Willian Hawthorne estava sentado numa poltrona de ferro forjado à sombra de um carvalho centenário, com um charuto fumegante entre os dedos e a testa franzida como se não gostasse da própria existência.
A música da sala de estar flutuava ao longe, abafada pelas paredes de pedra e pelos vidros das janelas abertas.
Risos, o tilintar de copos e falsas cortesias flutuavam no ar como perfume barato. Todos dançavam dentro da mansão como se não soubessem que a verdadeira figura do poder estava lá fora, desinteressada, observando as sombras dançarem.
O advogado mais temido de Chicago não dançava.
Ele não sorria, não cortejava, nem fingia interesse por algo que não merecia.
O seu cabelo preto estava penteado para trás com um ar perfeitamente calculado de descuido. O seu perfil era afilado, seu maxilar firme, seus lábios finos e fechados como uma porta trancada. Ele usava um terno preto com cortes agressivos que se ajustavam como uma segunda pele, e seus olhos... os seus olhos eram cinzentos. Cinzentos como o mais puro titânio.
O seu olhar era firme, impossível de ler e impossível de evitar.
Às vezes, parecia que ele não estava olhando para quem estava à sua frente. Em vez disso, parecia que ele estava julgando, que já havia tomado a sua decisão, mesmo que não tivesse pronunciado uma palavra.
Ele exalou uma lenta e experiente baforada de fumaça enquanto observava a lua refletir na borda do seu copo de uísque, que repousava intocado na pequena mesa ao lado.
— Você está aqui? A voz feminina da sua mãe quebrou o silêncio, com aquela doçura forçada usada por mulheres que sabem que estão caminhando entre minas. — Todos estão esperando por você, Willian.
— Se quiserem me ver... Ele respondeu, sem olhar para cima. — Marque uma hora no meu escritório. E não se atrase, porque eu não vou esperar por eles.
A mulher aproximou-se lentamente, como se o ar ao redor dele queimasse. O seu vestido de renda azul-escuro ondulava como fumaça ao passar. Ela parou diante dele, com uma expressão cansada, mas ainda firme. A pobre mulher carregava o peso de ter criado três filhos, tão arrogantes, despóticos e egoístas quanto o pai.
— Filho... Ela segurou o rosto dele com as duas mãos, ignorando a tensão no seu maxilar. — Você precisa parar de ser assim. Tão despótico. Tão ranzinza com as pessoas.
— Eu não sou ranzinza. Ele respondeu, tirando o charuto dos lábios. — Sou realista. Você sabe como é este mundo, mãe. As pessoas não são amadas, elas são respeitadas pelo medo.
— Mas nem todos devem ser um julgamento pendente para você. Ela respondeu, tristemente.
— É para mim. Ele murmurou, apagando o charuto no braço de mármore da cadeira.
A mulher suspirou. Pressioná-lo não estava funcionando.
— Pelo menos vá cumprimentar o seu avô. Ele está esperando por você há um tempo.
Willian revirou os olhos, com aquela expressão de eterna irritação que ele nem tentava esconder.
— Que irritante...
— Não irrite o seu avô, Willlian. Alertou a mulher, pegando a sua mão com delicadeza, mas firmeza. — Mesmo que você seja o melhor advogado de Chicago, a fortuna desta família não estará nas suas mãos se o velho decidir deserdá-lo por ser um tirano.
Ele deu uma risada baixa e seca.
déspota. Você acha mesmo que eu me importo com o testamento de um velho que nem sabe usar um celular?
— Não seja cr*uel.
— Sou lógico. O que me pertence, me pertence.
Ela cerrou os dentes, farta, magoada, mas não disse mais nada.
Willian afastou a mão dela com um gesto curto, levantou-se e caminhou em direção à sala de estar, ainda fumando, sem se virar, sem sequer parar para ver como a mãe o olhava com aquela mistura de impotência e tristeza que lhe era tão familiar.
Ele passou pelas portas duplas do grande salão como alguém entrando num tribunal onde o veredito já era conhecido.
Todos os olhares voltaram-se para ele. Alguns com interesse, outros com desejo. Os mais inteligentes, com cautela.
Ele não cumprimentou ninguém.
Passou entre os convidados como se fossem decoração, como se fossem todos irrelevantes. Sua mera presença parecia alterar o ar, como se o oxigênio decidisse obedecê-lo.
Ao longe, seu avô, um homem de ombros largos e cabelos brancos perfeitamente penteados, o observava de uma poltrona de espaldar alto.
— Já era hora, Willian. Rosnou o velho.
— Não é a minha hora, é a sua. Só passei para te cumprimentar, para que você não tenha um ataque cardíaco pensando que estou te ignorando.
— Você é um insolente.
— Mas eu sou o seu neto. Respondeu Willian com um meio sorriso.
E isso foi o suficiente.
O avô caiu na gargalhada, como se a arrogância do neto fosse a única coisa que o lembrasse dos seus próprios dias de glória. Fez um gesto para que ele se aproximasse, mas Willian ficou onde estava, observando a cena, sentindo o cheiro do poder, o cheiro do falso luxo.
E pensando a mesma coisa de sempre: Ninguém nesta sala está no nível dele.
E o pior era que ele estava certo.
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Allegra não tinha olhos para ninguém além dele.
Willian Hawthorne.
Ele estava encostado em uma das colunas, bebendo algo escuro num copo baixo, com o queixo levemente erguido, o olhar aparentemente dissecando qualquer um que ousasse olhá-lo de perto. Ele usava o mesmo terno preto imaculado de todos os homens da sua posição, mas nele parecia uma armadura.
E Allegra, vestida com o seu vestido decotado e de trama justa, sentia como se cada passo que dava fosse planejado para provocá-lo. A cor contrastava com os seus cabelos loiros e lábios carmesim. Ela havia ensaiado aquela entrada. Planejara seu perfume, seu penteado, até mesmo o ângulo de abordagem.
Mas ele simplesmente não a viu.
Ou pior: ele a viu... e não se importou.
— Você ainda está obcecada por aquele cara? Sussurrou Marlene, sua amiga de infância, enquanto lhe entregava uma taça de champanhe.
— Não estou obcecada. Respondeu Allegra sem olhar. — Estou focada.
Marlene ergueu uma sobrancelha.
— Allegra, o cara inatingível, o cara mais inatingível de Chicago. Frio, elitista, impossível. Você sabe quantas mulheres já tentaram?
— E todas falharam porque não são eu. Respondeu a loira, tomando um gole determinado.
— E se ele não amar ninguém?
— Então eu farei com que ele me ame. Ela sussurrou com um sorriso. — Sou persistente. E resiliente. E se eu tiver que jogar sujo... eu também posso fazer isso.
— Você deveria reconsiderar. Há dezenas de homens que não tiraram os olhos de você...
— Mas nenhum deles é o Willian, Marlene. Você é burra ou só finge ser? Ela pergunta com os dentes cerrados, irritada. — Não estou interessada nesses creti*nos.
— Mas você gostou mesmo é do jamaicano, não é? Provoca a amiga. — Tanto que você tra*nsou com ele...
— Cala a boca, burra! Fala mais baixo. Ela grita baixinho. — Esse é um capítulo da minha vida que foi apagado, e se alguém descobrir, é porque você contou. E você sabe muito bem que farei da sua vida um infe*rno se me trair.
— Não vou dizer nada, calma. Promete a amiga.
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