O caminho até a ONG foi tranquilo, mas cheio de silêncio. Não era aquele silêncio pesado, de palavras presas, mas o tipo de quietude que se parece com o consultório momentos antes: como se ainda estivéssemos ouvindo o coração da Aurora ecoar pelo som frio do aparelho. Eu segurava a foto do ultrassom com uma das mãos, alisando a pontinha do papel como se fosse vidro. Era só uma imagem em preto e branco, borrada nas laterais, mas pra mim tinha cor, movimento, até cheiro. Era como se Aurora existisse ali de forma tão viva que eu quase podia sentir seu calor. Kauan dirigia com os olhos mais distantes do que de costume. A mão dele ainda descansava no meu joelho, mas não com a firmeza de antes havia uma tensão leve, quase invisível, que eu já tinha aprendido a reconhecer. Quando dobramos a es

