- ENTRE OLHARES E SUSSURROS

992 Palavras
ISABELA Nunca imaginei que pudesse me sentir tão conectada a alguém tão rápido. Depois da noite no carro, eu e Arthur definimos tudo sem precisar de muitas palavras: estávamos juntos. Não oficialmente. Não para o mundo. Mas para nós mesmos. Ele segurou meu rosto naquela noite e disse: — É namoro, Isabela. Nosso. Só nosso. Mas… ninguém pode saber ainda. Eu concordei. Por ele. Por nós. E assim começou o capítulo mais perigoso da minha vida. ⸻ 🖤 Na faculdade Nós não nos encostávamos. Não nos chamávamos pelo primeiro nome. Não podíamos trocar mais do que três palavras sem olhar para os lados. Mas… Os olhos dele. Meu Deus. Eles me queimavam mais do que qualquer toque. No corredor, ele fingia que falava ao telefone, mas me seguia com o olhar. Na sala, quando passava entre as fileiras, deixava a mão roçar de leve na mesa onde eu apoiava minha perna. Pequenos choques elétricos. Uma vez, ao entregar uma prova, nossos dedos se tocaram — rápido, imperceptível. Mas meu corpo inteiro sentiu. E ele também. Eu vi pelo microsegundo em que sua respiração falhou. Todos achavam que ele estava apenas distribuindo notas. Eu sabia que ele estava me desejando com o mesmo desespero que eu desejava ele. ⸻ 🌙 Do lado de fora Era outro mundo. Mensagens na madrugada. Chamadas de vídeo com risadas, saudade, provocações. Encontros na casa dele — onde a gente se beijava sem freio, com fome, com amor, com tudo o que era proibido mostrar no campus. Nós dois tínhamos medo. Mas tínhamos mais medo ainda de perder o outro. ⸻ A BIBLIOTECA Eu tinha ido buscar um livro para o trabalho final. A biblioteca estava quase vazia. Era começo da noite; as luzes frias deixavam as sombras longas entre as estantes. Estava andando quando senti uma presença atrás de mim. Sem som. Sem passos. E antes que eu me virasse, ouvi a voz grave que sempre fazia meu estômago cair: — Você está fugindo de mim? Meu coração quase saiu pela boca. Arthur. Virei devagar, tentando manter a compostura. — Você não devia estar aqui — sussurrei, mesmo sabendo que era inútil dizer isso. Ele deu um passo à frente. Eu dei um para trás. A coluna encontrou a estante. Ele encontrou a minha boca. Foi rápido. Urgente. Um beijo silencioso, proibido, lindo. As mãos dele seguraram minha cintura, puxando meu corpo para o dele. Minhas mãos subiram por seu peito, segurando sua camisa como se eu tivesse esperado por aquilo por dias. — Senti sua falta — ele murmurou contra meus lábios. — Faz três horas que nos vimos — retruquei, mordendo o sorriso. — Três horas a mais do que eu consigo — ele disse, beijando meu pescoço devagar, como se estivesse decorando minha pele. Minhas pernas tremeram. Eu puxei a camisa dele com mais força. Ele encostou a testa na minha. — Eu te vejo depois na minha casa. Meu coração explodiu. — Eu vou — respondi. Ele saiu rápido, sem olhar para trás, sem chamar atenção. Como um fantasma. Um fantasma proibido que me beijava melhor do que qualquer homem vivo. ⸻ A DESCONFIANÇA COMEÇA Eu ainda estava recuperando o fôlego quando ouvi a voz dela: A coordenadora. — Senhor Moretti? — ela chamou do final do corredor. Ele congelou por meio segundo. — Sim? — respondeu, neutro, profissional. Ela analisou ele com olhos afiados. Depois olhou para mim, que ainda estava entre as estantes, tentando parecer ocupada com um livro. — Vi vocês conversando ontem — ela comentou, inocente demais. — Algum problema com essa aluna? — Nenhum — Arthur respondeu antes que eu abrisse a boca. Calmo. Perfeito. Treinado. Mas ela não acreditou. Eu senti. ⸻ A FILHA DO DIRETOR No dia seguinte, a faculdade inteira parecia… estranha. A filha do diretor — Clara — entrou na sala com um sorriso venenoso. Sentou-se perto das amigas e falou alto o suficiente para todos ouvirem: — Gente, vocês perceberam que o professor Moretti tem UM TIPO? — Como assim? — as amigas perguntaram. — Ele se mudou porque teve problema com uma aluna na antiga faculdade… agora tá sempre falando baixo com a Isabela… coincidência? — Sério?! — as meninas arregalaram os olhos. — Minha mãe falou com a coordenação. Ele tá repetindo o padrão. Meu sangue gelou. Eu queria levantar, atravessar a sala, arrancar o sorriso dela com a mão. Mas fiquei parada. Travada. Então ouvi: — Fala mais um absurdo desses e eu faço você engolir cada palavra. Lucas. Meu amigo gentil, tímido, sempre quieto — agora em pé, firme, olhando Clara como se ela fosse lixo no chão. — Você não sabe nada sobre a Isabela — ele disse. — E muito menos sobre o professor. Cala a boca. A sala inteira ficou em silêncio. Clara riu, mas estava incomodada. — Ai, Lucas, vai defender sua crush? — Não tenho crush — ele respondeu. — Mas tenho olhos. E você está mentindo. Alguns alunos murmuraram. E então veio a parte mais c***l: — Ah, por favor — disse um dos meninos do fundo. — Olha pra Isabela. Quem não cairia por ela? — Verdade — outro respondeu. — Ela passa, e até eu faço besteira. As meninas riram. Alguns meninos também. Eu virei estátua. E tudo dentro de mim voltou. O passado. O abuso. O vídeo vazado. A sensação de ser um corpo na vitrine. De ser um objeto comentado, usado, exposto. O chão sumiu sob meus pés. Eu segurei as lágrimas até não conseguir mais e saí correndo da sala. Tranquei a porta do banheiro. Sentei no chão. Chorei em silêncio. Doía. Muito. E pela primeira vez… Eu tive medo de amar Arthur. Medo de ser destruída pelo que diziam de mim. Medo de que ele se arrependesse. Medo de ser uma repetição, mesmo não sendo. E quando o sinal tocou, eu sabia: A partir dali, nossa história ia ficar muito mais difícil. Mas também muito mais real.
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