CAPITULO 15

1545 Palavras
SAMANTHA Houve um breve silêncio do outro lado da linha, seguido por uma pergunta calma, mas firme: — Senhora, qual o endereço do local? Passei o endereço o mais rápido que consegui, olhando ao redor como se ainda fosse encontrar Adam surgindo de algum canto. — Há sinais de violência? Alguém ferido? — Não... eu não vejo sangue, mas... a sala está destruída. A porta estava aberta. Ele não está aqui. Ele sempre me avisa se vai sair. Isso não é normal. Ele não some assim. Nunca. — Tudo bem, senhora. Uma viatura já está a caminho. Fique na linha comigo até os policiais chegarem. Está em segurança? Há alguém mais no local? Olhei ao redor novamente, meu coração martelando contra o peito. — Não... estou sozinha. Mas estou com medo. Muito medo. — Respire fundo, senhora. A ajuda está chegando. Me sentei no sofá — ou no que restou dele — tentando obedecer. Mas minha mente estava longe. No rosto de Adam. No sorriso dele. Nas noites que passamos juntos. Na promessa que fiz a mim mesma naquela manhã. Hoje, eu ia lembrá-lo que era a escolha certa. Mas agora... eu só queria que ele estivesse vivo. *** As luzes vermelhas e azuis refletiram nas janelas do apartamento poucos minutos depois da ligação. Quando a sirene foi desligada e o som das botas ecoou no piso de mármore, me levantei de um salto. Dois policiais, um homem alto e robusto e uma mulher de expressão séria, surgiram diante da porta aberta do apartamento de Adam. — Senhora? — o homem disse, olhando ao redor. — Foi a senhorita quem fez a ligação? Assenti rapidamente. — Sim, sou eu. Samantha Klein. Esse é o apartamento do meu noivo, Adam Scott. Ele... ele desapareceu. A porta estava aberta quando eu cheguei. O lugar está todo revirado. A policial deu um passo à frente, os olhos percorrendo a sala destruída. — Alguém mais entrou aqui com a senhorita? — Não. Eu estava sozinha quando encontrei tudo assim. A porta... estava escancarada. E ele não atende o celular desde ontem. — Desde ontem? — o homem perguntou, sacando um bloquinho de anotações. — Quando foi a última vez que viu seu noivo? — Ontem à noite. Tivemos um jantar com amigos. Eu fui embora mais cedo... e ele ficou. A policial se abaixou para analisar os cacos da mesa de centro, enquanto o outro policial anotava tudo. — Houve alguma discussão? Alguma mudança de comportamento? Algo diferente no comportamento dele? — ele insistiu, sem tirar os olhos de mim. Abri a boca para dizer que não. E por um segundo, foi exatamente isso que saiu: — Não... quer dizer... — Respirei fundo. — Não houve briga, mas... algo diferente aconteceu, sim. Ele ergueu as sobrancelhas, e a policial parou o que estava fazendo para me olhar. — Pode ser mais específica? — A ex-namorada dele apareceu no jantar. — Aquelas palavras me saíram como pedras presas na garganta. — Ela apareceu de surpresa? — a policial perguntou. — Sim. Ele... ele ficou completamente abalado. Eu nunca o vi daquele jeito. — Cruzei os braços, apertando meus próprios cotovelos. — Ele pediu que eu fosse embora... e ela ficou. Não sei por quê. Os dois policiais se entreolharam. O homem anotava rápido. — Essa ex... como ela é? Minha mente embaralhou por um segundo. Eu sabia que a conhecia, mas... como descrever alguém que me assombra em silêncio? Como definir uma ameaça velada, uma presença que tomou o lugar que era meu? Meus olhos desceram, sem querer, até o chão bagunçado. Entre as almofadas caídas e os papéis soltos, havia algo... familiar. Duas fotos. Caminhei até elas, me abaixando devagar. Meus dedos pegaram as fotografias como se fossem feitas de vidro. Uma mostrava Adam e Catarina no parque, sorrindo. A outra era a do Toby, que ficava ali na lareira, agora desdobrada, com o rosto enorme de Catarina sorrindo. Era ela. E ele. Felizes. Como se o tempo não tivesse passado. Senti a náusea subir, mas segurei. Me levantei e estendi as fotos aos policiais. — É ela. Catarina. A ex. A policial pegou uma das fotos e analisou. — Tem o nome completo dela? — Catarina Piromalli. É italiana. Acho que voltou para o país depois que eles terminaram, há alguns meses. Mas agora... ela voltou. — E o senhor Scott disse por que ela voltou? — o homem perguntou. Hesitei, com o coração acelerado. — Não com todas as letras... mas... Catarina disse estar grávida. — As palavras saíram num fio de voz. — Acho que está grávida do Adam. A policial não esboçou reação, mas o outro policial anotou com mais intensidade. — Isso muda as coisas. Sabia se ela estava hospedada com ele? — Não oficialmente. Mas quando ele me mandou embora ontem... ela ficou. E hoje, ele sumiu. Um silêncio denso se instalou entre nós. A policial olhou ao redor da sala de novo, como se absorvesse tudo de novo à luz dessas novas informações. — Senhorita Klein, vamos precisar que venha até a delegacia mais tarde para prestar um depoimento formal. Por agora, vamos acionar a perícia para registrar o local. A senhorita pode aguardar lá embaixo? Assenti, apertando as fotos contra o peito. Antes de sair, me virei mais uma vez para a sala. O cheiro do perfume de Adam ainda pairava no ar, misturado ao do meu próprio medo. Algo aconteceu aqui. E se Catarina estava envolvida... Ela não era apenas um erro do passado. Ela era uma ameaça ao meu futuro. *** Logo após os dois policiais entrarem, chegaram os peritos — todos de luvas e com aquele olhar meticuloso de quem vasculha os detalhes mais íntimos de uma vida alheia. Eles começaram a fotografar tudo: os cacos da mesa, os quadros tortos, os objetos caídos no chão. Um deles passou um pó preto estranho pela maçaneta da porta. Outro usava um pincel minúsculo, como se estivesse pintando segredos invisíveis. Eu não conseguia mais ficar parada. — Vocês já têm alguma ideia do que aconteceu aqui? — perguntei, me aproximando de um dos peritos, um homem de meia-idade, careca, com olhos fundos e um jeito calmo demais pra situação. Ele apenas lançou um olhar lateral. — Ainda é cedo, senhorita. Precisamos analisar tudo. — Mas está claro que houve uma briga, não? Olhem isso — apontei para a mesa destruída. — A porta aberta. O celular dele fora de alcance. Ele nunca desapareceria assim. O perito apenas assentiu, sem dizer nada. Continuei: — Vocês encontraram algum sinal de sangue? De luta corporal? Pegadas? Impressões? Dessa vez, quem respondeu foi a policial que me atendeu antes. — Senhorita Klein, entendo sua preocupação, mas nesse momento é importante que a senhorita nos deixe trabalhar. Vamos analisar tudo e entraremos em contato. — Entrar em contato quando? — minha voz falhou. — Amanhã? Daqui uma semana? Eu não posso ir pra casa e fingir que nada aconteceu. Adam pode estar... pode estar machucado, ou... A policial se aproximou com mais firmeza, num tom quase maternal. — Nós faremos o possível para encontrá-lo. Mas agora, vá para casa. Descanse. Vamos cuidar disso. — Descansar? — ri, nervosa. — Como se eu conseguisse descansar. Eu amo ele, entende? Amo de verdade. E... e tem mais uma coisa. Ela parou, esperando. — Ele nunca contou com detalhes, mas... Catarina, ela é italiana. E ultimamente... ele estava com medo. Tenso. Como se algo estivesse prestes a acontecer. E agora, com o sumiço... com tudo isso... — E o que exatamente está insinuando? — o policial mais alto, que estava do outro lado do cômodo, se aproximou. Olhei entre os dois. — Eu só consigo pensar numa coisa: máfia. Eles se entreolharam. E então... riram. Não uma gargalhada escancarada, mas um riso abafado, irônico, quase indulgente. — Senhorita, a máfia não age assim. Pelo menos não a máfia moderna. Isso aqui? — ele fez um gesto com a cabeça para o caos do apartamento — parece mais com um assalto m*l executado, ou uma briga pessoal. Não crie teorias precipitadas, vai te deixar mais ansiosa do que precisa. Fiquei ali, parada, sentindo meu rosto arder. Não sabiam de nada. E ainda riam de mim. Dei um passo para trás, depois outro. — Quando vocês realmente quiserem ajuda, estarei esperando. — minha voz saiu baixa, mas firme. Peguei minha bolsa, ajeitei meu casaco nos ombros e, com um último olhar para o apartamento destruído de Adam, virei as costas. Precisei de toda a força do mundo para não correr dali. *** Do lado de dentro, após o barulho dos saltos de Samantha sumir no corredor, a policial ajeitou os papéis na prancheta. — Vou dar início ao relatório preliminar — murmurou, caminhando para a sacada e ligando o gravador. O outro policial, ainda de pé junto à janela, olhou ao redor mais uma vez. Confirmou que estava sozinho. Então, discretamente, tirou o celular do bolso e começou a digitar uma mensagem. "O professor está fora do radar. Apartamento revirado. Nenhum rastro ainda. A mulher já está fora do local." Ele enviou. Bloqueou a tela. E ficou ali, parado por mais um segundo, olhando a porta semiaberta do quarto de Adam. O serviço estava feito, mas agora por quem?
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