, assim como meu pai, e ambos são uma verdadeira bênção na vida das pessoas. Jaqueline: Ainda com essas lembranças que te atormenta, filha? Cristina: É uma lembrança que acredito que jamais esquecerei, mãe. Não consigo deixar de lembrar do nosso último olhar na despedida; por mais que o tempo passe, ainda parece tão recente. Jaqueline: Eu gostaria que tudo tivesse sido diferente, mas na época seu pai não conseguia aceitar o relacionamento de vocês, pois ele era filho de um traficante. Eu fiz o possível para tentar mudar a visão dele, filha. Não queria que você sofresse. O fato de ele ser filho de um traficante não dizia nada sobre o caráter dele; era um menino bom, de uma família boa. Infelizmente, isso não foi suficiente para seu pai aceitar. Sinto muito por não ter conseguido fazer mais, Cris. Cristina: Cris, era assim que ele me chamava. Mesmo após todos esses anos, sinto uma dor profunda dentro de mim. A maneira como fui afastada dele me faz ter a sensação de que algo está faltando em meu interior, e só me sentirei completa novamente quando estiver ao seu lado. Mas , o medo me torna fraca. Gostaria de ir atrás dele, mas temo retornar ao morro Vidigal e descobrir que ele não é mais o mesmo de sete anos atrás, que talvez tenha me esquecido ou que as promessas feitas não tenham significado nada. E se fui a única a esperar por ele todo esse tempo, sozinha? São tantas perguntas que não sei se um dia terão resposta. Jaqueline: Que o que Deus tiver preparado para você se concretize. Seu destino está entrelaçado com o de Heitor, pois, mesmo após todos esses anos, você não conseguiu esquecê-lo e, tampouco, se abrir para um novo amor. O seu coração pertence a ele. Tenha fé, pois se ele te amou como você o amou na adolescência, esse amor ainda existe e ele possivelmente estará disposto a viver essa linda história que vocês compartilham. Cristina: Não sei, mãe. Sou filha de um pastor e ele é filho de um traficante. Existem muitas questões entre nós, especialmente em relação ao meu pai, que sempre verá Heitor com preconceito. Jaqueline: você já não é mais uma adolescente de 13 anos, e não precisa mais da autorização do seu pai para viver um grande amor que foi tirado de você. Minha mãe diz isso e se levanta, deixando-me pensativa. Levanto-me e começo a caminhar em direção à minha casa, que fica ao lado da nossa igreja Pentencostal Restauração em Cristo. Sou filha de pastores e amo participar dos cultos, mas não exerço um papel ativo na igreja. Isso seria uma dádiva, mas também um compromisso sério, e ser professora consome bastante do meu tempo. Ao chegar em casa, com os pensamentos agitados, acabei adormecendo sem me trocar. Acordei no dia seguinte, preparando-me para ir à escola, pois a diretora havia me chamado para uma conversa. Após tomar meu banho e trocar de roupa, desci para o café da manhã, onde meu pai e minha mãe já estavam à mesa. Adriano: Bom dia, filha. Vai sair tão cedo assim? Jaqueline: Sente-se e tome seu café primeiro, Cristina. Cristina: A diretora da escola me chamou para conversar antes do início das aulas. Adriano: Filha, tenho sentido que você está um pouco distante. Ontem, durante o culto na igreja, percebi que, embora seu corpo estivesse presente, sua mente parecia ausente. Isso tem acontecido desde que voltamos para o Rio. Você está agindo de maneira estranha. Aconteceu alguma coisa? Cristina: Não, pai, não aconteceu nada. São apenas lembranças deste lugar que não consigo afastar. É só isso. Adriano: Você sabe que tudo o que fiz quando você tinha 13 anos foi para o seu próprio bem, não sabe? Uma jovem como você não deveria se envolver com um traficante. Você é filha de um pastor e deve servir de exemplo para os fiéis da nossa igreja. É importante que você escolha um rapaz da nossa congregação, alguém que a valorize dentro dos princípios que seguimos. Olho para o meu pai e, em vez de responder, levanto-me da mesa em silêncio. O silêncio parece ser a melhor resposta, e não estava disposta a discutir com ele neste horário da manhã. Peguei as chaves do carro que adquiri e ainda estou financiando com meu salário de professora. Sou uma pessoa que valoriza a conquista através do esforço pessoal, prefiro alcançar meus objetivos pelo meu trabalho, em vez de receber algo sem esforço, pois acredito que o que é conquistado de forma fácil pode ser perdido com a mesma facilidade. Fui para a escola e, em 20 minutos, já havia chegado. Assim que cheguei, dirigi-me imediatamente à sala da diretora, que já me aguardava. Lucia: Então, Cristina, as aulas retornarão na próxima semana. Como você é uma excelente professora e tem um grande gosto por ensinar na educação infantil, vou transferi-la para uma instituição que está necessitando de uma professora substituta até que o proprietário encontre uma profissional permanente. Assim que isso acontecer, você poderá retornar à sua escola. Cristina: E para onde seria essa transferência, diretora? Lucia: Ao chegar lá, você deverá procurar pelo proprietário, que é conhecido como Pesadelo. A escola está localizada no morro do Vidigal. Você aceita essa proposta?
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