SOL NARRANDO Era isso. Era agora ou nunca. Eu encarei o Brasa com tudo que eu tinha. Com a alma, com o peito aberto, com o coração aos pedaços. Eu tava suando frio, mas firme. A voz dele ainda pairava no ar, dura, firme, impiedosa. — Você acha que eu confio em alguém? E eu só consegui soltar: — Me dá um voto de confiança. Eu sou filha, mas não sou igual. Ele me olhou. Dos pés à cabeça. Devagar. Como se estivesse me desmontando só com o olhar. O tempo parou. Nem os gritos do meu pai caído no chão me tiravam daquela tensão que era só eu e ele. O mundo inteiro sumiu. Só existia ele ali me medindo. Foi aí que ele virou levemente o pescoço e assobiou baixo: — Leléu. O tal do Leléu, que tava perto do meu pai igual sombra, deu um passo pra frente, já preparado. Brasa não tirava os olhos de

