Capítulo 4 – Yolanda
Minha mãe havia mandado que eu dormisse no quarto de hóspedes, mas o sono parecia impossível. Meu corpo estava ali, imóvel na cama, enquanto minha mente estava no quarto que divido com Virginia, imaginando o que poderia estar acontecendo entre ela e Alejandro.
Foi então que ouvi uma porta se abrindo. Me levantei discretamente e, pelo vão da porta entreaberta, nossos olhares se encontraram. Alejandro. Seu olhar sério e firme fez um arrepio percorrer minha espinha. Sem dizer nada, ele fechou a porta do quarto de onde saía, e seu olhar se virou diretamente para onde eu estava.
Meu coração acelerou.
Fechei a porta rapidamente, mas o barulho do impacto pareceu ecoar pela casa. Ouvi seus passos se aproximando. Em pânico, tranquei a porta com a chave. O trinco se moveu uma vez, como se ele estivesse testando a maçaneta. Recuo, assustada, mesmo sabendo que ele não conseguiria entrar.
Segundos depois, ouço seus passos se afastarem.
Sento-me na cama, tentando acalmar a respiração. Eventualmente, o sono me domina, e adormeço com o coração ainda acelerado.
Acordo com os raios de sol invadindo o quarto. Olho para o relógio. Oito da manhã. O café da manhã já deve estar sendo servido, e em poucas horas teremos a coletiva de imprensa, onde Virginia será oficialmente apresentada como esposa de Alejandro.
Corro até o nosso quarto. Para minha surpresa, está arrumado. Virginia odiava acordar cedo. Achei estranho. Escuto vozes vindo do andar de baixo. Talvez ela tenha descido cedo hoje…
— Virginia? — chamo, esperando uma resposta. Nada.
Percorro todo o quarto. Vazio.
Saio pelos corredores, checando os outros cômodos. Nada também. Acredito que ela esteja mesmo no andar de baixo.
Me arrumo: prendo metade do cabelo, passo uma maquiagem leve e escolho um vestido floral na altura dos joelhos. Calço uma sandália rosa de salto baixo, pego minha bolsa e desço.
Todos já estão tomando café.
Olho ao redor da mesa. Nada de Virginia.
— Bom dia — digo, deixando minha bolsa sobre um criado.
— Bom dia — responde meu pai.
— Bom dia, querida — diz Cecília, sorridente. Retribuo o sorriso e sento ao lado dela.
— Cadê sua irmã? — pergunta minha mãe.
— Virginia? — repito.
— Sim, ela ainda não desceu — meu pai comenta. — Está demorando demais.
Todos os olhares se voltam para mim. Sinto um nó na garganta. Lá em cima... ela não estava.
— Está tudo bem, senhorita López? — Alejandro pergunta, me encarando.
— Chame sua irmã, Yolanda. Em menos de duas horas será a coletiva — ordena meu pai.
— Ela está… — começo, tentando manter a calma. Mas eu odiava mentir. Tinha pavor disso. E, infelizmente, não conseguia disfarçar.
— O que aconteceu com a senhorita Virginia? — agora é Antonio, pai de Alejandro, quem pergunta.
— Yolanda — chama meu pai, em tom grave.
— Eu não sei — confesso de uma vez. — Minha irmã não está lá em cima.
Um silêncio pesado se instala.
— Como assim? — Alejandro se levanta, tenso.
— Eu… eu não dormi com ela. Fui ao quarto de manhã e ela não estava. Achei que tivesse descido antes de mim… — tento me justificar, mas minha mãe me corta.
— Eu vou lá em cima ver — diz ela, saindo apressada.
— Por que vocês não dormiram juntas? — pergunta meu pai. Alejandro continua me encarando, como se tentasse decifrar algo.
— Ela queria ficar sozinha — respondo, mantendo o olhar baixo.
— Você não deveria ter deixado sua irmã sozinha! — meu pai explode, jogando o guardanapo na mesa e se levantando bruscamente. — Se acontecer algo com ela, a culpa será sua, Yolanda!
— Calma — Alejandro diz, levantando-se também. — Não acho que Yolanda tenha culpa disso.
Ah, é mesmo? Hipócrita. Saí daquele quarto justamente porque você queria ficar a sós com ela. Agora vem se fazer de justo?
Meu olhar se volta para ele, tenso, e o dele cruza o meu com a mesma intensidade. Ele está tão nervoso quanto eu — ou talvez mais.
— Ela fugiu — minha mãe anuncia ao descer as escadas, ofegante. — Não há sinal da Virginia no quarto.
— Meu Deus… — murmura Cecilia, mãe de Alejandro.
— Como assim, fugiu? — Alejandro pergunta, perplexo.
— Isso é um afronte à nossa família! — exclama Antonio, furioso.
Meu pai se vira para mim, com o rosto endurecido.
— Yolanda, diga agora: para onde sua irmã foi?
— Eu não sei — respondo, balançando a cabeça com firmeza.
— Vocês duas sempre foram inseparáveis. É claro que você sabe! — ele insiste, a voz cada vez mais exaltada.
— Eu já disse que não sei! — repito, várias vezes, tentando me manter firme enquanto ele se aproxima e agarra meus braços com força.
— Me diga agora onde ela está ou eu juro que te mando para um colégio interno pelo resto da sua vida! — ele grita, descontrolado.
— Chega! — Cecilia intervém, afastando suas mãos de mim. — Você não vai machucar ela. Eu acredito na Yolanda. Mande procurar sua filha, imediatamente!
Meu pai começa a dar ordens rápidas aos seus homens, enquanto Cecilia me pergunta se estou bem e se ele me machucou. Eu apenas olho ao redor, assustada, sentindo o coração apertado por Virginia. Três homens com poder demais estão perdendo o controle — e, se a encontrarem, temo pelo que possam fazer com ela.
Minha mãe parece tão desesperada quanto eu.
O que se passava na cabeça de Virginia para fugir desse jeito?
— Senhor, o único carro que saiu foi o do motorista — informa um dos seguranças.
— Que horas? — Alejandro pergunta de imediato.
— Por volta das três da manhã — responde o homem.
Alejandro vira o olhar para mim. Instintivamente, eu o desvio.
— Onde você estava a essa hora? — ele questiona.
— No quarto de hóspedes — respondo, sem hesitar.
— Por quê? — ele insiste. — Por quê?
— Porque sim — respondo seca, já exausta de tantas pressões.
— Isso é uma vergonha para a minha família — Antonio volta a intervir, indignado. — Viemos até aqui para selar esse casamento e agora ela foge? Temos uma coletiva com a imprensa em poucas horas! O que vamos fazer agora?
— Vamos sair como mentirosos? — Alejandro pergunta, cada vez mais tenso.
— Me diga onde sua irmã está! — meu pai grita, perdendo completamente a paciência.
— Por favor… — minha mãe implora, tentando acalmá-lo.
— Ela sabe sim! — ele insiste, me encarando como se pudesse arrancar a resposta do fundo da minha alma. — Chega, Yolanda! Onde você estava? Por que não dormiu com ela?
A pressão é insuportável. O peso dos olhares. A raiva. A decepção. O medo.
— Porque Alejandro entrou no quarto com ela! — explodo, a verdade saindo da minha boca antes que eu consiga pensar.
Um silêncio mortal se instala.
Todos se viram para Alejandro. Meu pai. Antonio. Minha mãe. Cecilia. Todos.
E ele… ele não desvia o olhar de mim.