Capítulo 2 Virginia narrando
— Você não deveria se vestir assim — digo, encarando Yolanda.
Ela se vira para mim com um leve sorriso, sem entender minha crítica. Usava um vestido comportado, com mangas longas de renda, uma tiara singela adornando os cabelos soltos e longos, e uma maquiagem leve, quase imperceptível.
— Por que não? — pergunta.
— Você é tão bonita, Yolanda. Deveria explorar mais a sua beleza — digo com sinceridade. — Poderia usar vestidos mais justos, modelando seu corpo... um batom mais forte. Mostrar sua presença, sua força.
— Eu prefiro assim — ela responde, com a voz calma, mas firme.
Ela era sempre tão contida, tão educada. O tipo de filha que qualquer família mafiosa gostaria de exibir. Mas naquele mundo, comportar-se como uma dama nem sempre significava segurança. Na verdade, podia ser justamente o oposto.
— Virginia — ela me chama, e eu a encaro, percebendo um certo desconforto em seus olhos. — Há quanto tempo você... você não é mais virgem?
A pergunta me pega de surpresa, embora não me ofenda. Eu solto uma risada baixa.
— Está curiosa para saber os detalhes? — brinco, virando-me para ela com um sorriso provocador.
— Quanto tempo? — ela repete, se sentando na beira da cama.
— Uns dois anos, eu acho — respondo casualmente, como se estivéssemos falando sobre o tempo lá fora.
— Então não foi com Theodoro? — ela pergunta, franzindo o cenho.
— Não. Theodoro é apenas mais um na minha lista — respondo.
Ela arqueia as sobrancelhas e me encara como se visse uma estranha em minha pele. Como se não me conhecesse de verdade.
— Foi com um colega de escola. Depois outro colega. Mais tarde, um funcionário do papai... e agora, o motorista. — dou de ombros, como se aquilo fosse normal.
— Meu Deus, Virginia! Você é maluca de se envolver com todos esses homens assim? Se papai descobrir... — ela começa, assustada.
— O que o papai vai fazer? Me deserdar? Me mandar para um convento? — pergunto ironicamente. — Homens gostam de mulheres como eu. Mulheres que sabem o que querem, que não abaixam a cabeça e sabem como fazê-los sentir prazer.
— Você realmente acha que Alejandro te escolheu só pela beleza? — ela me questiona.
— Alejandro é o futuro chef da máfia. Quando o pai dele morrer, ele herda tudo. Esse é um cargo importante. Mas isso não quer dizer que eu tenha que aceitar esse destino. Eu não quero ser esposa de mafioso, Yolanda. — digo com firmeza, olhando nos olhos dela.
— E o que você vai fazer então? — ela pergunta.
— Logo você vai descobrir, minha irmã — respondo, me aproximando dela e segurando suas mãos. — Mas saiba de uma coisa: eu não vou desistir de você. Um dia eu volto para te buscar.
Ela abaixa os olhos, sem saber como responder. Ela sempre foi mais submissa, mais obediente. Criada para obedecer, para sorrir, para casar e gerar filhos. Como mamãe.
— Eu não quero fugir — ela murmura.
— Você tem sonhos, eu sei disso. Eu te ouço cantar pelas manhãs, te vejo desenhar escondida à noite. Você acha mesmo que a vida é isso? Se trancar em casa e viver para criar filhos? Isso é vida? Não! O mundo é nosso, Yolanda. Só precisamos de coragem para viver nele. — beijo sua testa com carinho.
Antes que ela diga qualquer coisa, mamãe entra no quarto, com a expressão preocupada e ansiosa.
— Virginia, Alejandro chegou. Está na hora de vocês descerem.
— Eu também? — Yolanda pergunta, levantando-se rapidamente.
— Claro que sim — mamãe responde, dando uma olhada rápida no visual da filha mais nova. — Você deve estar presente também. Afinal, ele está vindo conhecer a família.
— Seu futuro noivo é lindo, Virginia. Um homem de poder. — diz, com entusiasmo.
— Não me lembro dele quando éramos crianças — comento, tentando puxar da memória alguma lembrança.
— Não chegaram a conviver. Logo que casamos, seu pai nos trouxe para cá. — mamãe explica.
— Virginia está ansiosa para conhecê-lo — Yolanda comenta, sorrindo. — Fala sobre ele o dia todo.
Eu a encaro, surpresa pela sua observação. Ela está tentando manter o papel de boa filha, de boa irmã. Fingindo que nada do que aconteceu na estufa naquela manhã existiu.
— Eu tenho certeza que sim — mamãe diz, sorrindo de volta para ela, sem notar o embate silencioso entre nós.
Enquanto descemos as escadas, sinto um nó se formar em meu estômago. O plano que fiz com Theodoro era arriscado, mas era minha única chance. Se tudo corresse como o planejado, até o fim daquela noite, eu estaria livre.
Mas Yolanda... ela era minha maior dúvida. Ela era doce, leal, presa a valores que não foram escolhidos por ela, mas impostos. Deixá-la para trás seria como deixar para trás uma parte de mim.
Eu precisava ser forte. Precisava seguir com o plano.
O destino de nossa família estava prestes a mudar — para sempre.