Alejandro – Narrando
Quando chegamos à casa de Ricardo López, fomos recebidos por ele e sua esposa, Maria Isabel. A residência ficava em uma fazenda belíssima, cercada por uma paisagem bem cuidada e tranquila. A casa, embora elegante, não era extravagante. Tinha seus luxos, claro, mas sem exageros — exatamente como se espera de alguém que quer parecer poderoso sem chamar atenção demais.
Ricardo parecia transbordar de satisfação. Era evidente que o motivo ia além da visita em si. Ele não escondia a alegria de estar prestes a casar uma de suas filhas comigo. Sabia que essa aliança poderia finalmente colocá-lo mais próximo do poder — algo que ele sempre cobiçou, mas nunca teve coragem ou capacidade de conquistar sozinho. Me ter como genro seria, para ele, um atalho.
— Maria Isabel, por favor, chame Virginia e Yolanda para se juntarem a nós — pediu Ricardo.
— Claro — ela respondeu, deixando a bandeja de bebidas sobre a mesa da sala e subindo calmamente as escadas.
— Tenho certeza de que você vai gostar da Virginia — continuou Ricardo, voltando-se para mim e meu pai. — Ela foi criada para isso. Uma esposa exemplar, pronta para estar ao lado de um homem de poder. Exatamente o que um candidato a governador e chefe de máfia precisa.
— Esperamos que sim — respondeu meu pai, frio. — Quantos anos ela tem?
— Vinte e um.
— Já passou da hora de se casar — ele comentou, e minha mãe o fulminou com os olhos. — E a outra, Yolanda?
— Tem dezoito — respondeu Ricardo.
— Por que demorou tanto com Virginia?
— Porque nunca apareceu o homem certo. Eu sou pai antes de qualquer coisa. Não entregaria minhas filhas a qualquer um.
— Não seja grosseiro — disse minha mãe, com sua habitual elegância. — Suas filhas são lindas. Tenho certeza de que ambas serão ótimas esposas... e mães.
Observei minha mãe. Sempre educada, sempre sorrindo. Um exemplo de como lidar com as situações mais desconfortáveis com classe.
— Pode confiar — respondeu Ricardo. — Virginia será uma nora e companheira perfeita para a senhora.
Eu sabia que meu pai preferia Yolanda. Ele não escondia isso. Fazia questão de demonstrar seu descontentamento com minha escolha. Mas eu já havia decidido. Desde a primeira foto que vi de Virginia, soube que ela era a mulher certa.
Quando as duas desceram, acompanhadas de Maria Isabel, tive a confirmação.
Yolanda usava um vestido longo, simples, que caía solto em seu corpo. Seu olhar era doce, quase infantil. Já Virginia... ela descia com firmeza, o vestido ajustado delineando sua figura com precisão. Seus movimentos eram seguros. Ela era uma mulher. E era essa mulher que eu queria ao meu lado.
— Alejandro — disse Ricardo, se levantando. — Essa é Yolanda.
— Olá — cumprimentei, sorrindo. Ela respondeu com um leve sorriso, tímido. Mas meus olhos estavam em Virginia.
— Boa noite, Virginia — falei, segurando sua mão e levando-a aos lábios.
— Boa noite — ela respondeu com um sorriso firme, encarando-me nos olhos. Eu retribuí.
— Bom, gostaria de mostrar a vocês algumas das nossas obras de arte — disse Ricardo.
— Yolanda, fique aqui com sua irmã — pediu Maria Isabel.
— Não precisa — tentei intervir.
— Eu insisto — ela reforçou.
— Mãe... — protestou Yolanda.
— Fique — ela determinou.
— Tudo bem — concordei. Yolanda sentou-se no sofá, silenciosa. Estendi a mão para Virginia e nossos olhares se encontraram.
— Podemos caminhar? — ela perguntou. — O jardim está lindo esta noite. E temos uma estufa. Yolanda adora ficar entre as flores. — Ela lançou um breve olhar à irmã, que apenas nos observava.
— Uma bela noite para uma caminhada — comentei.
Seguimos até o jardim. A noite estava calma. Entramos na estufa, deixando Yolanda do lado de fora.
— Confesso que casar nunca esteve nos meus planos — disse Virginia, parando diante de uma fileira de flores. — Na verdade, acho um absurdo essa coisa de casamentos arranjados.
Sorri de leve.
— Infelizmente, são regras que temos que seguir.
— Minha irmã aceita isso com facilidade. Eu não. — Ela me encarava. — Na verdade, ela daria uma ótima esposa para você.
— Eu discordo. — Me aproximei. — Eu não preciso de uma menina. Preciso de uma mulher ao meu lado. Preciso de você.
Toquei seu rosto com cuidado. Ela não recuou.
— Acho que você não sabe quase nada sobre mim para ter tanta certeza disso — respondeu, mantendo o olhar firme no meu.