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1694 Palavras

MAJU NARRANDO O dia amanheceu como se tivesse vergonha de clarear. A luz entrou fraca pela janela, meio cinza, meio triste, igual a minha cara depois de uma noite inteira sem fechar os olhos. Eu tinha chorado tanto que parecia que minha cabeça era só água e dor. Abri o celular pela milésima vez, a notificação sempre a mesma: nada dele. Nem um “boa noite”, nem um “cheguei”, nem um “tô vivo”. Nada. O vazio. Respirei fundo, aquele suspiro longo que parece que arranca um pedaço do peito. Levantei devagar, como se meu corpo pesasse mais que o normal, e fui pro banheiro. Joguei água no rosto, olhei pra mim no espelho — os olhos inchados denunciando tudo — e tentei dar uma ajeitada na dignidade. Eu precisava trabalhar. Me arrumei mecanicamente, como se fosse um corpo obedecendo ordens sem alma:

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