SOL NARRANDO Fechei o portão da casa da Cida com a mão firme. A tranca bateu com força, quase como um alívio no peito. Lá fora o mundo parecia um campo de guerra. Lá dentro, ainda era o campo minado que a gente chamava de vida. Passei rápido pelo quintal, entrei na casa e fui direto pra sala. Dona Rosa tava sentada no sofá, de cabeça baixa, os ombros tremendo. Chorava baixinho, como se quisesse esconder o desespero até de si mesma. Meu coração se apertou. Mas eu não podia me desmontar agora. — Mãe… Ela levantou a cabeça devagar, os olhos vermelhos, a boca trêmula. — Ai, minha filha… — tentou se levantar, tropeçou nas próprias pernas. — Ele ainda tá lá fora? Ele ainda tá lá, Sol? Ele vai botar fogo em tudo, minha filha, ele vai matar seu pai! Fui até ela e segurei firme pelos ombros.

