Castelo Mágico

4019 Palavras
A sopa estava deliciosa e esquentou as entranhas de Eleanore, mas não a fez se sentir mais confortável com toda aquela situação que vivenciou. Ela não sabia se era capaz de lidar com elementais do fogo e fantasmas, mesmo que estes fossem aparentemente amigáveis. Nunca havia pensado na existência desse tipo de criaturas, nunca sequer imaginou e ainda estava considerando a possibilidade de estar sonhando. Provavelmente estava sendo grosseira em não confiar nas pessoas que cuidaram dela. Eleanore nunca confiou muito nas pessoas, dado os exemplos que tinha, mas, considerando que os habitantes do castelo não eram exatamente humanos, significava que eles eram mais confiáveis por isso? Eleanore não queria ficar naquele castelo, não quando o senhor dele não estava presente e poderia não gostar de encontrá-la ali. Não sabia que tipo de homem poderia abrigar elementais do fogo e fantasmas em seu castelo. Será que poderia bater nela, como seu pai? Ela não esperaria para obter uma resposta. Já deveria ser muito tarde, quando Eleanore se aventurou para fora de seu quarto novamente. Levou a lamparina consigo, para usar como arma, caso necessário. Ela ficava olhando para cima, a fim de verificar se havia algum fantasma flutuando no teto. Não tinha. Ela desceu as escadas muito lentamente para não produzir nenhum ruído. A escada ficava a vários passos da porta de entrada. Ambos os cômodos que rodeavam a escada eram ricamente mobilhados, com quadros de paisagens pendurados nas paredes, as altas janelas intactas, sem vidros quebrados. Do lado esquerdo, havia sofás, um tapete cobrindo o chão, uma lareira de tijolos acesa, mesinhas com delicados vasos enfeitados com lindas flores. Do lado direito, ficava uma sala um pouco mais íntima, também havia um sofá, poltronas, algumas estantes com livros empilhados, folhas e potinhos com líquidos coloridos. Eleanore foi para a sala da direita, andando o mais silenciosamente que podia. Na outra extremidade do cômodo, entre duas estantes enormes, havia um corredor amplo, que levava à uma cozinha. Ela caminhou até lá, sempre atenta e olhando ao redor, o coração disparado no peito. A cozinha tinha piso de pedra, um grande fogão de aço n***o, sustentado por diversos tijolos, ocupava uma boa parte da cozinha, as panelas de aço ficavam penduradas logo acima dele. Também havia ali armários de madeira com vidros nas portas, possibilitando a visualização de seu conteúdo interno. Uma mesa se estendia no centro da cozinha com seis cadeiras. Havia lenha empilhada em um canto, uma dispensa e, na janela, que estava aberta, havia um vaso com margaridas. Eleanore foi para os armários procurando por comida que pudesse levar, mas, antes que pudesse pegar qualquer coisa, um clarão vindo do fogão fez com que ela pulasse de susto. Havia uma chama crescente vinda dali, que fez Eleanore recuar até a outra extremidade da cozinha, esbarrando em uma das cadeiras e quase caindo no chão. Ela segurou a lamparina com mais força, mas achou que ela não fosse fazer muito efeito em um fogo, que parecia estar vivo. – Vai roubar? É assim que nos agradece? – aquela era a voz crepitante que ela ouvira, pensando melhor agora, soava mesmo como o fogo consumindo a madeira. Eleanore abriu a boca para falar, mas não conseguiu articular uma palavra sequer. Não podia mesmo acreditar que aquele fogo estava falando com ela. Parecia um delírio mesmo estando bem na sua frente. Aquelas chamas começaram a mudar, tomando uma nova forma, assumindo o contorno de um humano, de uma mulher, embora continuasse a ser essencialmente fogo, queimando e brilhando intensamente. “Ela não vai me machucar”. Eleanore ficava repetindo para si mesma. – E-eu só... – ela engoliu em seco sem saber o que dizer. Iria mesmo rouba-los. – Entendo que esteja assustada. – a elemental do fogo disse, solidária – Mas não lhe farei m*l e nem ninguém aqui. Não precisa fugir, isto não é uma prisão e você não é prisioneira. Mas é imprudente sair à noite, senhorita, a noite é perigosa. Eleanore percebeu que June dissera a mesma coisa. Será que havia mesmo monstros a observando enquanto ela andava por entre as árvores pelo caminho de pedra? De repente, estava com mais medo do que poderia ter do lado de fora daquele castelo. – Sente-se – A mulher de fogo, que June dissera se chamar Amber, fez um gesto com a mão e a cadeira se afastou da mesa sem que nada tocasse nela. Àquela altura, Eleanore sequer ficou impressionada. – Gostaria de beber algo quente? – Não quero incomodar. – ela disse sinceramente. – Não é incomodo nenhum. – Amber fez mais gestos com as mãos e uma chaleira saiu do armário e foi direto para baixo de uma torneira, enchendo-se de água, logo depois, ervas também saíram voando da dispensa, sem que nada as segurasse e se juntou a água na chaleira. Uma xícara pousou em frente a Eleanore e, depois da chaleira ser esquentada por Amber rapidamente, ela passeou pelo ar, derramando o chá na xicara da garota, que olhava tudo com um fascínio genuíno. – Como pode? Tudo... flutuou... você não segurou... como? – Eleanore olhou para Amber, mas era difícil olhar diretamente para ela por causa do clarão. – Magia, querida. Nosso Mestre enfeitiçou esse castelo para que nos servisse e tivesse vontade própria, basta pedir com jeitinho, que ele vai te atender. – Mas... você não pediu. – Eleanore pontuou sem conseguir se conter – Apenas gesticulou com a mão. – Eu pedi, sim, só que com a mente. Ajuda se pedir por favor, a casa é geniosa. Eleanore queria saber como uma casa poderia ser geniosa, mas imaginou que a resposta seria “magia”. Embora tudo aquilo fosse uma clara insanidade, ela não conseguia deixar de pensar no quão extraordinário tudo aquilo era. Magia existia, veja só. Sua vida sempre foi tão monótona, nada parecido nunca havia acontecido e, agora, estava conversando com uma mulher de fogo que lhe ofereceu chá. Havia um fascínio crescendo dentro de Eleanore, gradativamente tomando o lugar do medo do desconhecido. Ela tomou um gole do chá, que estava delicioso e quente na medida certa. – Seu Mestre é um homem bom? – Eleanore perguntou, curiosa e apreensiva. – Sim. Ele finge que não, mas é um bom homem. – ela não era capaz de distinguir as feições de Amber porque ela era de fogo, mas podia jurar que ela estava sorrindo. – June disse que você fugiu, posso perguntar de que? Eleanore segurou a xícara com ambas as mãos, sentindo o calor em suas palmas. Ficou olhando para o líquido esverdeado fumegante, pensando se deveria contar à Amber. – De um casamento arranjado. Sei que parece infantil, mas acho que eu não queria fazer isso pelo meu pai. Ele é um homem muito c***l que gastou sua fortuna e precisa de dinheiro, então, ele me vendeu para um homem que não conheço. – ela confessou sem saber porquê – Eu só estava cansada da minha vida. Amber se condensou em uma massa de fogo e virou um pequeno pássaro feito de chamas, que pulou sobre a mesa, curiosamente sem queimar a madeira, ficando diante de Eleanore. – Sabe o que Eleanore significa? – Amber perguntou e ela respondeu balançando a cabeça negativamente – Simboliza o Sol, luz, vitalidade e realeza. Significa “aquela que reluz”. Eleanore sorriu, embora estivesse falando com um pássaro de fogo pousado na mesa. Não conhecia essa informação sobre seu nome, mas sabia que quem a batizou havia sido sua mãe. Seu pai jamais pensaria em um nome com um significado tão bonito. – Eu não sabia, mas por que está me dizendo isso? – Eu sinto que você é especial, Eleanore. Ninguém poderia entrar nesse castelo sem a permissão do nosso Mestre, mas mesmo assim, você entrou. Desejou boa noite para Amber e foi para seu quarto, depois de terminar seu chá. A xícara saiu de sua mão, movida por uma força invisível e foi até a pia, lavando-se sozinha. Foi algo magnifico de se observar. Embora tivesse dormido por dois dias, ela ainda sentia seu corpo cansado. Talvez fosse resultado de toda a histeria pela qual passou em um curto período. Ela foi até a janela, subindo em cima da mesa para que pudesse respirar o ar fresco do lado de fora. Eleanore sentou de pernas cruzadas sobre o tampo de madeira, o corpo inclinado para frente, para que pudesse deixar a cabeça para fora. O ar frio da noite beijou sua face e Eleanore inspirou profundamente, trazendo-o para dentro de seus pulmões. A brisa ali era perfumada, por causa do jardim florido logo abaixo. Foi quando Eleanore viu algo andando por entre as árvores, bem a margem do bosque. Um vulto grande, encurvado, os braços compridos e as pernas de animal. Apenas quando ele se expos à luz da lua, foi que Eleanore conseguiu ver que aquilo não era um animal normal. Parecia ser um lobo, mas tinha chifres e dentes muito grandes. Seus olhos brilhavam como joias vermelhas vindas diretamente do inferno. A voz de Amber soou novamente na cabeça de Eleanore “A noite é perigosa”. E, logo em seguida, a de June “Essa floresta é perigosa de noite”. Eleanore ficou paralisada, encarando a criatura se movendo lentamente, caminhando sobre as pernas traseiras, arrastando seus longos braços. Quando a criatura a encarou de volta, Eleanore se sobressaltou e caiu para trás, batendo as costas no chão, o que arrancou o ar de seus pulmões. Quando conseguiu, ela se levantou e rapidamente fechou a janela, fazendo o mesmo com as cortinas, enfiando-se embaixo das cobertas, em seguida. Como se isso pudesse protege-la de todo o m*l. Sua respiração estava curta e seu coração martelava contra o esterno fortemente. Ao que parecia, havia mesmo uma b***a sanguinária que protegia o castelo. A luz do sol da manhã banhava o quarto quando Eleanore acordou. Pensou que estaria novamente em seu quarto, na casa de seu pai, o que a fez acordar agitada e com o coração acelerado, um suor frio cobrindo sua testa. Mas continuava no castelo. Não foi um sonho. Ela se sentou na cama, preocupada e inquieta. Tinha certeza de que havia fechado a janela de noite. Mas logo viu o vestido que usava quando fugiu de sua casa, pendurado em uma das maçanetas do armário e supôs que June havia colocado ali, e aproveitado para abrir a janela. Lembrou-se repentinamente da criatura que viu na noite passada e um frio gélido percorreu toda sua coluna, fazendo-a estremecer e se arrepiar. Aqueles olhos vermelhos haviam penetrado fundo na alma de Eleanore e ela jamais se esqueceria daquilo. Eleanore se levantou, balançando a cabeça para afastar as lembranças perturbadoras, e pensou em tomar um banho, mas não queria ter que pedir isso para ninguém. Ela se aproximou da banheira e se lembrou de algo que Amber havia lhe dito, sobre a casa fazer o que era pedido. – Eu gostaria de tomar um banho, por favor, se não for incomodo. – ela pediu, olhando para as paredes e o teto, esperando que a casa pudesse ouvi-la. Mas nada aconteceu. Ela deu de ombros. Pelo menos, tinha tentado. Eleanore arrancou a camisola e sentiu o beijo frio do ar gelado de outono vindo da janela, arrepiando sua pele. Ela estava prestes a pegar seu vestido para vesti-lo, quando a porta se escancarou. Eleanore soltou um grito e cobriu seus s***s expostos com as mãos. Mas não era ninguém, era uma enorme bacia de madeira flutuante que pairou no ar até a banheira e despejou água quente sobre ela. Assim que terminou, a bacia saiu do quarto e a porta se fechou novamente. Eleanore piscou, boquiaberta, encarando a porta. De forma hesitante, foi para a banheira, que estava cheia de água quente, o vapor perfumado subindo pelo quarto. Ela entrou e sentiu o calor envolver todo o seu corpo de forma extremamente agradável, feito um cobertor quente. Eleanore estava mesmo precisando de um bom banho para relaxar os músculos e lavar o corpo. Eleanore esfregou sua pele com uma delicada toalhinha, limpando todo o suor frio que cobria seu corpo pelo medo da noite anterior. Ela afundou a cabeça na banheira, molhando seus cachos ruivos, penteando-os com os dedos. Assim que terminou o banho, Eleanore secou todo o corpo com uma toalha que estava apoiada em um banco próximo, colocando seu vestido, em seguida. Era uma peça verde esmeralda de tecido grosso, com botões pretos na frente, saia forrada e mangas compridas. Em seguida, vestiu a meia calça de lã e calçou as botas de cavalgada de couro marrom escuro, que também haviam sido limpas. Ela pegou uma escova de cabelo em uma das gavetas da mesinha de cabeceira, penteado suas mechas ruivas molhadas, deixando-as soltas para seca-las. Quando estava pronta, Eleanore seguiu o mesmo caminho que fizera ontem para chegar à cozinha, já que estava faminta. A cozinha estava um caos, para dizer o mínimo. Pratos, talheres e comida voavam para todos os lados, Eleanore teve até que se abaixar para não ser atingida por uma xícara e um pote de açúcar. June estava sentada em uma das cadeiras, partindo um pedaço de pão com as mãos. Amber não estava a vista, mas Eleanore podia supor que era o fogo que alimentava o fogão. Além de June, havia um garoto translucido sentado sobre a mesa. Eleanore o reconheceu como o garoto flutuante que viu ontem. Ficou bastante óbvio que ele era um fantasma agora. – Você deve ser Eleanore – falou o garoto fantasma – Eu sou Sam. – Você está morto? – ela perguntou antes que pudesse segurar sua língua. Esse tipo de comentário impulsivo teria resultado em um belo de um t**a de tia Eveline em sua boca. – Desculpe, eu não quis... Sam abriu um sorriso. Ele tinha cabelos loiros ondulados desalinhados, olhos muito escuros, quase pretos e um rosto bastante jovial, talvez da idade de Eleanore, ou um pouco menos. – Não tem problema. E, sim, eu estou morto. – Sinto muito. – Olha só, se não é uma verdadeira dama. – aquela voz aveludada chegou a Eleanore e, apenas naquele momento, ela percebeu que havia um homem sentado do outro lado da mesa. Ele tinha cabelos cinzentos, olhos estranhamente alaranjados e de pupilas afinadas, como as de um gato. Estava com os pés descalços apoiados sobre a mesa e sorria, seus caninos eram mais longos e finos do que dentes humanos normais. Ele estava usando uma camisa folgada que mostrava boa parte de seu peito, o que fez Eleanore corar. – June aprenda. June olhou de forma afiada para o homem e bufou. Ninguém a repreendeu por bufar, o que deixou Eleanora bastante surpresa. – O senhor é o Mestre da casa? – Eleanore perguntou, direcionando-se aquele homem. Todos os que estavam presentes olharam para o homem de cabelos cinzentos e, instantaneamente, começaram a rir. Rir de verdade, alto, sem se importar com decoro. – Esse ai é o Bash – June apontou para ele. – Não é Mestre de ninguém. Bash fez uma careta de desgosto para June. – Sou Sebastian, querida Eleanore, mas pode me chamar de Bash. – Para espanto de Eleanore, ele engatinhou sobre a mesa e apanhou a mão da garota, dando uma lambida em seu dorso, o que fez Eleanore arrancar a mão da dele e o encarar, horrorizada. – Fiz algo de errado? – Você lambeu, Bash, seu i****a. É pra beijar. – Sam explicou, revirando os olhos. – Ah, eu sempre me confundo. – Repentinamente, o homem em cima da mesa começou a encolher de forma esquisita, bigodes finos cresceram em seu rosto, assim como pelos cinzentos, uma cauda, focinho. Por fim, ele havia se transformado em um gato cinza de pelos longos e olhos laranjas, envolto pelas roupas que que jaziam sobre a mesa. Eleanore ficou completamente boquiaberta. Aquele homem era um gato. – Eu sou um espírito familiar, antes que você pergunte. – Bash respondeu, como se ela soubesse o que isso significava. – Sou o familiar do Vince. Ela se sentou em uma das cadeiras da mesa e, no mesmo instante, foi posto à sua frente um prato e uma xícara, que logo se encheu de leite, um pão pousou no prato, assim como queijo, presunto, ovos cozidos e fiambre. Eleanore estava faminta, então, começou logo a comer. Era tudo muito delicioso naquele castelo. – Por acaso – Eleanore começou, depois de engolir o presunto e limpar a boca – Tem uma fera que ronda esse castelo? Um silêncio pairou sobre a mesa e ela teve um m*l pressentimento. – Você o viu? – Bash perguntou, sério, ou o mais sério que um gato poderia parecer. Eleanore anuiu com a cabeça. – É por isso que a floresta é tão perigosa de noite. – June falou. Eleanore engoliu em seco, pensando que poderia ter sido estraçalhada por aquela b***a, enquanto estava fugindo algumas noites atrás. Ficou imaginando como seria ser atacada por aquele bicho. Seria uma morte terrível e sangrenta. – Vocês são servos aqui do castelo? – Eleanore falou cautelosamente, temendo que se ofendessem, caso não fossem. – Pode-se dizer que sim. – resmungou Bash, descontente. – Também somos uma espécie de família – June disse com a atenção totalmente focada no pão que comia, seu tom era irritado e isso era expressado em seu rosto por um franzir de cenho. – Todos nós temos uma ligação com Vince – explicou Sam, fazendo um movimento de mão, indicando todos ao seu redor – O que nos faz poder entrar e sair do castelo quando queremos, sem a permissão dele. – O garoto fantasma a olhou de forma significativa. Talvez porque Eleanore não tinha uma ligação com Vince e mesmo assim conseguiu entrar. E que tipo de ligação seria essa? Amor, talvez? Eleanore tentou entender o que aquilo exatamente significava, sem que tivesse que fazer mais perguntas. Perguntas costumavam irritar as pessoas, sobretudo seu pai. – Vince não vi gostar! – Uma voz esganiçada falou atrás de Eleanore. Ela se sobressaltou e se virou, encontrando um corvo empoleirado no porta panelas. – Calado, corvo! – todos, exceto Eleanore, gritaram em uníssono, inclusive Amber. Aquilo fez com que Eleanore se lembrar de algo repentinamente. – Quando o Mestre de vocês vai chegar? June e Sam trocaram um olhar cúmplice, o que novamente fez com que Eleanore tivesse um m*l pressentimento. – Ele já chegou – foi Sam quem respondeu – Antes de você acordar. Ela quase engasgou com o leite. – Mas está dormindo. – June se apressou em dizer – E eu, se fosse você, não iria acorda-lo agora. Vince fica de m*l humor quando é acordado. – Ele também fica de m*l humor por vários outros motivos. – acrescentou Bash. – Você é um deles – murmurou Sam, olhando para o gato Sebastian. – Entendi. E o que eu faço até ele acordar? – ela perguntou, inquieta. – Por não ajuda June a colher ervas no jardim? – sugeriu Bash, entre lambidas que estava dando em sua patinha de gato. June lançou à ele um olhar raivoso. Eleanore tinha a leve sensação de que June não gostava dela. Embora tivesse visto a irritação no rosto dela, Eleanore tinha ido ajudá-la a colher as ervas. Verdade que tudo o que fizera fora ficar agachada perto de June, segurando uma cesta, enquanto June arrancava e separava as ervas. June a explicou, com um tom irritado, o que cada e**a fazia e para que era usada. Ela disse que as usava para fazer poções e que, uma delas, foi usada para curar a perna de Eleanore. Ela ficou realmente fascinada com as habilidade de June, queria ter esse tipo de conhecimento e não apenas saber como se portar e como ser adorável. Por alguma razão, June parecia ter raiva de Eleanore e não gostava da presença dela naquele castelo, embora Eleanore não soubesse dizer o porquê. Talvez ela realmente não devesse ter entrado naquele lugar e provavelmente o Mestre deles a expulsaria, assim que a visse. Ela ficou surpresa em perceber que não queria ir embora. Tinha ficado apenas um dia naquele castelo, mas tinha certeza de que jamais veria um lugar como aquele novamente. Nunca tinha pensando que algo como magia pudesse existir, mas, agora que sabia de sua existência, estava avida para saber mais sobre tudo aquilo, embora ainda a amedrontasse um pouco. Ela não queria voltar para sua realidade deveras comum e infeliz. O sol já estava se pondo quando June terminou com as ervas. Ela foi em direção a uma escada espiralada, que ficava na outra extremidade do corredor, onde estava o quarto de Eleanore. Ela fez menção de seguir June, mas a garota a impediu, dizendo para que Eleanore esperasse em seu quarto para o jantar. Ela ficou ligeiramente desapontada, queria saber o que tinha lá em cima e o que como June fazia as tais poções. O jantar foi quase tão caótico quanto o café da manhã. Foi servido um grande leitão, embora apenas June, Eleanore e Bash comessem. Eleanore percebeu que eles não tinham muita etiqueta à mesa, se tratavam de forma bastante informal, falando alto e quase ao mesmo tempo. E, toda vez que aquele corvo falava, todos mandavam ele se calar. Além disso, todos pareciam ter um forte laço afetivo, uma ligação, como Sam dissera. Mesmo June, que parecia ser mais indiferente. Eles eram uma família de verdade e Eleanore gostava de observar a estranha interação entre eles. Aquilo era completamente diferente dos jantares quietos de sua antiga casa, com todas as normas de etiqueta e certamente sem nenhum objeto voando por forças magicas. O tal do Mestre não aparecera para jantar, o que deixou Eleanore ainda mais inquieta. Ela chegou a perguntar se ele não chegaria a acordar aquele dia, mas todos responderam de forma vaga, o que acabou fazendo Eleanore se perguntar se ele de fato existia. Quando voltou para seu quarto, Eleanore ficou observando a floresta pela janela, esperando ver a b***a novamente, mas ela não apareceu àquela noite. Ela não sabia dizer porque exatamente queria vê-la, já que lhe daria pesadelos pelo resto da vida. Eleanore ficou andando de um lado a outro, imaginando que tipo de pessoa o tal de Vince seria e se consideraria deixa-la ficar, ao menos temporariamente, para que ela pudesse pensar em alguma solução mais definitiva para sua vida. Era estranho pensar que ela se sentiria tão bem em um castelo assombrado, cujos moradores eram uma menina emburrada, um garoto fantasma, um gato homem espírito familiar, uma elemental do fogo e um corvo falante. Como estava com insônia, Eleanore decidiu ir até a cozinha, talvez encontrasse Amber e pudesse conversar com ela, convence-la a influenciar seu Mestre a deixa-la ficar por algum tempo. Ela parecia ser a mais gentil entre todos. Assim que chegou no andar térreo, congelou. Havia alguém sentado em uma das poltronas perto das estantes de livros, mas não era ninguém que Eleanore já tivesse visto no castelo. Ele tinha um livro de capa de couro bem grosso na mão e uma vela pairava no ar bem perto de seu rosto. Ele ergueu o olhar assim que ela estagnou no lugar. Estava usando calças folgadas e camisa larga de dormir. Seu cabelo tinha um tom branco estranho, feito neve, caindo por sobre o ombro, preso em um baixo r**o-de-cavalo. Mas, apesar do tom de seu cabelo, ele estava longe de ser um homem velho, tinha um rosto jovial, não podia ser muito mais velho que ela própria. Seus olhos tinham o brilho dourado da vela e Eleanore não conseguiu definir qual era a cor deles. – Quem é você? – ela questionou, engolindo em seco, sentindo-se repentinamente apreensiva. Lentamente, ele fechou o livro e o apoiou no braço da poltrona, entrelaçando os dedos sobre seu colo. Seu olhar vasculhou Eleanore, como se pudesse ver tudo dentro dela, o que a fez se sentir absurdamente exposta e vulnerável. – Sou Vincent Maddox e essa é minha casa. A verdadeira pergunta é: quem é você?
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