DÁRIO NARRANDO Entrei no carro meio sem acreditar no que tava fazendo. Portas fechadas, ar no talo, rádio baixinho num sertanejo qualquer. O cara dirigia calado, mão firme, sem olhar pra mim. Eu fiquei quieto também, agarrado na bujudinha vazia como se fosse documento. Quando vi já tava parando numa lojinha de rua, daquelas que botam manequim desbotado na calçada e música alta pra chamar freguês. — Desce aí — ele falou. Desci com o pé arrastando. A dona da loja me mediu de cima a baixo, nariz torcido, mas o cara adiantou no cartão. Calça jeans nova, duas bermudas, três camisetas lisas, cueca de pacote, meia branca. Ele ainda meteu um boné, um cinto, e apontou pro balcão de sapato da frente. Saí com um tênis pretinho que nem era marca de verdade, mas brilhava. Pegou também uma sandália s

