BRASA NARRANDO Mesa de plástico torta, ventilador batendo vento quente, cheiro de pó, de energético e de nota velha. Eu tava com a mão cheia de dinheiro do recolhe — elástico estalando, goma cheirando a dedo de rua — conferindo pilha por pilha, risco de lápis no caderno e rádio chiando “limpo, limpo”. Esse barulho me acalma. Número não mente. Gente mente. O telefone vibrou torto. Era meu detetive. — Fala. A voz veio seca, sem enfeite: — O playboy teve acesso ao pai da Sol. Comprou o cara com comida, roupa, uns trocado. Tão no mesmo hotel. Provavelmente já sentaram pra conversar. O sangue subiu que nem água em chaleira. A visão ficou estreita. Se eu tivesse apagado o Dário quando tive a chance, hoje não tava ouvindo essa merda. Quem dá vida pra fantasma depois não reclama do assombro.

