E L I Z A F I T Z
Marco a entrevista para o dia seguinte.
Simon não apareceu na noite passada, mesmo assim, não preguei o olho, preocupada em ele aparecer. Esse é mais um motivo para que eu lute com unhas e dentes na entrevista de hoje.
Aelin ficará com Charlie, o senhor da banca de jornal, até que eu volte. A entrevista será feita em um edifício corporativo, então visto as melhores roupas que tenho em meu guarda-roupa, penteio meus longos cabelos castanhos em um r**o de cavalo e tento melhorar meu rosto com o pouco de maquiagem que tenho. Não tenho muitos sapatos, então opto pelo único que tenho. Está limpo, é isso que importa.
Deixo Aelin na banca e caminho até a estação do metrô mais próxima.
Faço o trajeto inteiro, imaginando como seria bom se conseguisse essa vaga, eu conseguiria até colocar Aelin em uma escolinha em tempo integral com o salário que posso ganhar lá.
Até chegar no prédio, ensaio mentalmente algumas falas para qualquer tipo de pergunta que questione se realmente sou capaz de cumprir todas as tarefas da descrição da vaga. Não quero que me olhem como uma coitada que depende disso para sobreviver e oro com todas as minhas forças para que a pessoa que irá me entrevistar, não tenha dó de me dar o trabalho.
Caminho pela avenida do centro de Nova York à procura do número do prédio correspondente e quando encontro, me identifico na recepção, onde recebo autorização para subir até o sexto andar e procurar por uma mulher chamada Madelyn.
Enquanto as bolinhas que sinalizam os andares ganham cor a cada andar, ajeito a minha postura, segurando com firmeza a alça da bolsa.
1°…
2°…
3°…
4°…
5°…
6°…
Plim
Você chegou ao seu andar.
Quando as portas se abrem, prendo a respiração e caminho até a recepcionista.
— Bom dia. Vim fazer a entrevista com a Madelyn — informo.
— A Madelyn não conseguiu vir. Ela entrou em trabalho de parto essa madrugada, mas o senhor Ford irá te receber. — a recepcionista diz e com um sorriso simpático, aponta para a porta logo à frente. — Boa sorte. Você vai precisar.
— Obrigada — agradeço, sem saber ao certo, se devo ser otimista ou me sentir uma completa azarada.
Toco a maçaneta como se estivesse prestes a pisar num campo minado e no momento em que ouço um “click”, fecho os olhos fortemente.
Esqueci de bater.
Respiro fundo e abro a porta com cuidado, encostando ela atrás de mim como se fosse um segredo eu estar ali.
— Com licença — anuncio minha presença, visto que o homem ainda não reparou que entrei na sala.
Ele está de costas, virado para a janela, segurando um copo de café nas mãos. Só nessa hora, lembro que nem fiz isso pela manhã e minha barriga ronca.
Estava tão ansiosa para vir, que esqueci de comer.
— Com licença — digo um pouco mais alto e ele se vira, totalmente surpreso.
Eu arriscaria até a dizer, assustado.
O copo descartável vai parar no carpete e ele xinga um palavrão baixo, se curvando para pegar o copo e jogando-o no lixo.
— Desculpa, não vi que tinha entrado — ele diz, me olhando e dessa vez, sou eu quem cambaleio para trás.
Não é possível.
Isso não deveria ser possível.
Balanço a cabeça, apavorada, enquanto ele contorna a mesa, e se senta na imponente poltrona de couro.
— Você é Eliza Fitz? — assinto, ainda engolindo em seco, perplexa demais para dizer qualquer palavra, ainda que seja “socorro”.
— Sim, mas pode me chamar de…
— Liz.
O ar parece faltar na hora em que ele diz meu apelido, mostrando que ele sabe exatamente quem sou e de onde me conhece.
É o homem de semblante frio e olhos vazios. É o rapaz que me pediu para fazer uma ligação aquela noite.
Agora, iluminado pela luz do dia, ele parece muito mais alto e bonito, e eu muito mais envergonhada e exposta.
— Sou Christopher Ford. E você está contratada.
Ao dizer isso, ele se levanta e passa por mim, saindo pela porta, deixando-me completamente sem reação.
Porra.