DONA ROSA NARRANDO Acordei cedo, peguei minha sombrinha — sol de rachar e chuvisco fino no mesmo dia, é a cara do morro — e subi pra ver minha casa. Todo dia eu venho. Nem que seja pra cheirar massa fresca e ouvir barulho de serra, eu venho. É minha terapia. Quando virei na viela, já senti o cheirinho bom de cimento com café e ouvi o “bom dia, dona Rosa!” que me dá vontade de chorar de alegria. O portão novo tá no cavalete, esperando pintura. Entrei pisando de leve pra não atrapalhar e quase tropecei na felicidade: piso clarinho já quase todo colocado na sala, rodapé alinhado, janela nova com veneziana que abre macio, nada de emperrar. A manta no telhado já segura o sol; lá dentro não parece mais forno. Eu passei a mão na parede lisa, fresquinha de massa corrida, e pensei: “olha a vida m

