Pré-visualização gratuita GIULIA
Mais um dia começa. Sinto aquele vazio de sempre e busco meu celular para checar as últimas notícias. Chamo Giulia, tenho 28 anos e sou investidora/economista. Pareço ser muito nova para essa profissão, mas acredito que o esforço me foi recompensado.
Tive uma infância difícil, meus pais se divorciaram cedo. Meu pai foi morar no interior e eu continuei com a minha mãe, que decidiu voltar a ser adolescente quando viu que perdeu o amor do meu pai. Era um homem diferente a cada semana, dentro da minha casa. Sofri diversos assédios, desde nova, mas agradeço a Deus por nenhum deles ter me feito m*l, porque apesar de tentarem, eu sempre conseguia me defender.
Isso me gerou traumas, muitos gatilhos. Eu nunca namorei, porque desde nova eu coloquei na minha cabeça que precisava estudar e trabalhar muito para não depender mais de ninguém.
Comecei a trabalhar muito cedo e tive oportunidades incríveis dentro da empresa que me acolheu como jovem aprendiz. Viram meu talento e pagaram minha faculdade de economia, hoje sou diretora e sócia dessa empresa, mesmo com a pouca idade, tenho uma cartela de clientes muito grande.
Sou alta, relativamente magra, tenho cabelos castanhos claros e olhos azuis. Sempre fiz de tudo para a minha aparência não chamar mais atenção do que o meu intelecto. Me viciei em atividades física desde cedo, porque percebi que isso me fazia trabalhar melhor.
Em contrapartida, não uso roupas que evidenciam o porte físico do meu corpo.
Me exercito porque preciso da dose de endorfina diária. Não tenho mais contato com a minha mãe, mas mando um valor mensal para ajudá-la com as despesas da casa.
Moro sozinha no meu apartamento, na zona Sul de São Paulo. Dinheiro não é um problema e eu poderia viver somente dos investimentos que possuo.
Tenho tentado me aproximar de Deus, frequento as missas todos os domingos, mas não consigo tampar esse buraco do meu peito.
Não consigo me abrir para o amor, já tive caras interessantes na minha cola. Mas, tudo me remete a vida que a minha mãe levava e eu logo desisto. Por conta disso não tive uma experiência mais profunda, nunca fui para a cama com alguém. Todos os meus envolvimentos não passaram de beijos e carícias.
Sinto que o meu coração sempre será fechado para o amor. Na minha jornada na empresa, fiz vários amigos. Eles sempre foram a família que eu não tive presente. Todos os finais de semana nos reunimos para tomar algumas cervejas e conversar. É incrível como os amigos conseguem consertar o que nem foram eles que quebraram.
Hoje vou para a missa, coloquei isso como uma obrigação de todas as semanas e vou cumprir.
Chego e a missa corre normalmente. Até que desembaço os meus olhos e não acredito no que eu estou vendo...
Um padre novo. Maravilhoso. Eu nunca tinha visto um homem tão bonito antes, em toda a minha vida. Eu vim para esse lugar para me aproximar de Deus, mas parece que eu estou chegando mais perto de ir para o inf3rno, porque os pensamentos libidinosos que passam pela minha cabeça não me deixam raciocinar.
Nunca me interessei por um homem dessa maneira. Aí quando acontece, é com quem? UM PADRE!
Não é possível uma coisa dessas. Quem será o próximo que eu vou me interessar? O presidente do Estados Unidos?
Credo. Isso seria impossível.
Quando acaba a missa vou cumprimentar o padre que estou acostumada, é um senhor de uns 60 anos e me trata como uma filha.
- Bom dia, Padre. – Falo e ele me responde animado.
- Bom dia, minha filha Giulia. Como você está? Me deixa te apresentar para o novo padre dessa santa Casa. Ele acabou de se formar e está conhecendo as pessoas que aqui frequentam.
Ele chama o rapaz que me fez sentir o fogo das profundezas e ele se aproxima.
- Este é o Renato, o padre que irá me substituir.
Ele estende a mão e eu sinto calafrios pelo meu corpo inteiro, parece que ele sente o mesmo porque logo se afasta, mas o pior ainda está por vir, quando ele abre a boca e começa a falar.
- Muito prazer, me chamo Renato e estou aqui, aprendendo muito com o padre José.
A voz do homem é como uma música para os meus ouvidos. Ele tem um timbre viril, uma voz grossa e rouca, mas ao tempo simpática e calorosa.
- Bem-vindo. Me chamo Giulia e acompanho as missas tem algum tempo. – Falo sentindo um alvoroço de sentimentos e resolvo ir embora.
Eu chego na minha casa e resolvo pesquisar sobre os padres. Não tenho conhecimento nenhum sobre eles. Até achava que o pré-requisito para se tornar um, era ser idoso.
Vejo que me enganei...
Começo a ler e as informações me chocam. Eles não precisam morar na casa paroquial ou serem castos.
Existem alguns requisitos, mas a castidade não é um. Aquilo me choca e eu nem sei porque esse ponto me chamou tanta atenção. Na verdade, eu sei bem.
Eles precisam ficar 18 meses em celibato para assumir o cargo, serem formados em teologia...
Será que aquele padre já teve uma vida normal antes de decidir pelo cargo?
Uma namorada, um emprego comum...
Fico me questionando isso. Resolvo tomar um banho gelado para afastar esses pensamentos horríveis. Deito na minha cama e fico rolando até conseguir dormir. Aquele homem não sai da minha cabeça por nada.
Começo a mexer no meu celular e vejo que tem uma mensagem do Natan. Ele é um amigo que já tentou diversas vezes algo comigo, mas eu nunca quis. É um homem bonito, alto e rico, mas não desperta nenhum interesse em mim.
O que eu estou fazendo?
Inconscientemente começo a compará-lo com o padre. Isso não pode ser possível, eu estou ficando louca.
Eu nunca me interessei por ninguém, quando me interesso acontece isso.
Vou evitar as missas.
No dia seguinte tomo um banho relaxante e resolvo sair para me exercitar. Na volta passo no mercado e compro alguns itens que estavam faltando na minha dispensa. Quando a porta do elevador se abre, eu fico paralisada com o que vejo...