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2472 Palavras
Sarah Menezes. — Eu to com fome. — Isis murmurou chorosa, olho para Isaque e suspiro. — Vem aqui meu amor. — Isaque fala pegando ela no colo. Pego a minha bolsa e tiro um sanduíche e suquinho de caixinha que eu comprei ainda na rodoviária, furo com o canudinho e abro a embalagem do sanduíche e lhe entrego, pegou ela do colo do Isaque que me olha confuso. — Come! — Falo e ele suspira Ele assente, se levanta com o sanduíche e suco na mão e vai para a poltrona ao nosso lado que graça a Deus ele teve a sorte de pegar sozinho. — Tá gostoso meu amor? — Pergunto e ela sorri com a boca cheia. Suspiro aliviada e olho para a janela, já chegamos no Rio e falta pouco para descemos, eu estou desesperada tentando entender o que eu vou fazer, eu, um adolescente e uma bebê. Sinto uma mãozinha segurar na minha, olho para a minha mão e sorrio ao ver que Isis segura a minha mão com carinho, como se ela sentisse o meu desespero, olho em seus pequenos olhos e sinto uma paz grande me preencher, vai dá tudo certo, eu sei que vai dá. ***** — O que vamos fazer agora? — Pergunto. — Não temos casa, só dinheiro e roupa, eu não conheço na aqui e muito menos você. — Vamos pra favela. — Suspiro sentindo meu coro cabeludo pinica, começo a lembrar de tudo que ele me falo e me toco na hora. — Vamos fica em uma de comando rival. — Falo e ele assente. — Pesquisa ai e vê qual é a rival e mais próxima. Falo e subo a Ísis no meu colo, ela capoto e c*****o, carregar ela de um lado para a outro tá complicado, mas eu nem posso reclamar, o Isaque está sofrendo mais ainda, pois está carregando várias malas que dá o triplo do peso de todo mundo. — Bora. — Isaque fala chamando a minha atenção. — Complexo do alemão é o nosso destino, respiro fundo e assinto — Vou pedir o Uber! — Falo e ele assente. ***** — Moça, eu vou para aqui. — O motorista fala assim que vê um monte de homem armado olhando pro carro bem sério, n**o. — Ok. — Falo e descemos do carro. Enquanto eu seguro a Isis no meu colo Isaque segura as malas, eu estou tentando manter a calma, assim que eu vou chegando perto começo a reparar melhor no lugar. A favela é linda, cada casa pintada de uma cor e cada casa tem uma forma, as ruas estreitas e cumprida se torna um cenário lindo e ideal pra uma boa foto. Volto a minha realidade quando vamos chegando perto da barreira e um homem vem até nós com a arma na mão. Reparo bem em seus traços e c*****o, o homem é bonito demais, dava pra ser modelo. n***o, alto e olhos claros, quando ele chega perto para e olha de mim para o Isaque. — Col foi? — Que? O que ele disse. — Desculpa, eu não entendi o que você disse.— Falo, ele sorri de lado e me olha de cima baixo, olho pro Isaque que tá de cara fechada esperando um socorro. — Tu não é daqui, né? É de onde? — Pergunta com um sotaque carioca lindo, ai como eu queria ter nascido aqui. — Sou de Santos, cidade litorânea de São Paulo. — Explico e vejo ele ergue a sobrancelhas grossa deixando elas bem arqueadas. — Olha, eu só queria saber se tem casa disponível para alugar agora e já morar. — Você que morra aqui na favela? — Ele pergunta e eu assinto, pela sua cara eu vejo que ele vai dá um não então eu já falo. — Moço pelo amor de Deus eu imploro, eu só quero uma casa pra descansar e poder criar meus irmãos, eu não vou trazer problema para vocês, estamos cansado e não temos mais outro lugar pra ir. — Falo, ele analisa a minha irmã, o Isaque e então suspira. Ele olha pra trás, anda até os meninos fala alguma coisa pra eles que me olham desconfiado e volta a andar até mim. — Se liga, deixa as tuas coisas aqui que os cara vão fica de olho e vai vim alguém pra por no carro, vou levar vocês lá na boca pra pedir autorização pro chefe. — Me tremo toda, esse chefe é traficante, é isso? Ai meu Jesus. — Ok. — Falo meia desconfiada. — Vem, vou pegar o carro! — Ele fala e então começamos a andar até a outra esquina mais a frente Abro a porta do carro e nos sentamos lá, quando ele acelera eu olho para trás e vejo que alguns meninos estão em frente as nossas malas como se estivessem cuidado e relaxo mais aliviada. Me viro novamente e presto atenção em tudo ao meu redor, as casas, ruas e cada cantinho da favela, Isaque está fazendo o mesmo e sua cara permanece séria e sem demonstrar nervoso. Relaxa no bando sentindo a forte dor na minha coluna e perna, eu tô a dias sem dormi direito e tô morrendo de dor, não vejo a hora de descansar. De repente ele para o carro em frente a um beco e eu vejo que tem uns homens na frente, então ele desce e eu faço o mesmo, ele não fala nada mas quando ele anda eu sei que é pra nós seguimos ele, assim que paramos em frente a uma porta onde tem dois homens na frente ele olho pra mim. — Espera aqui! — Fala e entra. Fiquei alguns minutos olhando pro chão ou qualquer lugar que não seja os homens que estavam me comendo com os olhos na maior cara de p*u, tem macho escroto em todo lugar cara, santo Deus. — Ou mina? — Olho para a porta novamente e vejo o homem me olhando sério. — Entra aqui. Olho para trás e vejo meu irmão, ele continua no mesmo lugar e então eu entro e vejo uns caras fumando e outro organizando dinheiro e droga. Andamos por um corredor e quando chegamos em uma sala no fundo e ele abre a porta entra e quando eu entro meu ar se perde dentro de mim. — Russo, essa é a mina. — O cara fala fazendo ele me olhar de cima a baixo, por um momento eu vi algo passar pelos seus olhos. Ele me analisa de cima a baixo, olho para cada centímetro de mim com atenção, eu que não sou boba nem nada também fiz o meu raio-x. Olhos claros, boca carnuda e cheio de tatuagem, ele está sem camisa e em seu peito e pescoço tem uma tatuagem estranha mas não deixa ser atraente, dando um ar de bandido m*l. — Dá o papo! — Ele fala me tirando dos meus pensamentos com sua voz rouca e grossa. — Fala normal p***a, a mina não entende a nossa gíria. — Sorrio nervosa sentindo minha mão molhada de suor. — Eu só quando uma casa pra alugar já com móveis, se tiver casa disponível eu quero aluga agora. — Mando na lata. — E porque você saiu de São Paulo e veio pra favela? — Respiro fundo, porque eu matei um homem. — Estava cansada da vida que levava lá e resolvi mudar tudo. — Falo e ele fica em silêncio me analisando. — Tem a casa ou não? — Tenho! — Ele fala sério.— Mas a que tu quer, são três quartos, sala cozinha, banheiro e uma área maneira pra criança brinca e já vem mobiliada com tudo. — Ok, qual o valor? — Pergunto. — 950 por mês! — Sinto a facada no peito, c*****o. — Ok, irei pagar 3 meses agora. — Pergunto e vejo ele sorri irônico, dentes brancos, alinhados e extremamente lindo. Equilibro com a Isis no meu colo mas bem na hora ela acorda e olha tudo em volta assutada. — Eii, calma tá tudo bem! — Falo e ela suspira e assente, desço ela do meu colo e ele fica do meu lado calada. Pego a minha mochila e tiro um dos bolos de nota de duzentos, separo o dinheiro e estendo, ele pega o dinheiro, conta e assente, abre uma gaveta pega a chave e me dá. — FK vai te levar até a casa, seja bem vinda a minha favela. — Ele fala sério. — Obrigado. — Falo. — Tu sabe as p***a das regras? — Ele pergunta e eu n**o. — Ou FK, explica pra ele e leva ela pra casa. — Fala e então volta a olhar prós papel na mesa. Não falo mais nada, só pego na mão da Isis que fica em silêncio e saímos, olho para o meu irmão e sorrio. FK pega um rádio e fala alguma coisa sobre mala e casa da rua 6, suspiro quando entramos novamente no carro e ele acelera, Isis deita com a cabeça no meu peito. — To com fome! — Sorrio, parece que ela só sabe falar isso. — Espera nos chegar em casa que eu vou fazer algo. — Falo e beijo a sua cabeça. — Onde tu mora tem um mercadinho na esquina, o cara é bem de boa e as coisas é barata. — Ele fala. — Nossa que legal tá também tem tem padaria? — Pergunto. — Na rua de baixo tem a da vó da minha fiel, saco? — Sorri. — Entendi, é bom saber! — Falo e olho para o meu irmão que continua de cara fechada. — E tem escola mais pra a menos mais cima também, quantos anos o teu irmão tem? — Pergunta. — Dezessete esse é o último ano dele. — Explico. —Eu já terminei! — Ele fala sem emoção, olho pra ele confusa. — Terminou? — Pergunto. — Eu pulei 1 ano. — Falou sério. Eu sento um orgulho gigante dentro de mim, ele pulou 1 ano?! c*****o então ele é super esperto, não perguntei mais nada. Quando ele parou em frente a uma casa linda, com portão com garagem, e dois andares o meu coração pulou no meu peito. — Essa é a casa? — Perguntei. — Sim, as malas de vocês já tá aí e essa é a chave. — Ele falou, desci com a Ísis, Isaque desceu pegou a chave e foi entrando com a Isis. — Vocês deram sorte, ontem a senhora veio arrumar então tá tudo no luxo. — Nossa que legal, mas e sobre as regras? — Pergunto. — Não ser X9, não arrumar briga com mulher de irmão de comando que tu sempre vai tá errado no final, não se envolver com policial, não rouba aqui na favela e mexer com criança nós mata. — Sorri. — Perfeito, estou me sentindo 100% segura. — Falo e ele rir negando. — Sabe me dizer se tem alguém precisando contratar uma menina pra trabalhar? — Pô, minha sogra tava mas agora já contratou. — Sorrio triste. — Ok, obrigado! — Falo e me afasto. Abro a porta da casa e entro, suspiro quando vejo tudo lindo e organizado, subo as escadas e vejo que tem um banheiro no corredor e três quartos, escuto no quarto, abro a porta de fininho e vejo o Isaque ajudando a Isis a se vestir, seu cabelo ta molhado e eu tenho certeza que ela tomou banho. — Eii gente. — Chamo e eles finalmente percebem a minha presença. — Vou sair para comprar comida, será que tem panela? — Tem! — Ele fala e eu acho estranho. — A casa é toda mobiliada, tem os c*****o a quatro, vamo pagar quanto no aluguel? Vamos? — 950. — Falo e ele suspira. — c*****o, caro pra p***a. — Fala e eu assinto. — Eu tenho dinheiro no banco, dinheiro que meu pai deixo pra mim e do meu trabalho, então tá suave. — Falo despreocupada, realmente eu tenho uma grana boa, mas não dá pra ficar sem trabalhar, são três bocas, água, luz, vestimenta e aí meu Deus. — Bom, vou ir lá e já volto. — Ok, vou por ela pra da um cochilo e vou tomar um banho também. — Fala, mas a menina acabou de acordar gente. — Ok, ainda de tempo de ser almoço. — Falo e ele sorri. Saio da casa e do portão vejo o mercadinho que ele falou, ando até ele atraído a atenção de todos, juro que quase morri de vergonha. Quando cheguei no mercadinho fui recebido por um senhor atencioso e uma menina do caixa, peguei um cestinho e fui enchendo de um monte de coisa, acabou que eu tive que volta na frente e pegar um carrinho, então quando fui pro caixa e almoça passou tudo quase tive um treco do coração, 789 deu a compra, mas também eu comprei tudo o que eu acho que é suficiente pra 2 meses. — Moça, você sabe se alguns tá contratando? — Pergunto antes de sair. — Olha, a dona Juju está contratando para ajudar ela a servi comida e fica no caixa, ganha bem. — Sorrio. — Sabe me dizer onde que é? — Pergunto e ela assente. — Claro, é a padaria na descida daqui.— Sorri animada, será que é a dá sogra do FK. — Obrigado, vou lá agora mesmo. — Falo Saio de lá e vou direto pra casa, coloco as coisas na cozinha e corro novamente para fora, desço a ladeira e rapidinho vejo uma placa bem gigante. “Cantinho da Dona JuJu” E sei que é ela, sorrio tentando melhora ao máximo a minha aparência, entro e vejo que está meio vazio, só tem alguns homens bebendo do lado de fora. — Oii, boa tarde! — Pergunto e quando a senhora levanta a cabeça sorri. — Tudo bom, minha filha? No que eu posso ajudar? — Pergunto. — Me falaram que você está contratando e.. — Aí, graças a Deus fui ouvida. — Ela fala me fazendo rir. — Está contratada, esteja aqui amanhã às 10 horas, o trabalho é pesado, servido mesa, limpando, depois servido cerveja e só sai às 20, tudo bem pra você? Eu pago 2mil porque o trabalho é pesado mesmo e já pago pra vê se alguém finalmente fica. Caralho, dois mil mano. — Trabalho pesado não é problema, amanhã às 10 horas estarei aqui. — Falo e ela sorri. — Pois até amanhã menina, eu me chamo Júlia mas todo aqui me chama de juju. — Ela fala. — Eu me chamo Sarah, até amanhã Juju. — Falo e ela sorri destacando as bochechas gordinhas, saio do restaurante/bar feliz da vida. Tô sentindo que as coisas vão dá certo!
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