CAPITULO 14

1594 Palavras
SAMANTHA O som estridente do despertador cortou o silêncio do quarto, me arrancando bruscamente do sono. Minha mão direita se estendeu quase automaticamente até a mesinha de canto. Ignorei o celular por um momento e foquei meus olhos no anel de diamantes reluzente ao lado dele. Ele estava exatamente onde deveria estar. Respirei fundo, fechei os olhos por um instante e, com delicadeza, coloquei o anel no dedo anelar da mão esquerda. O mesmo dedo que Adam segurou com tanta firmeza quando ajoelhou naquela noite fria de dezembro, prometendo um futuro. Um lar. Um "nós". Só que agora, esse “nós” parecia frágil como vidro. Por causa dela. Catarina. Permaneci sentada na beira da cama por alguns minutos, olhando o brilho da pedra sob a luz pálida da manhã. Eu havia rezado por um homem como Adam. E Deus me deu exatamente o que pedi — até Catarina reaparecer, como uma maldição. Mas eu não ia deixar tudo ruir. Hoje, eu colocaria tudo nos eixos de novo. Levantei com decisão e segui até o banheiro. Tomei um banho rápido, tentando afastar a imagem de Adam e Catarina juntos. Mas minha mente não me dava trégua. Me lembrei de todas as noites que passei ao lado dele escutando seu coração partido. Os olhos vermelhos de tanto chorar, o travesseiro molhado pelas lágrimas silenciosas, o copo de vinho esquecido na mesa. Eu estava ali. Sempre estive. E agora, grávida, ela surgia como se ainda tivesse direito a ele? Enxuguei o corpo e, de frente para o espelho, comecei a escovar os cabelos com precisão. A cada movimento do pente, ensaiava as palavras que usaria com Adam. Ele precisava lembrar de tudo que tínhamos construído. Eu era a escolha certa. Eu era a mulher que o amava, que esteve lá nos momentos mais escuros. E agora, eu só precisava fazê-lo enxergar. Voltei para o quarto, determinada. Abri o guarda-roupa e peguei o vestido azul de linho que ele sempre dizia que realçava meus olhos. Escolhi o perfume que ele me deu no nosso primeiro mês juntos — um aroma suave de jasmim e baunilha — e finalizei com os sapatos nude e o coque frouxo que ele dizia adorar. Me olhei no espelho, de cima a baixo. — Pronta pra guerra — murmurei para meu reflexo. Peguei minha bolsa e desci as escadas, os saltos soando firmes nos degraus de madeira. Meu pai, Hal, estava na sala e levantou os olhos do jornal ao me ver. — Pra onde vai, vestida assim? — Pra escola — respondi, seca. — Dar aula. Ele estreitou os olhos. — Aconteceu alguma coisa entre você e o Adam? Meu corpo enrijeceu por reflexo. — Por que a pergunta? Ele te disse algo? — Não. — Ele deu de ombros. — Só achei estranho você ter dormido aqui. Faz tempo que isso não acontece. — Mudança de planos, só isso. — Tentei encerrar o assunto, indo em direção à porta. — Vai sair sem tomar café? — Não tenho tempo a perder — respondi, já abrindo a porta. Ele não insistiu, e eu também não parei. Assobiei e, como previsto, um táxi apareceu na esquina. Entrei, respirei fundo e repassei mentalmente tudo o que precisava dizer ao Adam. Com calma, com firmeza, com carinho — tudo ao mesmo tempo. Ele precisava entender. Chegamos à Buckley School em pouco mais de dez minutos. Desci do carro e caminhei rápido pelos corredores externos, ignorando os acenos de algumas crianças e colegas. Não havia tempo para conversas triviais. O foco era ele. Cheguei à porta da sala do 2º B e meu coração falhou uma batida. A cadeira de Adam estava vazia. Sua caneca não estava sobre a mesa. A luz apagada. Ele não estava ali. Antes que o pânico se instalasse, ouvi passos atrás de mim. Virei-me e vi Melissa se aproximando. — Está tudo bem? — ela perguntou, franzindo o cenho. — Onde está o Adam? — perguntei direto. Ela pareceu surpresa. — Ué, achei que vocês viriam juntos. — Não viemos — disse, tentando manter a voz estável. — Por quê? Achei que fosse dormir na casa dele ontem... — Eu também — respondi. — Mas a ex dele resolveu aparecer no jantar, lembra, e ele me mandou de volta pra casa. Os olhos de Melissa se arregalaram. — O quê? Por quê? — Porque a italiana resolveu dormir lá. E pelo visto ainda está. Melissa levou a mão à boca. — Não... Você tem certeza? — Ainda não. Mas vou descobrir agora. Girei nos calcanhares e comecei a andar decidida pelo corredor. Melissa me seguiu alguns passos atrás. — Samantha, onde você vai? — Atrás de respostas — respondi, sem olhar para trás. Atravessar o corredor foi como atravessar uma tempestade. Cada passo fazia minha raiva e determinação crescerem. Eu não podia permitir que tudo que construí com Adam se desfizesse por causa de um passado m*l resolvido. Catarina podia estar grávida. Mas eu era quem estava ao lado dele. Cheguei até a secretaria, onde uma das assistentes olhava planilhas. — O Adam veio hoje? — perguntei, tentando soar casual. — Ah, ele ligou mais cedo cancelando a aula. Disse que teve um imprevisto. — Ele disse o quê exatamente? — insisti. — Só isso mesmo. Disse que era pessoal. A raiva queimou sob minha pele. Pessoal. Ótimo. Pessoal e italiano. Saí da secretaria antes que ela pudesse fazer mais perguntas, e Melissa ainda me esperava no corredor. — Ele não veio — resumi. — Ligou dizendo que teve um “imprevisto pessoal”. Melissa mordeu o lábio. — Samantha... — Eu vou até a casa dele depois da aula. — Meus olhos ardiam. — E vou olhar nos olhos dele. E perguntar. Eu mereço isso. — Você merece — ela concordou, colocando a mão no meu braço. — Mas só... só esteja preparada, tá? Balancei a cabeça, me afastando. Eu já estava preparada. Para tudo. Adam me prometeu um futuro. Um lar. Um amor. E eu não desistiria sem lutar. *** Assim que o último aluno saiu da sala, fechei a porta com força e corri pelos corredores sem olhar para trás. Não me despedi de Melissa, não cumprimentei ninguém. Eu precisava ver Adam. Precisava de respostas. Peguei o primeiro táxi que passou na frente da escola. Entrei ofegante, jogando a bolsa ao meu lado no banco e dando o endereço do apartamento dele com a voz entrecortada pela ansiedade. O caminho inteiro foi uma tortura. Cada farol vermelho parecia um insulto. Cada minuto a mais, uma agulha na pele. Quando o táxi finalmente parou diante do prédio, joguei uma nota alta para o motorista e saí antes mesmo de pegar o troco. Atravessei a portaria sem nem cumprimentar o recepcionista — talvez ele tenha falado comigo, não sei, não ouvi nada além da batida acelerada do meu coração. O elevador parecia lento demais. Apertei o botão repetidas vezes, como se isso fosse fazer diferença. Quando a porta abriu, entrei como um furacão e apertei o andar de Adam. Me apoiei contra a parede espelhada, tentando respirar fundo, tentando me preparar. Mas nada poderia me preparar para o que eu encontrei quando a porta se abriu. A porta do apartamento dele... estava escancarada. Travei por um segundo, parada diante do corredor silencioso. Um calafrio percorreu minha espinha. Não era normal. Adam sempre trancava a porta, até mesmo quando descia para pegar correspondência. Dei um passo cauteloso. E outro. — Adam? — chamei da porta, a voz hesitante. Nenhuma resposta. Entrei devagar, os saltos afundando no tapete da sala. E então parei. Meus olhos demoraram um segundo para processar o caos diante de mim. A sala estava completamente revirada. As almofadas estavam espalhadas pelo chão, uma delas rasgada. A estante com os livros de literatura — seus favoritos — tinha sido virada, e alguns volumes estavam com as páginas rasgadas. A mesa de centro, aquela de madeira escura que ele tanto gostava, estava aos pedaços. Como se tivesse sido golpeada com força. — Meu Deus... — sussurrei, com a mão sobre a boca. Passei pela sala devagar, desviando dos cacos de vidro. A televisão estava torta na parede, pendendo de um fio. Um dos quadros havia caído. Alguma coisa aconteceu aqui. Algo violento. Algo errado. Com o coração na garganta, corri até o quarto. Estava bagunçado, mas não tanto quanto a sala. O guarda-roupa aberto, roupas jogadas, gavetas reviradas. A cama estava desfeita. E vazia. Fui até o banheiro. Luz acesa. Nenhum sinal de sangue, mas a pia estava cheia de água e a toalha caída no chão. Segui até a cozinha. A lava-louça estava ligada, o som abafado das hélices girando parecia completamente deslocado naquele cenário de desordem. Voltei para a sala, tentando entender. Tentando respirar. O apartamento parecia gritar por socorro. E Adam... Adam não estava em lugar nenhum. Minha mente começou a correr em círculos. Um assalto? Uma briga? Catarina? Algo pior? Meu estômago se revirou. Uma parte de mim queria negar, racionalizar, achar uma desculpa para tudo. Mas eu sabia. Sentia no fundo do peito. Algo muito, muito grave havia acontecido. Tirei o celular da bolsa com as mãos trêmulas. O polegar hesitou por um segundo. Então disquei. Três números. 911. A linha chamou uma vez. Duas. E então, uma voz do outro lado: — Emergência 911, em que posso ajudar? Engoli em seco. — Eu... eu preciso de uma viatura urgente. — Minha voz saiu trêmula, embargada. — Meu noivo... ele desapareceu. O apartamento dele está arrombado. Revirado. Algo aconteceu. Por favor, mandem alguém.
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