Pré-visualização gratuita 1
Alejandro - Narrador
Eu observava atentamente as fotografias das filhas de vários mafiosos influentes da máfia mexicana. A tarefa de escolher uma esposa estava se tornando mais exaustiva do que qualquer embate político ou acordo perigoso que eu já tivesse enfrentado. Nenhuma daquelas mulheres me atraía. Nada em seus rostos me chamava atenção. Enquanto isso, o outro candidato ao governo do México já exibia uma esposa carismática, que participava ativamente da campanha. Isso o fortalecia na mídia, nas redes sociais, entre os eleitores mais conservadores e, principalmente, entre as famílias tradicionais.
— Seria bom se ela já viesse com um filho — Juan comentou, relaxado no sofá da minha sala. Ele era meu braço direito, meu melhor amigo e praticamente meu irmão.
— Eu ainda nem escolhi uma esposa e você já quer um filho? — retruquei, lançando um olhar impaciente.
Antes que ele pudesse continuar com suas sugestões fora de hora, meu pai entrou na sala, com aquele ar de quem sempre tem um trunfo na manga.
— Resolvi todos os seus problemas — anunciou.
— Por acaso contratou uma esposa? — brinquei, meio sarcástico.
— Não. Mas fiz algo melhor. Descobri que você tem duas primas no leste do México. As filhas do seu primo Ricardo Lopez. Yolanda e Virginia.
Ele jogou sobre a mesa uma foto de Yolanda. Cabelos negros, rosto delicado, olhar puro. Tinha uma beleza angelical, o tipo que não combinava em nada com o meu estilo de vida. Apenas olhei e neguei com a cabeça.
— Nem pensar — falei firme.
— Ela é linda — Juan disse, pegando a foto.
— Linda demais. Mas parece uma menina. Eu quero uma mulher ao meu lado. Alguém com presença, que saiba se portar publicamente. O que vão pensar de mim se eu me casar com alguém tão... frágil?
— Os eleitores não vão se importar com isso — Juan respondeu, mas eu insisti:
— Mas eu me importo.
— Calma — meu pai interrompeu. — Você ainda não viu a irmã mais velha. Esta é Virginia.
Ele colocou a segunda foto na minha frente. Imediatamente, fui atraído pelo sorriso provocante e pelo olhar cheio de mistério. Aquela, sim, parecia uma mulher. Ela tinha malícia no olhar, uma postura ousada.
— Essa sim me interessa. Quero conhecê-la pessoalmente — respondi com convicção.
— Eu sabia. Virginia é encantadora — meu pai disse com um leve sorriso, mas logo ficou sério. — No entanto, Yolanda seria mais... segura. Menos complicada. Mais obediente.
— Mas é disso que eu gosto — falei. — Mulheres difíceis. Se é pra me casar, que seja com alguém que saiba jogar.
— Só não se esqueça do propósito desse casamento. Você está se casando para se tornar governador. Não é por amor. Não é por prazer. É estratégia.
— Eu sei disso melhor do que ninguém. Foi minha escolha entrar na política — respondi, sério.
— Vamos ainda hoje conhecer as duas. Pode ser que você mude de ideia sobre Yolanda.
— Impossível — afirmei. — Ela não tem nada a ver comigo.
Juan lançou um olhar mais cuidadoso.
— Mas ela pode ter tudo a ver com o que a campanha precisa.
— Eu preciso de uma mulher forte ao meu lado. Alguém que ajude no discurso, que inspire as mulheres, que traga famílias para o meu lado. A esposa do meu concorrente é ativa, cheia de projetos sociais. Preciso de alguém que consiga enfrentá-la à altura.
— Espero que Virginia seja tudo isso, meu filho — disse meu pai.
— Você está me apresentando, então espero que saiba o que está fazendo — rebati.
— Ricardo sempre manteve as filhas longe dos holofotes. Isso é positivo. Sem redes sociais, sem escândalos. Não terão passado a ser exposto. Nem mesmo a oposição poderá usar isso contra nós.
— Estou pronto para pedir a mão de Virginia — concluí.
Olhei novamente para a foto das duas. Não havia dúvida alguma. Yolanda jamais serviria como minha esposa.
Yolanda - Narradora
O sol já começava a descer quando entrei no jardim da nossa casa, colhendo flores para compor os arranjos da mesa de jantar. Hoje era um dia importante: o futuro noivo de Virginia viria pedir sua mão em casamento. Nossa mãe estava ansiosa demais para cuidar dos detalhes sozinha, então resolvi ajudá-la.
Entrei na estufa para pegar mais flores e me deparei com uma cena que jamais imaginei presenciar.
— Meu Deus! — exclamei, fechando a porta bruscamente.
— Yolanda! — ouvi a voz da minha irmã lá dentro. — Espera!
— Se veste logo, antes que alguém apareça por aqui! — gritei em pânico. — Você e o motorista...!
Fiquei parada na porta, vigiando para que ninguém nos visse. Pouco depois, Kaio, o motorista, saiu apressado e sem dizer uma palavra. Entrei e encontrei Virginia tentando se recompor.
— Você não viu nada — ela disse, sem me encarar.
— Você não é mais virgem? — perguntei, chocada. — Você vai se casar! Você sabe qual é a regra da máfia, não sabe?
— Sei. Mas eu dou um jeito... deixa eu conhecer meu noivo e depois eu resolvo — respondeu evasiva.
— Dá um jeito? Virginia, nossa posição na máfia já é baixa. Se descobrirem o que você fez, isso pode arruinar nossa família inteira!
— Você parece o papai. Aceita tudo calada. Esse casamento arranjado é uma aberração.
— Essa é a nossa realidade — falei, cansada. — Você acha que eu quero me casar com um desconhecido? Claro que não. Mas a gente não tem escolha. Se recusarmos, colocamos tudo em risco.
— A mamãe se casou obrigada. E até hoje ouve insultos por não ter tido um filho homem. Somos vistas como instrumentos. Casam a gente para formar alianças, não por amor. E você acha isso certo?
— Não. Mas eu penso em você, em mim, na mamãe. Temos que proteger uns aos outros. Não vamos mudar o sistema sozinhas.
— Alguém precisa tentar. Esse seu discurso de obediência não leva a lugar nenhum — ela rebateu. — Você vai se casar, aceitar ordens do seu marido e fingir que é feliz, igual à mamãe.
— O seu noivo já deve estar chegando — mudei de assunto, cansada da discussão.
— Eu não vou me casar — ela disse com firmeza, olhando nos meus olhos. — Pode anotar o que eu estou dizendo. Eu não vou.
— E o que vai fazer? Vai dizer não? Fugir?
— Ainda não sei, mas vou encontrar uma saída.
Ela saiu da estufa com a cabeça erguida. Eu fiquei ali, olhando para o chão, onde havia um pacote fechado de camisinha. Peguei-o com rapidez e o enterrei dentro de um vaso de terra, como se assim pudesse enterrar também a culpa, o medo e a confusão que sentia.
Quando entrei em casa, Virginia estava no quarto, terminando de se arrumar, como se nada tivesse acontecido.
— Onde estava, Yolanda? — perguntou minha mãe.
— Arrumando os arranjos para a mesa — respondi.
— Vá se arrumar também, querida. Você precisa estar impecável.
Ela olhou para Virginia com um sorriso orgulhoso e depois se virou para mim com um olhar esperançoso.
— Quem sabe ele não se interessa por você, Yolanda?
— O noivo é dela, mamãe — respondi, com um sorriso fraco.
Mas dentro de mim, eu já sentia. Algo estava prestes a sair do controle. Algo que mudaria tudo.