PENELOPE NARRANDO Eu não sei como cheguei aqui. De verdade. Eu só lembro do barulho da porta batendo nas minhas costas, da sacola rasgando no meio da calçada, minhas coisas tudo espalhadas na rua. Sapato, calcinha, maquiagem, blusa, tudo. Coisa minha, que eu comprei com meu dinheiro, que eu escolhi com carinho, que eu sonhei em usar. Jogadas no chão feito lixo. Igual eu. Eu sentei ali na calçada do Alemão mesmo, toda fodida. Tava com a boca aberta, com gosto de sangue. Uma das lentes caiu. Caiu e eu nem tive coragem de olhar no espelho pra saber como tava a minha cara. Mas eu sentia. Inchada. Rachada. Ardendo. Doía até pra respirar. E mesmo assim, eu não chorei. Não ali. Porque eu posso ser Ester no documento, mas aqui no morro todo mundo me conhece por Penélope. Sempre fui forte. Sempr

