GADERNAL NARRANDO (Passaram-se algumas semanas) O sol tava rachando o morro quando eu cheguei na casa da minha mãe. Entrei calado, só com a mochila pesada no ombro, e um olhar que dizia tudo. Não era dia de brincadeira. Era dia de honrar quem sempre segurou minha barra quando ninguém mais segurava. Ela tava na cozinha, mexendo num arroz com alho que perfumava a casa toda. A mãe nem se virou, só disse: — Bota aí no armário da sala, mesmo lugar de sempre. Eu fui. Abri o armário de madeira que ela guardava como se fosse um cofre de banco. Peguei a mochila e larguei lá dentro com cuidado. O zíper quase estourando de tanto dinheiro. Notas de cem, de duzentos, maços e maços, tudo separado, embalado, contado. Um dinheiro que não vinha fácil, mas que ela nem precisava perguntar de onde vinha.

