EPISODIO 9

1364 Palavras
Até hoje, com total abandono, danço sob as luzes da pista de dança. Hoje tenho muito a comemorar. Os meus colegas no hospital acham que é apenas por causa da operação de coração aberto que acabei de realizar com sucesso. Mas não é isso que eu celebro, é muito mais. É finalmente poder tocar com os dedos a liberdade, o simples fato de poder respirar e começar uma vida que finalmente será minha e de mais ninguém. Sem dívidas, sem correntes, sem vergonha e sem medo. As luzes da Strip, os arranha-céus, os cassinos, os turistas, os casamentos expressos, talvez para muita gente Las Vegas seja apenas um lugar de férias ou fim de semana, para ir jogar caça-níqueis, dançar, andar de gôndola num falso canal de Veneza, ver uma pirâmide, também falsa de perto, mas para mim foi liberdade, a oportunidade de ter algo meu. Chega de trabalho para a Bratva, nem mais um dia, hoje faz 4 anos. Já paguei a dívida que eles me disseram que eu tinha por me ajudar a sair da Rússia e nos meus primeiros anos de faculdade. Felizmente consegui uma bolsa integral para terminar o curso de medicina ou teria que pagar mais. Por ter sido o primeiro da turma e ter concluído a licenciatura em tempo recorde, aceitaram-me como pagamento para trabalhar para eles nessa área. Não sei o que teria feito se tivessem exigido que eu devolvesse a quantia com o meu corpo. Enquanto eu estava na faculdade em Los Angeles, foi muito difícil, porque embora eu só fosse vê-los em emergências, sempre tive medo de que alguém me reconhecesse, mesmo que praticamente ninguém na irmandade conhecesse o meu pai. Ninguém em Moscou tinha me visto pessoalmente, exceto os homens que trabalhavam na casa dos Volkov. O meu pai sempre me renegou e teve tão pouca presença na minha vida quanto eu na dele. Só o meu tio Sam poderia ter me reconhecido, mas quando ele me viu nos Estados Unidos eu já estava lá há muito tempo e ele mesmo teve medo de represálias, de Gavril e dos Volkovs, então também não disse nada. Gavril tinha muito poder na época, então não foi difícil que eu trabalhasse aqui para ele. Aquele mesmo bastardo abusivo disse a eles que eu estava pagando uma dívida, relacionada à minha mãe alcoólatra, o que não era inteiramente mentira. Ninguém me reconhecia, mesmo assim às vezes eram rudes e diretos comigo, beirando a violência, principalmente no começo. Felizmente para mim, as coisas mudaram com o tempo e ganhei o respeito deles. Em Las Vegas é bem melhor, porque aqui ninguém me conhece a não ser pela boa reputação que já tinha em Los Angeles em intervenções por armas de fogo e não tenho medo de encontrar ninguém do meu passado. A presença da Bratva em Nevada é muito recente, e eu comecei a trabalhar com o Doutor Petrov. Nos três anos que trabalhei com ele, ele me ensinou muito, mesmo que eu não possa colocar no meu currículo (quatro anos de experiência removendo balas chamariam muita atenção). Já intervi em facadas em hospitais clandestinos como assistente do Dr. Petrov em Los Angeles e mais um ano depois como titular da Bratva em Vegas. Menção especial pela excelente assistência após tortura e amputação de membros menores, principalmente dedos, achei que poderia colocar também. Chega de ligações e sustos tarde da noite. Hoje, depois de um ano como residente no melhor hospital de Las Vegas como cirurgia, Só posso comemorar o fim do meu infe*rno. Talvez eu possa até ter um relacionamento estável. Antes não podia arriscar ter tanto para explicar e nunca conheci ninguém com quem quisesse passar mais de uma semana. Além disso, tenho algumas coisas no meu apartamento que são difíceis de justificar, justamente para serem usados nessas intervenções. Agora o cardiologista-chefe me olha do bar sem parar, com a mesma cara suja de sempre. Todos as minhas colegas querem tra*nsar com ele e tenho certeza que ele sabe como é bem- sucedido. Não sei se ele sabe que não sou uma dessas pessoas. Assim que ele caminha na minha direção decido que é hora de ir, não quero terminar a noite numa situação constrangedora. Assim que abro os olhos penso porque não fiquei no bar. Eu poderia ter dito ao cardiologista-chefe para se fod*er. Eu nunca vou deixar ninguém me tocar sem que eu queira. As mesmas velhas ameaças, a mesma voz. pontapés e mais chutes na minha porta. Se eu morasse em outro bairro talvez alguém fizesse alguma coisa. Eles pensariam que é estranho que alguém esteja gritando assim no meio da noite. Mas este é um dos piores bairros de Las Vegas e mesmo que alguém chamasse a polícia levaria horas para chegar. Eles me prometeram que se eu fizesse tudo o que eles me mandassem, ele me deixaria em paz. Cumpri tudo, nunca nem questionei nada. Prometeram-me que nunca teria de falar com ele, que não lhe dariam o meu endereço, mas aqui está ele, na minha porta: zangado e bêbado, o seu estado natural. Quando eu ainda morava em Los Angeles, costumava bloquear a porta do meu quarto com a escrivaninha todas as noites. Mas quase não há móveis neste andar, e é impossível para mim mover o armário sozinha. Aceitei os termos da minha dívida com Gavril quando ele estava sóbrio há quatro anos. Como ele estava caindo no álcool, ele foi perdendo o poder e outras pessoas começaram a controlá-lo, então eu pensei que estaria livre dele. O meu único pedido era não vê-lo novamente. — Anna, se você não abrir esta porta agora, você vai se ver comigo. Ele me disse com a sua voz desagradável. Nem depois de tanto tempo sem ver ele eu conseguia esquecê-lo, eu quase podia visualizar as suas feias feições. Pum Pum — Juro Anna, Nina ou sei lá qual é o seu nome agora, abra agora ou você vai se arrepender! Pum Pum Apenas soque e continue gritando. A minha mente não consegue parar de lembrar de uma noite semelhante, também marcada por sua voz. Naquela época eu tinha as chaves e consegui me manter longe de todas as pessoas que eu amava. — Vá embora Gavril ou eu vou chamar a polícia. Eu grito para ele. Embora sem muita convicção. — Quando eles chegarem já será tarde, você acha mesmo que uma porta vai me parar? — O que você está fazendo aqui, o que você quer? Perguntei para ele. Eu estava tentando ficar calma, mas minha voz soou um pouco desesperada. Do outro lado, ouve-se apenas o seu riso, ressoando no silêncio do edifício com um tom mais macabro do que nunca. Tenho certeza de que se eu abrir a porta agora vamos ter uma conversa muito casual, pensei. Ele vai me perguntar como está indo a residência, se já me inscrevi em muitos hospitais da minha especialidade. Por que não posso ter uma vida normal, por que continuo me metendo nisso e pior ainda porque acreditei quando me disseram que eu tinha acabado com a minha dívida e que me deixariam em paz? A minha porta é uma mer*da, a qualquer momento vai ceder, então só me resta fazer o que qualquer pessoa faria, não vou dizer qualquer pessoa normal, porque normalidade não existe aqui, qualquer pessoa no nosso mundo: peguei uma faca de cozinha maior do que eu e tente descer pela escada de incêndio. Eu estava com muito medo de ir até a entrada para pegar uma jaqueta, então o ar mais frio de dezembro em Las Vegas me cumprimentou assim que coloquei os pés na escada de incêndio. A adrenalina era tão forte no momento que eu m*al podia sentir ela. Eu não tinha conseguido descer nem um andar, quando ouvi como a minha porta cedeu e Gavril começou a gritar cada vez mais perto. Sou muito mais leve que ele, mas seus passos eram mais longos. Eu não conseguia nem respirar enquanto descia as escadas freneticamente, os seus passos ecoando atrás de mim. Finalmente cheguei à rua e apesar de estar sem fôlego pensei que ia conseguir, faltavam apenas mais alguns quarteirões para a rua principal.
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